No ano de 2012 foi lançado “Detona Ralph”, uma produção da Disney que sabia como explorar o conceito de games e existencialismo dos personagens de jogos, algo semelhante ao que foi feito com “Toy Story” pela Pixar. Agora chegou aos cinemas a continuação, “WiFi Ralph”, que deixa para trás o fliperama Litwak, e coloca Ralph e a sua companheira desajustada Vanellope von Schweetz em uma viajem pela internet em busca de uma peça sobressalente para salvar o jogo Corrida Doce.

Crítica: WiFi Ralph: Quebrando a Internet

O roteiro de Phil Johnston e Pamela Ribon tem certos problemas no início, carecendo de dinâmica e demorando para decolar com a trama, mas após 20 minutos de filme ele começa a mostrar seu charme e arremessa o público em uma corrida contra o tempo para salvar o jogo de Vanellope, ao mesmo tempo em que realça as qualidades e defeitos dos protagonistas por cada ambiente da história, fazendo referências ao YouTube, Google, Deep Web e até mesmo às inúmeras marcas e propriedades da Walt Disney que rendem alguns momentos alucinantes e engraçados.

Felizmente, no final do segundo ato e início do clímax, a produção consegue nos surpreender com um dos capítulos mais sombrios de todas as animações da Disney ao emergir em tela um conteúdo sobre insegurança, medo e discutindo sobre relações tóxicas e abusivas de uma forma inovadora, pois às vezes até mesmo o causador do problema não possui consciência do mal que pode estar causando e de como isso pode resultar em problemas enormes no futuro.

A adição de Gal Gadot foi um dos maiores destaques nessa sequência e conferiu à personagem Shank um ar despojado, independente e carismático e boa parte da carga dramática está na forma como ela constrói sua amizade com Vanellope que é personificada mais uma vez de forma brilhante por Sarah Silverman, que traz o tom irritante e divertido da personagem que a faz tão amada.

O mesmo pode ser dito de John C. Reilly imprimindo seus anseios, medos e reflexões para dar vida ao Ralph, um dos personagens mais humanos dentre todas as criações da Disney, e claro que a química com Silverman ficou ainda melhor ao trazerem profundidade e drama para a amizade dos dois personagens que agora já agem como amigos de longa data mas que possuem diferenças gritantes.

No entanto, um dos defeitos do filme está na dublagem brasileira, pois ela acaba atrapalhando o ritmo, timing de piadas e até mesmo o tom dos personagens. No roteiro existem muitos trocadilhos que não funcionam tão bem ao serem traduzidos, além do exagero na “abrasileiração” das falas e das gírias que acabam prejudicando boa parte da história.

O design de mundos e personagens da franquia continua cheio de criatividade e trouxe composições originais que se adequam ao estilo formado no filme anterior, isso pode ser dito tanto para os ambientes de jogos como “Shank” e “Corrida do Caos”, como também ao desenvolverem e criarem formas para sites como Oh My Disney e Ebay.

“WiFi Ralph” tem falhas na direção e em seu início que carece de adrenalina e ação, mas logo que ultrapassa esse estágio o longa consegue nos fazer mergulhar em sua louca aventura através da internet, nos fazendo rir das inúmeras referências e propondo reflexões necessárias sobre sonhos, relações humanas e inseguranças, além de deixar um caminho aberto e misterioso para o terceiro capítulo da franquia.


Trailer:

REVER GERAL
Roteiro
8
Direção
7
Dublagem
8
Direção de Arte
8
Direção de Fotografia
7
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.