É um fato que as bilheterias de 2016 foram dominadas por filmes que abordam a relação mãe e filho em suas mais diversas estâncias como em: “Sete Minutos Depois da Meia-noite”, “Belos Sonhos” e “Julieta”. Agora foi a vez do alemão “Toni Erdmann”, que diferente desses outros citados, a trama aqui é focada na relação paterna que por sinal é tão bem desenvolvida que rendeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, sendo até o momento um dos favoritos para levar o prêmio.
Toni Erdmann é um alter-ego adotado por Winfried (Peter Simonischek) a fim de ter mais chances de se aproximar de sua filha Ines (Sandra Hüller), que mora em outra cidade e vive uma vida totalmente centrada em seu trabalho sem permitir qualquer distração que a distancie de seus objetivos. O retorno de seu pai, agora como Toni bate de frente com a sua rotina de trabalho causando constrangimento e expondo os seus sentimentos mais reprimidos.
Ao julgar pelo título a de se pensar que o filme se dedique em contar a história pelo ponto de vista do pai, mas isso é invertido logo no inicio quando percebemos que apesar da relação paterna ser um dos focos aqui, a crítica trazida pelo texto vai além ao nos apresentar uma jovem ambiciosa que leva uma vida pacata reprimindo seus desejos com intuito de agradar as pessoas necessárias em sua carreira. Basicamente tudo que acontece no terceiro ato expõe e intensifica essa mensagem colocando Ines em seu limite, fazendo com que ela rompa seus próprios paradigmas e se jogue nos prazeres da vida com os mais diversos requintes naturalistas.
Ainda que com uma mensagem fortíssima sobre a perenidade da vida e uma bela relação pai e filha, o roteiro acaba pecando em sua extensão rendendo cerca de quase 3 horas de duração com diversos momentos pouco relevantes que apenas retiram a atenção do público e tornam o produto cansativo.
O elenco é um apêndice poderoso nessa obra, com destaque total a Sandra Hüller que da vida a Ines com uma performance delicada e sutil, mas que consegue carregar consigo toda a carga emocional de tensão e cobrança que a personagem vive em seu ambiente de trabalho, que por sinal também invade sua vida pessoal. Peter Simonischek interpreta Winfried e Toni, no entanto não chega a surpreender, trazendo um trabalho contido que consegue render bons momentos.
A fotografia do filme é bem conservadora em seus planos e movimentos de câmera e não traz nenhum charme autêntico ao longa, entregando o minimo necessário sem qualquer respingo de ousadia.
A direção de arte apesar de não estabelecer uma estética tão marcante, ainda consegue construir cenas embaraçosas usando e abusando do contraste entre os cenários e os figurinos, principalmente se tratando dos trajes pouco convenientes usados por Toni em festas e eventos extremamente sociais e corporativos.
A diretora Maren Ade que também é responsável pelo roteiro, consegue desenvolver bem o clima conflituoso entre Ines e seu pai, assim como a relação desconfortável que ela tem com os funcionários da empresa e seus possíveis investidores. A mensagem crítica e atual do longa também consegue ser eficiente e bem apresentada, o problema apenas continua sendo os resquícios do roteiro enrolado que não consegue ser polido pela direção, mantendo a trama com diversas oscilações de ritmo.
Toni Erdmann é um filme delicado, com personagens autênticos vivendo em um dilema extremamente contemporâneo. O longa se destaca pela mensagem e seu elenco, mas não chega a ser um dos melhores filmes do ano anterior.