Crítica: Sherlock – 4ª Temporada

“Quando tudo mais falhar, existem dois homens sentados discutindo num flat bagunçado. Como se sempre estiveram ali e sempre estarão.”

“Sherlock”, uma das melhores e mais populares séries britânicas da atualidade, chegou à sua quarta temporada no catálogo da Netflix, e agora viemos dar nossas impressões sobre essa aguardada sequência da série de Mark Gatiss e Steven Moffat que reinventa, atualiza e em diversos momentos adiciona elementos novos aos casos de Sherlock Holmes, sempre bebendo muito nos livros de Arthur Conan Doyle e sua narrativa intrigante.

Vamos a um breve resumo sobre a série. Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch) é um detetive que resolve crimes e mistérios em uma Londres contemporânea ao lado do médico que voltou da guerra, John Watson (Martin Freeman), sempre auxiliando o Inspetor Lestrade (Rupert Graves) e a Scotland Yard. Com o tempo, Watson documenta as histórias de Holmes em um blog o que o torna mais famoso e sendo requisito para casos cada vez maiores com envolvimento até mesmo do governo, e ao longo da trama precisa lidar também com o rival Jim Moriarty (Andrew Scott).

Com Moriarty derrotado, Watson casado e com as diferenças resolvidas com Mary Morstan (Amanda Abbington) e Sherlock sendo perdoado de seus crimes, espera-se que tudo volte à normalidade do grupo. Entretanto mais segredos do passado de Mary jogarão Watson e Holmes em uma jornada trágica, sombria e emocional que os fará confrontar seus demônios e seus maiores desafios.

O roteiro do quarto ano se divide em três pontos que podemos denominar como:
Queda, renascimento e epifania catártica.

Pois bem, ao longo dos três episódios vemos a queda dos personagens em uma trama que leva eles aos seus mais profundos limites mentais e emocionais em um tom ainda mais sombrio que a temporada anterior, aproveitando tudo que foi construído até esse momento com Moriarty, Watson, Sherlock e Mycroft (Mark Gatiss) fazendo desse um ano intenso e dramático, tornando essa uma das melhores de toda a série.

No primeiro episódio mais e mais mistérios surgem a respeito da vida antiga de Mary (Amanda Abbington), e isso fará com que a parceria de Sherlock e Watson seja colocada à prova, assim como o amor entre Watson e Mary, revelando até mesmo outras facetas de John.

Já no segundo, que pode ser considerado o melhor da temporada, após uma tragédia Sherlock mergulha em um colapso movido por perturbações profundas que colocam ele contra seu amigo Watson, ao mesmo tempo em que um serial killer executa com cuidado seus passos em um grande jogo.

E chegamos ao terceiro e impactante final, no qual vemos a trama construída desde o terceiro ano da série. É aqui que tudo se transforma apoiado em fortes diálogos, vemos Sherlock, Mycroft e Watson chegarem aos seus extremos quando precisam enfrentar seu maior inimigo e desvendar antigas memórias e traumas de Sherlock e segredos de família de Mycroft. Um final épico de temporada que poderia muito bem ser o final da série, apesar de sentir que ainda há muito mais a explorar nos protagonistas.

Um ótimo script para “Sherlock”, ainda que mostre alguns furos entre o segundo e terceiro capítulo nós temos um desenvolvimento profundo dos personagens, uma trama intricada dramática e antagonistas admiráveis que a série merece em seu panteão e teve até algumas surpresas para fãs antigos.

Agora falaremos de seus outros âmbitos que também não ficam atrás, primeiro sobre sua direção de fotografia requintada, sombria, de tons azuis e bons usos de sépia sempre trazendo movimentos, ângulos e inventividade nos planos dignos de produções cinematográficas, além dos famosos artifícios de edição cheios de estilo e assinatura com cenas acelerando e também entrando em câmera lenta. A técnica aqui é realmente admirável e parece ter crescido a cada temporada nova com o passar dos anos.

Dito isso devemos comentar sobre o elenco, e que belo casting essa série tem:
Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Andrew Scott, Rupert Graves, Mark Gatiss, Louise Brealey, Una Stubbs, Amanda Abbington e com as incríveis adições de Toby Jones e Sian Brooke.

Essa foi com certeza a temporada de Cumberbatch, Freeman e Gatiss, ambos os três estão impecáveis no trabalho que entregam ao público. Aqui vemos mais facetas de Sherlock e Watson serem entregues por Benedict e Martin que são capazes de nos emocionar e nos fazer chorar, já Gatiss possui a mesma grande presença mas não com tanto destaque como os outros, porém seus diálogos são simplesmente formidáveis na voz e postura de Mark como Mycroft e claro Amanda Abbington como Mary, cuja história é de total importância para todos os arcos do ano, e o trabalho breve que ela entrega é muito apaixonante e carismático. Devemos também falar sobre seus grandes antagonistas vividos por Toby Jones como Culverton Smith e Sian Brooke como uma enigmática vilã, papel que não poderei dizer muito por entregar grandes spoilers para os que não viram a temporada, e não podemos esquecer dos sempre divertidos Rupert Graves como Inspetor Lestrade e Una Stubbs como Sra. Hudson rendendo muitas risadas como alívios cômicos da série.

Mas e a direção de Arte? Então, mais uma vez ela cumpre o papel de manter a mesma estética de outros anos, diferente da fotografia que traz avanços, não há o que dizer sobre sua arte, que apesar de entregar mais cenários diferenciados como prisões fechadas minimalistas e alguns ambientes fora do domínio inglês, a elaboração de figurinos se mantém no mesmo estilo já consagrado, portanto não muito diferente do que já conhecemos.

E chegamos a direção, feita aqui pelos diretores Nick Hurran, Rachel Talalay e Benjamin Caron que estão muito competentes em direcionar as atuações e as tramas dos episódios desde os mais insanos e frenéticos até os mais comuns e calmos, trazendo assim toda a energia e potencial dos personagens e da temporada em uma incrível narrativa.

Com sua quarta temporada, a série se consolida mais uma vez como uma das melhores do ano de seu lançamento, mergulhando nas relações entre os protagonistas, adicionando camadas ao passado, intensificando a jornada com tons sombrios e dramáticos, e ainda com uma história conspiratória que só poderia sair das mentes de Mark Gatiss e Steven Moffat. E por mais que traga um ar de conclusão e evolução ao final do último episódio, seria um grande desperdício parar agora, sendo que poderiam contar muito mais com esses carismáticos e profundos personagens de Sherlock, Watson entre vários outros.

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
10
Atuações
10
Direção de Fotografia
9
Direção de Arte
8
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.