Os filmes sobre super-heróis ainda estão entre nós e devem ficar por muito mais tempo, assim como a indústria dos gibis essas produções devem se moldar, evoluir e se adaptar aos novos tempos que surgem adiante no futuro.
Porém, enquanto refletia sobre a natureza de onde eles figuram no cotidiano de Hollywood me peguei pensando em como há formas corretas ou erradas de se lidar com eles e de como está raro um certo sentimento que deveria percorrer muito mais dentro dessas narrativas de gente vestindo roupa colorida cheios de poderes ou habilidades estranhas.
Nos últimos anos vimos essas produções estarem cada vez mais ligadas com aspectos descartáveis tanto em nível de produção com em histórias, talvez haja uma razão para isso no fim. Existe uma fórmula que percorre de introduzir uma ameaça, colocar o herói em contato com a ameaça e então eles correm de um lado para o outro e entre momentos pontuais de tensão dramática vemos o inimigo ser derrotado.
É um formato de blockbuster que pode cansar se você não oferecer nada além disso para nos conectar com os personagens, pode ser compreensível mercadologicamente mas ainda assim é uma estratégia bem cansada. Estamos cada vez menos interessados em esquemas como Multiverso ou Jóias do Infinito, mas será que isso importava mesmo antes?
Eu me lembro de estar mais interessado em ver se Homem de Ferro seria capaz de trabalhar junto com outros em Os Vingadores e continuar sua redenção ou se Pantera Negra poderia ultrapassar os valores contraditórios de seu pai e evoluir como regente de Wakanda.
E o mesmo pode ser dito na concorréncia da DC, o olhar feminino, pop e punk de Aves de Rapina é um deleite de se assistir ou a energia anárquica de O Esquadrão Suicida que traz uma incomum família entre alguns personagens e o sentimento de ver algo tão escandoloso e perturbado em tela.
Super-herói evoluíram muito ao longo de décadas nos quadrinhos, mas até lá percebe-se que há coisas que nunca mudaram e vão desde o impacto visual das artes até a conexão emocional com os personagens evoluindo e ajudando pessoas, esses são os mitos modernos para as grandes massas que nos permitem aprender coisas como compaixão e empatia.
Essas histórias carregam entretenimento mas aliando-se tudo isso em lições e perspectivas sobre como poderia ser o mundo e como deveríamos agir com aqueles em nossas vidas, conceitos como redenção, otimismo e esperança estão na raiz do que são esses personagens e as melhores produções são aquelas que entendem isso sem esquecer da criatividade e da diversão, há diverso bons exemplos como Logan de James Mangold, Homem-Aranha de Sam Raimi, o Hellboy de Guillermo del Toro e o clássico Superman de Richard Donner.
Esses filmes importam por seus espetáculos e por suas histórias, vemos isso em produções como Batman de Matt Reeves onde há um mergulho profundo em Gotham ao mesmo tempo que oferece humor, ação e uma jornada pessoal dramática de Bruce Wayne em se tornar um símbolo de esperança.
E também mais recentemente em Guardiões da Galáxia Vol. 3 que veio de uma franquia que sempre esbanjou ousadia e coração apresentando uma história sobre como a compaixão pode prevalecer em um mundo terrível e sombrio, tudo enquanto nos oferece a clássica comédia aventuresca desse grupo.
Há certas lições para serem aprendidas por executivos e estúdios nos últimos anos, agora mais do que nunca essas produções precisam refletir personagens, temas e apresentar um bom valor de produção nos efeitos e na construção do entretenimento e da nossa conexão com esses projetos.
Guerra Infinita teria importado muito pouco se não fosse uma história bem produzida onde os Vingadores estão fragilizados e onde temos Stark presenciando suas paranóias e medos virando realidade na forma do perigo de Thanos, precisamos de mais produções como Homem-Aranha no Aranhaverso e menos filmes-eventos que tropeçam em seus próprios fanservices que atrapalham as suas boas ideias tal como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Logicamente que filmes de super-heróis são mais um formato do que gêneros, podemos sim ter produções onde você se constrói nesse modelo tradicional de blockbuster de ação e tirar bons resultados como em X-Men 2 ou Aquaman, ambos os casos são projetos que ainda demonstram um apego com os personagens, temas e que elaboram muito bem seu entretenimento.
Mas a questão é ser feito com dedicação em vez de escolher um caminho por ser “funcional”, essas histórias devem nos envolver seja pela construção do espetáculo ou pela conexão emocional com esses super-heróis.
Porém, alguns filmes recentes representavam um descaso com personagens que não mudam no decorrer da trama e passam a ideia de que “devemos aceitar porque é só entretenimento”, acredito que entretenimento não só deve ser levado à sério como esses personagens podem ser mais que só uma diversão passageira.
A nossa relação com cinema mudou um pouco após a pandemia, nós voltamos a buscar muito mais por histórias que empolguem e criem sensações acima do poder de marcas ou de estruturas funcionais que já vimos.
Acredito que em meio a tudo isso, filmes de super-heróis importam, mas precisam serem feitos com paixão e ousadia honrando o título de “espetáculo” de suas narrativas e as riquezas de seus mundos. Os próximos anos devem trazer uma boa renovação e aprendizado conforme os tempos mudam, esses personagens merecem histórias ricas e cheias de coração como sempre possuíram nos quadrinhos.
James Gunn deve continuar sua jornada através de Superman: Legacy e aposto que Matt Reeves está preparando um grande saga criminal em Gotham, além disso temos Quarteto Fantástico e X-Men que se forem bem estruturados podem se sair um bom recomeço ao MCU, isso sem contar que podemos acabar sendo supreendidos por The Flash ou Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.
Obs: Não houveram muitos comentários sobre as séries, pois necessitariam de um abordagem isolada mesmo que estejam envolvidos dentro do fenômeno pop de super-heróis e alguns casos compartilham eventos em mesmos universos.