Para iniciar o homenageado desse mês falaremos sobre o primeiro filme da franquia “Planeta dos Macacos” que começa com o filme homônimo de 1968 que adaptou o livro, popularizou os conceitos da trama e deu início a tudo que se seguiu depois.
Antes de qualquer coisa devemos nos ater ao fato de que esse é um filme fora de época e é preciso levar certos detalhes em consideração ao assistir.
Na trama o astronauta George Taylor (Charlton Heston) sofre um acidente e cai com sua nave em um misterioso planeta habitado por macacos inteligentes que escravizam seres humanos. Agora ele precisará lutar por sua liberdade nessa realidade caótica.
O roteiro de Michael Wilson e Rod Serling (também conhecido como o criador da série ‘Além da Imaginação’ de 1959) é bem desenvolvido ao adaptar o livro de Pierre Boulle que narra aqui a aventura do astronauta perdido nesse mundo inóspito de macacos evoluídos e inteligentes, e possui boa fluidez em seu primeiro e segundo ato. O problema está apenas no terceiro ato que é onde se perde e se torna cansativo e maçante, um problema que poderia ser resolvido o deixando com 10 minutos ou 15 minutos a menos o que o tornaria mais dinâmico.
Durante a trama são desenvolvidos certos conceitos sobre essa cultura “símia” dos macacos, sobre como eles funcionam em sociedade, e há ainda questões científicas como a teoria da evolução e viagem no tempo que são explicadas de forma prática e simples sem muita demora, mas o grande charme do script está nas críticas sociológicas e teológicas que faz aos seres humanos, através do uso da sociedade dos símios, o filme está analisando certos comportamentos de uma forma inteligente e bem curiosa e faz isso de maneira que não se desvie da história do astronauta que faz de tudo para escapar desse pesadelo.
A direção de fotografia de Leon Shamroy nesse clássico de 68 usa tons de cores quentes, amarelas e ensolaradas para se criar todo o visual desse mundo pós apocalítico onde se decorre a trama em grande contraste com o interior da nave de Taylor, luminosa e branca, que impõe um tom científico de um mundo avançado, enquanto que no mundo dos macacos temos a ideia de termos regressão temporal, um conceito bem apresentado pela fotografia e que foi depois muito copiado por diversos filmes do gênero, entretanto os movimentos e estilos de enquadramento são confusos e não dão o ritmo adequado em cenas de ação, mas funcionam em planos fechados e no direcionamento de diálogos em planos conjuntos das interações dos vários personagens.
A direção de arte de Wah Chang e Greg C. Jensen é outro grande destaque do filme, afinal como um bom sci-fi, muito desse mundo apresentando se valida pela construção do ambiente, da maquiagem e dos efeitos. Aqui temos cenários elaborados em estruturas cavernosas e desérticas, mas com resquícios de humanidade em pequenos detalhes. Fora isso ainda vemos uma construção de maquiagem e pele para os macacos inteligentes muito reais e bem-feitas para sua época, onde realçam as características animais e dão um certo espaço nas fantasias para olhares e movimentos sem que se perceba que são homens e mulheres fantasiados.
Falemos agora do elenco com Charlton Heston, Linda Harrison, Roddy McDowall, Kim Hunter, Maurice Evans, entre vários outros.
Pois bem, os que mais se sobressaem são Charlton Heston como o astronauta George Taylor com seu clássico herói carismático e forte que passa por vários desafios, Kim Hunter como a compreensiva e inteligente Zira cuja relação com Taylor move a trama, além é claro do divertido e engraçado Cornelius, interpretado por outro astro de ação, Roddy McDowall e do conversador e antipático “vilão” Dr. Zaius, vivido por Maurice Evans.
As interações antagônicas entre Heston, Hunter, Dowall e Evans entretêm ao exporem vários debates sobre a sociedade em tons críticos, discretos e interessantes, e muito disso se deve a boa química entre eles com momentos engraçados e de grande tensão entre os personagens.
E não podemos concluir a análise sem dizer algumas considerações a respeito da direção de Franklin J. Schaffner que coordena bem a história e principalmente seus personagens, em suas relações conflitantes que movem o filme com ideologias de ciência e fé sendo contestadas e destrinchadas no decorrer do longa com uma boa estética pós-apocalítica que definiu um gênero que seria muito copiado e usado de base em diversos filmes e séries que viriam a ser produzidos por anos e anos depois, entretanto Franklin poderia ter tido mais cuidado nas sequências de ação, que não empolgam e são cansativas, além de seu terceiro ato, que como dito acima, poderia ser mais rápido e melhor resolvido.
Podemos concluir que “Planeta dos Macacos” entra para a história do cinema por ter redefinido o gênero de ficção científica em uma obra recheada de variados debates de fé e ciência que questionam diversos atos de nossa humanidade, tudo isso inserido em um filme que não só possui sua própria mitologia como também personagens carismáticos e interessantes, provocando assim o nascimento de toda uma franquia que continua sendo até hoje, um dos maiores e mais influentes filmes dentro da história do cinema.