Antes de analisar o filme Conclave, é importante entender o que esse termo realmente significa no contexto da Igreja Católica. O conclave é uma reunião secreta dos cardeais para eleger um novo papa, geralmente após a morte ou renúncia do pontífice anterior. Durante o conclave, os cardeais são isolados do mundo exterior e mantêm sigilo absoluto até que o novo papa seja escolhido. A palavra “conclave” vem do latim con clavis, que significa “com chave”, indicando a prática de trancar as portas do local onde ocorre a eleição, garantindo total confidencialidade.
O filme é ambientado em um dos eventos mais secretos e antigos do mundo: a escolha de um novo Papa,ou seja, o Conclave. Após a morte inesperada do atual pontífice, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de conduzir esse processo confidencial. Os líderes mais poderosos da Igreja Católica de todo o mundo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção, cada um com suas próprias ambições. Lawrence se vê no centro de uma conspiração, desvendando segredos que ameaçam não apenas sua fé, mas também as fundações da Igreja.
Conclave atraiu os olhos das premiações, vencendo a categoria de Melhor Roteiro, escrito por Peter Straughan. No Oscar, o filme está concorrendo em oito categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Ralph Fiennes), Melhor Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Design de Produção, Melhor Figurino e Melhor Música Original.
O roteiro de Conclave é baseado no livro de Robert Harris, publicado em 2016. A história começa a se desdobrar como um thriller político à medida que a eleição papal avança, apresentando os candidatos, cada um com suas próprias culturas e marcado por um passado cheio de mistérios. A trama é vista pelo ponto de vista de Lawrence, que passa a lidar com questões problemáticas envolvendo a conduta dos candidatos, o que torna o ritual ainda mais tenso e complicado. O filme adentra nos detalhes de cada um deles, especulando sobre a sede de poder de todos, movidos pelo desejo de conquistar o cargo de papa.
Mas o que torna o filme Conclave tão interessante? Primeiramente, a trilha sonora, de Volker Bertelmann que acompanha perfeitamente o ritmo do filme, criando uma atmosfera envolvente e intensa. Em segundo lugar, apesar de contar com um grande número de personagens, como o Cardeal Tremblay (John Lithgow), o Cardeal Goffredo (Sergio Castellitto), o Cardeal Bellini (Stanley Tucci), o Cardeal Joshua (Lucia Msamati), o Cardeal Benitez (Carlos Diez) e a Irmã Agnes (Isabella Rossellini), todos têm sua relevância na trama, mas as participações pontuais, como o de Agnes, elevam a narrativa a outro nível.
E em terceiro lugar, a maneira como a história por Peter Straughan é conduzida pelo diretor Edward Berger que consegue manter o tempo e o ritmo adequados, evitando que o público se perca em meio aos muitos detalhes sobre os rituais do Vaticano que surgem ao longo da história.
Outro ponto forte de Conclave é a sua refinada direção de arte, especialmente a fotografia de Stéphane Fontaine ressalto a maneira como ele captura as cenas, criando imagens visualmente marcantes, como a sequência em que os cardeais estão reunidos na Capela Sistina, cercados por um jogo de luzes e sombras que reforça a tensão do momento. Essa cena, com seus ângulos e contrastes, poderia facilmente ser emoldurada, tamanha sua força estética e simbólica.
Apesar do filme ter como “pano de fundo” o conclave da Igreja Católica, ele consegue se apresentar de forma intrigante, como um thriller elegante. Confesso que não é exatamente o tipo de história com o qual me conecto, mas não posso deixar de reconhecer os méritos da obra, que acerta em cheio na linguagem cinematográfica, cumprindo com excelência todos os quesitos técnicos.