Em “The Post: A Guerra Secreta”, os editores do jornal The Washington Post, recebem documentos secretos do governo estadunidense expondo o verdadeiro papel do país na Guerra do Vietnã. Enfrentando o Pentágono e a concorrência, New York Times e o The Post, mostram todas as camadas da impressa investigando esse escândalo de corrupção.
Não dizer que o filme tem o seu primor, seria me ocultar da minha paixão por jornalismo, e de certa forma, pelos bons moldes de se fazer cinema como é feito por Steven Spielberg aqui, mas o que incomoda são as fórmulas prontas, a lembrança tão recente de “Spotlight: Segredos Revelados” (2015), e o fato de que em “The Post” o texto de Liz Hannah parece uma tentativa desesperada de querer angariar o Oscar.
O filme desvenda muito bem os questionamentos que rondam a mídia como: Até onde a imprensa tem o papel de divulgar? Que tipo de material os editores do jornal podem publicar? E toda a corrida dos jornais para terem em mãos o material exclusivo, feito que não acontece mais com tanto fervor, já que muitos hoje, mesmo sem serem jornalistas, conseguem transmitir as notícias por suas mídias sociais. O longa também expõe o papel da impressa com o público e a influência que os vínculos de comunicação possuem.
Ambientado na década de 70, com uma história mais conhecida por quem realmente atua na área ou tem paixão por comunicação, o filme pode proporcionar surpresas para o público em geral, e é claro que receber um material que pode incriminar alguém e mostrar a verdade ao povo foi um ato que marcou a história do jornalismo, ainda mais quando se tem dois veículos de comunicação tão importante envolvidos. O longa apresenta uma sequência interessante com o começo um pouco lento, o que te mantém preso a tela é a atuação de Meryl Streep, que de fato é uma rainha, como muitos dizem. Ela usa figurinos deslumbrantes como a editora do jornal, e sabe como ninguém prender o expectador com as suas particularidades, olhares e trejeitos.
Já Tom Hanks é um ator muito talentoso, mas aqui ele criou um sotaque horroroso para o seu personagem que chega a incomodar. Apesar de Sarah Paulson ser uma atriz incrível, nessa história ela é mal aproveitada, servindo apenas como a esposa de Hanks. Bob Odenkirk, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Alison Brie, Carrie Coon e Jesse Plemon também compõem o elenco e apesar de poucas passagens, são essenciais para a história.
Ao longo da produção, a direção de fotografia se mostra um dos maiores destaques do filme, usando e abusando de diversos movimentos e ângulos diferenciados, seja nos vários planos-sequências ou distanciando e afastando a lente da câmera por quase todo o filme, um artificio que nos faz mergulhar aos poucos na jornada de seus personagens, assim como também traz cenas em que é mostrado o rosto do ator no reflexo de um telefone de rua, captando a tensão do momento com muita originalidade. Contudo as cores e iluminações não apresentam muita novidade em relação ao gênero de thriller investigativo e longas dessa época, usando tons neutros de cores, sombras e uma forte luz dentro do ambiente do jornal, é bem eficiente para sua proposta, mas não traz ousadia nesse aspecto.
A arte também é responsável por grande charme do longa de Spielberg, em filmes como: “Lincoln” e “Ponte dos Espiões”, existe um certo cuidado com seu contexto histórico, pois aqui recria-se muito bem figurinos, objetos de cenas e automóveis dos anos 70, mas também sabe se adequar aos convívios sociais dos personagens, seja dentro da Bolsa de Valores, no The Washington Post ou no breve cenário mostrado da Guerra do Vietnã, trabalhando e equilibrando tais elementos em uma estética caprichada.
Nessa história sentimos orgulho do papel do jornalista da época retratada, em um momento de união da imprensa em pro da liberdade de expressão, além de representar uma mulher no poder muito bem, com Meryl Streep exalando o seu poder no meio de tantos homens, injetando uma dose sutil de feminismo e empoderamento. “The Post” é um filme que quase não tinha como dar errado, mas falha por sua falta de originalidade.