Mulher-Maravilha, o mais novo filme do universo cinematográfico da DC Comics enfim chegou aos cinemas, 75 anos após sua criação nos quadrinhos. Diana Prince está ali destruindo, encantando e impondo sua força, espírito e compaixão para todo o mundo, rendendo variados elogios do público e da crítica, além do título de melhor filme de quadrinhos do ano, o colocando no mesmo nível de Logan da Fox, ou até mesmo acima dele.
Mas não estamos aqui para falar sobre a produção em si, mas sobre a importância desse filme, não só para os fãs da personagem que aguardaram anos por isso, como também para toda a sociedade e a indústria do entretenimento.
Voltando um pouco no tempo, a personagem foi criada e comercializada em histórias da editora em 1941 como uma super-heroína poderosa, forte e bela que usava um uniforme estampando as cores dos EUA e ajudava o piloto Steve Trevor a combater nazistas, entretanto ela demorou para se tornar o sucesso que é hoje, chegou a virar secretária, perder poderes e até mesmo ser hiper sexualizada. Felizmente isso tudo passou, quando em 2011 remodelaram a personagem para alcançar o espaço de direito como um membro da trindade da DC.
Já houveram diversas adaptações em séries de TV, filmes animados, jogos e muito mais desde seu surgimento, mas o novo filme da Warner estabelece a personagem de maneira correta para os fãs e para todos que a desconhecem, e isso é ótimo porque enfim começamos a ter uma representatividade mais forte das mulheres na cultura pop, já que o cinema insistia em tornar a mulher um objeto, e quando não faziam isso, o papel feminino em filmes se resumia a ser uma escada para o desenvolvimento do personagem masculino, sendo raro os casos em que elas possuíssem seus próprios arcos e influenciassem a narrativa, demonstrando a sua própria evolução.
Agora, podem contestar e dizer, mas e Ripley da franquia Alien ou Sarah Connor de Exterminador do Futuro?
Pois bem, sem desmerecer os grandes trabalhos das atrizes em firmarem heroínas fortes e independentes, mas ainda existe o fato de que essas personagens são bastante masculinizadas em trejeitos e comportamentos, não “percebe-se” a alma feminina caminhando junto de sua força. Filmes que tiveram sucesso em representatividade ficando longe desses estereótipos, foram “Mad Max: Estrada da Fúria” e “Rogue One”, pois temos protagonistas profundas, com arcos dramáticos bem desenvolvidos e que demonstram sensibilidade, além de imporem uma figura de força e independência. Ambos são grandes filmes mas ainda faltava algo do tipo no gênero de super-heróis e é isso que o filme de Patty Jenkis, Gal Gadot e Chris Pine nos traz! A grande pergunta é, por que não foi feito antes?
Seja por vontade de executivos conservadores ou do preconceito do público, muitos tem o costume de virar o rosto para heroínas, sendo raro haver fãs de Viúva Negra ou da Feiticeira Escarlate, mesmo que tenham sido muito bem personificadas por suas atrizes, Scarlett Johansson vivendo uma personagem que parece se remodelar a cada filme não permanecendo na zona de conforto e Elizabeth Olsen como a Feiticeira que foi apresentada apenas em sub-tramas de “Os Vingadores”, portanto ainda é necessário um filme solo para melhor compreendermos essas personagens, afinal os conhecedores de quadrinhos devem lembrar bem que ambas protagonizaram ótimas histórias e teriam muito potencial para seus filmes.
Talvez o único bom exemplo até então era com produções de TV, como “Agents of S.H.I.E.L.D.” e “Supergirl”, mas ainda faltava a visibilidade que um blockbuster de grande orçamento pode gerar com uma história de aventura e ação que desenvolve e, forma a super-heroína icônica da DC, com compaixão, carisma e poder, dando um papel digno para uma mulher em um filme de super-heróis, mostrando para todas as outras produtoras que existe mercado e possibilidades para sérias mudanças na indústria, depende-se apenas de de um bom trabalho que entretenha seu público, pois no final das contas o essencial é fazer e mostrar a todos um trabalho bem-feito. Haverão preconceituosos e resistência de conservadores, mas se o filme é bem-sucedido em sua proposta, ele será capaz de ultrapassar essas barreiras.
Existe uma porcentagem muito grande de público feminino na cultura pop, aguentando filmes após filmes trazendo um tratamento fraco para as heroínas e vilãs que tanto amaram quando leram suas histórias, e há ainda muitas novas garotas nascendo, crescendo e consumindo muito material desse gênero. Já era hora de lhes darem algo com que sempre sonharam e sempre esperaram, e assim possam finalmente se identificarem.
É por tudo isso que esse é um dos filmes mais importantes do ano, e essa importância pode não ser percebida agora por estar recente, mas essa produção deve provocar mudanças no cinema, pois não há motivos para a empresa rival ter adiado tanto o filme da Capitã Marvel, talvez por um suposto medo da reação do mercado, mas assim como a DC aprendeu uma ou outra coisa em sua rivalidade, a Marvel parece estar aprendendo um pouco sobre a sua heroína, finalmente definindo uma data de seu filme solo e também sua apresentação grandiosa em “Os Vingadores: Guerra Infinita”. Esperemos que isso se reflita em muitas outras produções, como “Sereias de Gotham” e na participação de Mera em “Liga da Justiça” e “Aquaman”.
Mesmo sendo tão criticada pela forma física de Gal Gadot, por boatos que difamavam Patty Jenkins e por um certo ódio pelo universo da DC nos cinemas, Diana Prince resistiu e persistiu, salvando o mundo nas telas e criando um legado, no qual futuramente iremos relembrar e pensarmos que talvez ela tenha salvo o gênero de super-heróis.