Titãs é baseada nos personagens do famoso grupo de “sidekicks” dos heróis principais do Universo DC e busca estabelecer um novo tom de narrativa que vai na direção oposta do “Arrowverse” e do mundo realista dos vigilantes urbanos Luke Cage e Justiceiro, quase buscando um tom intermediário entre o sombrio e o bem-humorado.
Na história acompanhamos Dick Grayson (Brenton Thwaites) e Rachel Roth (Teagan Croft), uma jovem garota especial possuída por uma estranha escuridão que a leva até o meio de uma conspiração que pode trazer o Inferno para a Terra. Eles se juntam à cabeça-quente, Estelar e ao amável Mutano, e juntos tornam-se uma família de heróis poderosos.
A temporada segue focada em Rachel e Dick e vai nos mostrando cada vez mais sobre a história de ambos, revelando cada vez mais as nuances e camadas de seus personagens que se transformam no decorrer da trama e ao poucos vão tomando a forma das versões clássicas de Robin/Asa Noturna e Ravena. Paralelo à isso existe ainda jornada pessoal de Kory/Estelar que busca informações sobre o seu passado e o seus misteriosos poderes e os diversos confrontos com a Família Nuclear juntamente da introdução de um grandioso vilão que deve agradar os fãs de longa data das HQs de Titãs.
Um dos pontos fortes da série está no fato que o roteiro não perde tempo em nos mostrar como funciona esse mundo da DC e nos joga direto em uma dramática e sombria trama sobre aceitação e parceria entre os personagens e aos poucos coloca cada um dos heróis para se confrontar com seus demônios internos e dores que carregam diariamente em suas vidas, tudo isso ocorrendo em um Universo DC que está plenamente estabelecido com figuras marcantes como Batman e Mulher-Maravilha já sendo citados como grandes referências entre os super-heróis desse mundo.
Contudo, apesar dos roteiristas criarem grandes episódios como “Donna Troy” e “Hank e Dawn” que apresentam total controle de uma narrativa profunda, ainda há certos pontos negativos na construção e ritmo da temporada que fazem e na forma como os arcos de Mutano e Estelar são deixados de lado para que se foque cada vez mais em Dick Grayson e Rachel.
Além disso o roteiro dedica episódios para apresentação da Patrulha do Destino e Donna Troy que são ótimos, mas que acabam desviando um pouco a atenção da trama principal e poderiam ter sido feitos de forma mais equilibradas, mantendo o foco da série.
Anna Diop é o grande destaque, ela trabalha na produção como Kory Anders/Estelar e faz uma bela atuação sendo divertida, empoderada e esbanjando carisma sempre que aparece em cena fazendo com que o público queira ver cada vez mais e mais da personagem. O mesmo podemos falar sobre Brenton Thwaites como Dick Grayson, Thwaites soube como desenvolver cada um dos medos e seus problemas psicológicos, algumas vezes através de ações e em outros momentos internalizando muito bem cada uma das emoções conflitantes do herói que vive frequentemente atormentado pela morte dos pais e pela vida agitada e conturbada que teve ao lado de Bruce Wayne, mostrando em mínimos detalhes a sua jornada para se desvincular do nome de Robin e aos poucos assumir sua independência como um novo super-herói.
Falando sobre as questões técnicas, a direção de fotografia da produção explora um tom diferente do “Arrowverse” e dos filmes da DC, aqui vemos um uso controlado da iluminação e um predomínio de sombras e contraste acompanhado de cores como azul e cinza, entretanto equilibra esse visual dramático com elementos coloridos e vibrantes dos cabelos, poderes e uniformes dos heróis.
Outro ponto que vale ser destacado é a direção de arte que criou conceitos ótimos para o visual de cada um dos personagens e souberam dar uma certa credibilidade e respeito para cada um deles e seus respectivos uniformes, mantendo a estética dos quadrinhos mas dando um tom mais realista e visceral para os heróis.
A direção soube conduzir bem o desenvolvimento de Robin, Ravena, Estelar e Mutano e trabalha intercalando de forma dinâmica drama com ação e pequenas doses de humor, há até alguns momentos em que o direcionamento seguro e focado consegue nos fazer esquecer de alguns deslizes do roteiro geral da temporada e seus acontecimentos.
“Titãs” foi criticada injustamente antes mesmo de ter estreado, mas acompanhando a série é perceptível que a série mesmo tendo seus deslizes, ela traz uma nova visão e formato para construção de adaptações de quadrinhos na TV e deve acabar se tornando um divisor de águas para as próximas produções originais do DC Universe.