“Ninguém Entra, Ninguém Sai” é uma comédia nacional que estreia no dia 4 de maio nos cinemas. A obra é livremente inspirada na crônica “O Motel” de Luis Fernando Veríssimo. No filme somos apresentados a diversos personagens dotados de personalidades distintas, mas que acabam se colidindo durante uma noite, na qual todos eles acabam presos em um luxuoso motel que está sobe alerta de quarentena.
Na última segunda (17), nosso site participou da coletiva de imprensa com parte da equipe desse longa, entre eles estavam presentes: João Côrtes, Guta Stresser, Danielle Winits, o diretor estreante Hsu Chien, Leticia Lima e Emiliano D’Ávila.
O desafio do diretor Hsu Chien foi conseguir trazer algo autêntico para o gênero, sendo que esse é o seu primeiro trabalho como diretor, o mesmo define a produção como algo “lúdico” reafirmando a mensagem positiva trazida pela trama, que segundo ele “jamais cai no vulgar”.
Leticia Lima se deparou com o seu primeiro conflito na hora de construir sua personagem, que encontra-se em um dilema extremamente atual.
“Eu vou ter que fazer uma mulher super empoderada, super mandona… Mas que quer casar… Que quer ter família, ter filhos… Mas as vezes a gente faz uma mistura com isso. Hoje em dia a gente fala muito sobre empoderamento, como se a mulher empoderada tivesse que, só ser independente, mandar em geral e na verdade a mulher empoderada pode ser o que ela quiser, inclusive se ela quiser casar, ter filhos, e ser dona de casa (coisa que eu amo inclusive), ou até ser tudo isso junto. E eu acho que consegui levar a personagem para esse caminho”, concluiu.
Emiliano D’Ávila aproveitou seu momento para enfatizar a dedicação do diretor durante as gravações:
“Como todo diretor, ele tem suas convicções do que ele quer transmitir, mas sem nunca perder de vista que o foco da cena estava no ator. A gente sempre chegava e ele escutava, e esse ambiente de escuta tanto da direção quanto da produção é extremamente importante para nós (atores)”
Você (Guta Stresser) teve sua estreia no cinema no filme “Nina”, depois ficou muitos anos trabalhando em “A Grane Família” e acabou se afastando do cinema por um período. Ao contrario do que foi falado acerca do teor lúdico do filme, seu personagem é o contrário de tudo isso. Seria esse seu recomeço na industria?
Foi um retorno sim, de certa forma. Pois no período de “A Grande Família” eu não tinha muito o que fazer, por questões de tempo mesmo. Então durante o ano passado, foi um ano em que eu me dediquei ao cinema com “Ninguém Entra, Ninguém Sai” e mais dois longas que ainda devem ser lançados esse ano, e no caso de”Ninguém Entra, Ninguém Sai”, especialmente esse personagem da Francisca tem um toque de Jack Nicholson, confesso que me inspirei em “O Iluminado”, mas o filme é uma comédia e o personagem parece desconectado do restante do longa, a trama tem seu universo alegre e a Francisca é o oposto de tudo isso. Eu trouxe também um pouco desse lado negro da Nina, mas claro que em um local totalmente diferente, afinal são personagens totalmente diferentes.
Durante o bate-papo o restante do elenco comentou que a personagem de Guta estava tão viva que em certos momentos acabou realmente assustando eles durante as gravações.
Apesar do filme ser uma comédia com diversos personagens cômicos, Francisca é uma religiosa fanática que não lida bem com os clientes do motel.
Você (Hsu Chien) comentou que o filme possui um humor fortemente inspirado nos anos 80 e que já se esmoreceu. Como fazer o público dos dias atuais reencontrar esse tipo de humor que o filme propõe?
Quando eu falei que me inspirei nessas comédias antigas, foi porque elas eram muito livres, sem essa preocupação com o politicamente correto que estamos vivendo hoje em dia, e nós como criadores sempre ficamos muito preocupados se o conteúdo pode ferir o pensamento de alguém que for assistir ao filme, então eu e as produtoras discutimos muito sobre o que ficaria legal e o que pode ser tirado para amortecer. Tiveram três filmes que eu usei como referência. Pra mim dois deles eu pedi para todo o elenco assistir, pois era fundamental que os atores entendessem o que eu queria dizer com “lúdico” e com “humanidade dos personagens”, pois a gente quer ser engraçado, mas também quer ser realista. Então eu peguei como referência, obviamente, “Um convidado bem trapalhão” com o Peter Sellers, que termina de uma forma totalmente catastrófica, e o “Um Dia de Cão” do Sidney Lumet, sendo que esses dois filmes também lidam com o tema do enclausuramento, só que de formas diferentes […] Quando eu falo dessa busca do cinema dos anos 80 é por causa dessa liberdade de falar o que eles bem entendessem, e hoje em dia nós ficamos presos nos conceitos que não podemos mais.
Você (Leticia Lima) se inspirou em alguma de suas personagens do “Porta dos Fundos” para dar vida a Suelen?
Na verdade não, para essa personagem não. O legal de fazer os trabalhos do “porta” é que são esquetes bem curtinhos e com situações bem variadas, então aqueles mini-personagens são completamente diferentes. É claro que eu tenho uma certa identidade no humor, mas eu tento não buscar inspirações em personagens que eu já fiz, ainda assim eu possuo essa identidade que acabo carregando comigo.
Você (Hsu Chien) comentou que buscou aplicar uma direção mais leve. O fato do clímax não ter se intensificado, foi proposital para não conflitar com o humor do filme?
A primeira coisa que eu, como diretor, faço antes de dirigir, é pensar em que tipo de filme eu vou fazer e uma das partes desse processo é a censura do longa, com isso quando os produtores falaram que a ideia seria atingir a família, e a censura seria 12 anos, eu já sei que temos temas que não podemos abordar, não pode ter nudez, violência, sangue… E também não justificaria em um filme como esse a gente chegar lá no desfecho e apelar para ação […] O lado mais legal da reta final é mostrar o contraste entre a Francisca e os outros personagens.