“Power Rangers” para muitas pessoas é muito mais que uma série, com suas variadas versões e inúmeros episódios a série gerou uma legião de fãs de todas as idades por todo o mundo. Logicamente que devido à isso muitos tiveram um certo receio em relação a produção da Lionsgate que adapta a primeira formação dos heróis para o cinema com uma nova visão e novo elenco. Mas é seguro dizer agora que nossos medos e anseios se foram logo após o prólogo que dá início a trama do filme, pois fomos honrados com uma história que incorpora tons de drama, ação e humor sobre a realidade de um grupo de adolescentes desajustados, estabelecendo assim todo o universo mitológico da série para uma franquia auto sustentável.
A história fala sobre cinco jovens adolescentes que precisam mostrar seu valor e suas recém descobertas habilidades para salvar a cidade de Alameda dos Anjos e o mundo de uma possível destruição por um ataque alienígena.
No decorrer do roteiro são construídos personagens que representam a juventude dos dias modernos e isso é muito bem estruturado dentro dos arcos dramáticos, em paralelo a isso a vilã articula planos para destruir a cidade de Alameda dos Anjos em uma sub-trama claramente inspirada na montagem que os episódios possuíam. O universo da franquia é estabelecido aqui com muita calma focando nos heróis se entendendo como pessoas e aprendendo a superar seus problemas, descobrindo a amizade e a força de sua união, reforçando as mensagens sobre valores humanos do material de origem, além de trazer boas e pontuais homenagens ao clássico. No entanto existem alguns pequenos deslizes que devem ser comentados, o arco final poderia ter tido um clímax mais duradouro visto o longo treinamento que tiveram no decorrer do filme, além das subtramas de alguns personagens que poderiam ter sido mais aprofundadas.
Boa parte da produção se apoia no visual, por isso sua direção de fotografia é tão importante e mesmo que não traga nada de inovador e original consegue acertar em vários pontos. O uso da câmera está ótimo com seus movimentos e enquadramentos diferenciados, sabendo manter o essencial para construção de cenas de ação, além de também trabalhar com maestria uma câmera muito pessoal nos dramas humanos dos heróis, no entanto é no controle de cores e luzes que o filme ganha muito, pois consegue se adequar ao estilo da proposta que caminha por dois mundos com grande contraste entre eles, um deles dotado de um tom dramático e realista com nuances de ficção científica e o outro é repleto de cores vivas e fortes, bom humor e um clima despretensioso de aventura.
Tudo isso auxilia de forma essencial o seus efeitos especiais, onde vemos que “Power Rangers” teve um orçamento um tanto reduzido, todavia há uma técnica admirável no design que solucionaram para a história, dando muita vida a produção da Saban, só deixando um pouco a desejar na formação de seu Megazord que não é tão elaborado quanto as armaduras e os Zords.
Outra área que atende as expectativas é na direção de arte que estabelece bons cenários atendendo ao que se espera, seja nas casas características dos personagens, como nos ambientes futuristas dos Rangers. O figurino segue pelo mesmo caminho sabendo como diferenciar os personagens e transparecer muito de seu psicológico em suas roupas trazendo personalidade aos heróis, fora isso temos os designs incríveis de suas armaduras que apresentam cada uma um estilo totalmente diferente da outra, uma boa sacada da adaptação para dar presença a cada um dos Rangers.
É notável que se necessita muito da performance de seu elenco para que se funcione todos os outros elementos. Dacre Montgomery é o que mais se destaca ao interpretar Jason Lee Scott, jovem irresponsável que tinha grande futuro e agora vive remoendo erros do passado e agora deverá aprender a ser o líder do grupo, RJ Cyler é um dos mais divertidos ao encarnar Billy Cranston, garoto autista e inteligente que vive cheio de lembranças de seu falecido pai, já Becky G vive Trini Kwan, garota incompreendida pelos pais e dotada de personalidade forte, Naomi Scott faz Kimberly e Ludi Lin é Zack Taylor, ambos tem seus arcos dramáticos um tanto prejudicadas pelo roteiro apesar de trazerem carisma em cada uma de suas cenas.
Bryan Cranston, Bill Hader e Elizabeth Banks estão ali como elenco de apoio, com Cranston sendo rígido e imponente com seu Zordon que se mostra até um tanto perturbado pelas batalhas com Rita, enquanto Banks entrega uma atuação divertidíssima como a vilã Rita Repulsa trazendo uma ótima mistura de estilos, caminhando entre o ameaçador e o cômico, já Bill Hader dubla uma versão moderna e engraçada do robô Alpha. As interações entre o elenco são excepcionais com boa química entre o grupo, principalmente ao trabalhar a amizade de Jason e Billy e as relações complexas e conturbadas tanto de Jason com Zordon como de Rita com os Rangers.
Temos também uma mente nova por trás da direção, Dean Israelite que antes havia feito “Projeto Almanaque” (2015) assume o papel de diretor com uma mão de autor que transparece forte tanto em ação como em drama ao coordenar de ótima maneira o equilíbrio de vários tons diferentes no filme, tornando o live-action uma inusitada mistura de “Poder Sem Limites”, “Clube dos Cinco” e do gênero Super Sentai, tudo com muita diversão e intensidade dramática de alto nível.
Podemos concluir que “Power Rangers”, mesmo com alguns ligeiros problemas que enfrenta, ainda alcança todo o potencial esperado em sua releitura, expandindo a franquia e estabelecendo seus personagens de maneira coesa, divertida e extremamente empolgante. A produção brinca com a nostalgia e aponta para um grande futuro para a Lionsgate, Saban e toda a equipe envolvida nessa adaptação, é chegada a hora da era dos “Rangers” se iniciar no cinema. E lembrem-se de ficarem até o final dos créditos, pois há uma grande surpresa para os fãs da série.