Joe Berlinger dissecou a história de Theodore Robert Bundy, o diretor encabeçou dois projetos a começar pela série documental da Netflix “Conversando com um serial killer: Ted Bundy”, que estreou em janeiro, o documentário de quatro episódios gerou muitos comentários nas redes sociais, e ele buscava relatar de ordem cronológica um pouco sobre a história de Ted o que não é muito agradável de se ver, pois para quem não sabe ele cometeu assassinatos – 30 mulheres identificadas em diferentes estados dos EUA, entre 1974 e 1978, número que, estima-se, pode chegar a uma centena e, além de ser um assassino, era sequestrador, estuprador, ladrão e necrófilo.

Ao tornar um recorte dessa história filme, é de suma importância saber que a narrativa de seus numerosos e terríveis crimes é contada pelos olhos de Elizabeth Kloepfer (Lily Collins) que conhece Ted Bundy (Zac Efron) em um bar e dão início a um relacionamento, ele é um estudante de direito, charmoso e cheio de carisma na sua fala e no seu sorriso. Ela é secretária, mãe solteira e se sente completamente acolhida ao lado dele, eis que eles começam um relacionamento.

Crítica: Ted Bundy - A irresistível face do mal

A partir do livro The phantom prince: my life with Ted Bundy (O príncipe fantasma: minha vida com Ted Bundy) escrita por Kloepfer é elaborado o roteiro de Michael Werwie que foca na história de amor vivida por um dos homens mais emblemáticos e cruéis de todos os tempos. O filme começa introduzindo os dois personagens principais Ted (Efron) e Liz (Collins) vivendo o começo de um relacionamento. Ambos elevam o material por suas atuações, Efron consegue emitir o Ted com todos os seus trejeitos, olhar, voz e o mais importante ele capta a essência do serial Killer (se é que podemos dizer que ele tem alguma essência humana). A Lily está segura na pele de Liz e desenvolve um bom trabalho ao expressar a sensação de tristeza e apreensão constante de sua personagem.

No segundo ato, o filme começa a apresentar a verdadeira face de Bundy, mas não espere bisbilhotar os seus crimes, pois os fatos vão se emendando paralelamente na história do casal como se nós expectadores estivéssemos na pele de Liz. Surge a primeira prisão e ele aguarda o julgamento em liberdade e a esperança é mantida por ela que eles construam uma família e após a primeira condenação, vão se seguindo uma condenação após a outra intercalando com as fugas e a fala persistente de Bundy de que era inocente que não a permitia que ela vivesse sua vida tentando se manter presente de alguma forma como um verdadeiro fantasma.

A fotografia da produção funciona como um grande complemento da narrativa, através de uma estética que lembra filmes dos anos 60 também alterna entre um clima sóbrio com sombras e em outros momentos aposta em trazer iluminação para transmitir uma certa esperança em relações às acusações de Ted Bundy diante da percepção de Liz.

Há ainda um certo aspecto do filme que foi devidamente construído e auxiliou a direcionar o tom e o ritmo da trama, a sua trilha sonora que ao contrário da maioria das produções que se passam nessa época, usando de gêneros como folk, pop e hard rock, aqui optou-se por escolher músicas que representam passagens do longa-metragem e fugiu de escolhas óbvias da maioria dos filmes que sempre acabam soando mais como uma “playlist de músicas” do que com uma trilha coerente com a história.

No terceiro momento somos embargados por julgamentos, temos boa parte ambientado no circo midiático em torno do caso, com o seu julgamento, em 1979, sendo um dos primeiros a serem transmitidos ao vivo pela televisão no país, e essa construção é trazida no filme.

Talvez este filme não seja o que o espectador possa esperar porque ele não vai conversar com o Ted estaremos do lado do Liz e isso pode dividir opiniões, mas pende para o lado de ser uma escolha mais assertiva e vou contar a vocês o motivo, após fazer um documentário sobre Bundy o diretor precisava da visão de alguém que o conhecesse bem ou achasse que o conhecia para que ele pudesse dar sua fala, não para mostrar que ele é bom ou que ele é ruim, e sim para contar a sua versão e sua vivência com ele porque jamais teremos deliberação do que levou Ted a cometer esses crimes. Afinal, ele era ruim? Estava possuído? Tinha alguma doença mental? E ele sempre deixou claro a sua inocência até porque ele só assumiu o crime por interesse próprio, no entanto ele não parecia se incomodar com as ações que executou ao longo da sua vida. Não se sabe ao certo quantas pessoas foram mortas e nem o que de fato ele viveu porque dos muitos relatos ouvidos cada pessoa tem uma percepção diferente sobre ele, e o olhar de Liz é uma mulher que se apaixonou, que sofreu, que acreditou, que confiou, que poderia ter sido vítima, que a poderia ter tido a sua filha como vítima, mas que não hesitou em telefonar para polícia quando suspeitou de ele poderia estar envolvido nos crimes mostrando que teve uma importância primordial nessa história por isso merece ter a sua história contada.


Trailer: