Depois do belíssimo Corra!, que ganhou o Oscar de melhor roteiro original e do blockbuster espetacular, IT – A Coisa, chega aos cinemas Um Lugar Silencioso, filme que deve deixar a sua marca nesse ano de 2018, oferecendo mais do que uma boa história ou alguns sustos esporádicos, mas uma experiência única e envolvente.
A história apresenta uma família que vive em uma região isolada da cidade e busca sobreviver em uma espécie de cenário pós apocalíptico. O pouco que nós sabemos desde o início é que há algo terrível vivendo na floresta e a única forma de sobreviver é mantendo o silêncio absoluto, portanto até mesmo a fala precisou ser abolida da rotina dessas pessoas.
Vendido inicialmente como um mero suspense, Um Lugar Silencioso se mostra muito mais do que isso logo em seus minutos iniciais. Estamos diante de uma obra genuína do terror, a prole de um roteiro inteligente e que jamais recorre à convenções de gênero para contar a sua história.
O texto sabe trabalhar a presença de cada um dos quatro personagens de uma forma que conseguimos rapidamente compreender um pouco da personalidade contrastante de cada um. Mesmo tendo apenas 90 minutos, o filme faz com que o público se envolva com cada uma daquelas pessoas que vivem com a constante sensação do perigo iminente.
A construção do medo é o que torna esse filme tão único. John Krasinski disse ter se inspirado em filmes como “Corra!” (2017) e “A Bruxa” (2015), dois longas que também apostaram no terror psicológico, mas mais do que isso, Um Lugar Silencioso, investe na manipulação do medo. A sensação que fica é a de imersão, uma imersão controlada por um diretor inteligente e que sabe exatamente qual é a reação que ele quer tirar de nós e o momento mais oportuno para fazer isso. Portanto, cenas simples que, em outros filmes seriam um total clichê, aqui rendem diversos sustos.
O silêncio é trabalhado como um legítimo personagem dentro da história. A sua presença que percorre durante quase toda a projeção faz com que o filme seja angustiante do início ao fim. Uma vez que nos conectamos com os personagens, nós nos preocupamos com cada um deles e, qualquer som que ecoa pelo ambiente já é suficiente para nos deixar inquietos e com o coração saltitando.
O elenco é sensacional e todos se destacam, sem exceções. Emily Blunt segue colecionando trabalhos exemplares em sua carreira e aqui não é diferente. A atriz vive uma mulher que precisa proteger seus dois filhos e ainda lidar com o terceiro que está por vir. John Krasinski, além de dirigir brilhantemente, ainda atua, interpretando o marido de Blunt, um homem inteligente e que é capaz de tudo para proteger a sua família.
Os dois atores mirins que poderiam, facilmente, serem ofuscados pela dupla acima, jamais abaixam a cabeça. Noah Jupe vive o filho mais novo do casal, ele é completamente inseguro e não conseguiu digerir a situação que o cerca, possuindo traumas que parecem incuráveis e tendo diversos problemas para lidar com a sua realidade. Já a sua irmã, interpretada por Millicent Simmonds, é completamente diferente. A jovem carrega consigo o sentimento de culpa por um acontecimento anterior que abalou toda a sua família e ela acredita ser a responsável pelo feito, contudo, ela lida com isso sendo corajosa e se colocando a disposição para proteger as pessoas que ama. Como é sugerido, ambos possuem personalidades distintas, mas entregam interpretações magnificas e emocionantes.
Mais do que boas atuações, o sucesso também está na química entre esses quatro personagens. Boa parte do medo e da tensão transmitida para o público parte da forte relação entre essas pessoas que estão dispostas a tudo para proteger uns aos outros. É crível, é doloroso, é assustador.
Um Lugar Silencioso aborda o drama de uma família tentando sobreviver em um ambiente inóspito com personagens bem desenvolvidos e de fácil empatia. É o tipo de filme que proporciona uma legitima experiência sensorial de medo, ansiedade e tensão, deixando uma mistura inexplicável de sensações após a sua exibição. Uma verdadeira obra-prima do cinema.