Apesar de sua grande importância, o figurino só passou a ser visto como um elemento a ser analisado e considerado em grandes premiações a pouco tempo. O trabalho do costume designer, ou figurista, é tão técnico quanto o de toda a equipe de produção de um filme, envolve pesquisas relacionadas a matérias-primas, execução das peças, além de necessitar de um amplo repertório histórico e cultural, afinal as roupas ajudam a caracterizar os personagens localizando-os no tempo e no espaço, sinalizando em que época ele vive, qual a sua situação financeira e até mesmo sua profissão.
No entanto, como já foi dito anteriormente, o figurino nem sempre teve seu valor reconhecido, o Oscar existe desde 1929, porém só passou a premiar o trabalho dos figurinistas em 1948, deixando passar grandes obras como “E o vento levou…” (1939). Até 1967, havia duas subcategorias no Oscar de melhor figurino: Melhor figurino em preto e branco e melhor figurino em cor, distinção que foi abandonada neste mesmo ano.
Muitos filmes são lembrados por seus figurinos marcantes, filmes de época são os favoritos ao Oscar, principalmente por exigirem uma extensa pesquisa sobre o período histórico que será retratado no longa, mas há também produções que chamam a atenção por sua estética inovadora como é o caso de “Star Wars: Uma Nova Esperança”, que ganhou o prêmio de melhor figurino em 1977 e “Mad Max: Estrada da Fúria”, vencedor no ano passado (2016). Confira os eleitos por mim como os melhores figurinos vencedores do Oscar de cada década:
Década de 1940
Um dos primeiros figurinistas que ganhou a estatueta dourada foi Roger K. Furse pelas roupas de Hamlet, adaptação do clássico shakespeariano, o filme de 1948 trazia Sir. Laurence Olivier no papel título. O figurino detalhista e rebuscado deu profundidade ao longa e tornou a história mais realista ao marcar diferenças sociais e as mudanças e evoluções emocionais dos personagens.
Década de 1950
A década de 1950 foi marcada por grandes musicais, produções épicas e pelo sucesso de grandes estrelas como Marilyn Monroe e Audrey Hepburn. Foi trabalhando com Hepburn que Edith Head se consolidou como figurinista, em Sabrina (1954), a protagonista passa de garota tímida e simples à sofisticada e dona de si, depois de visitar Paris, a jovem volta vestindo maravilhosas criações de Givenchy, algo que rende discussões, já que Head não fez questão de dividir a vitória com o estilista, mas polêmicas a parte o figurino marcou época e até hoje é lembrado como um dos melhores da história do cinema. Sabrina foi dirigido por Billy Wilder e tinha no elenco Humphrey Bogart e William Holden.
Década de 1960
Cleópatra (1963) foi responsável por quase levar 20th Century Fox à falência, isso porque o longa extrapolou o orçamento e se tornou um dos filmes mais caros da história, tanta ostentação se refletiu também no figurino, criado por três estilistas em conjunto, Irene Sharaff, Renie Conley e Vittorio Nino Novarese. O figurino ricamente ornamentado e cheio de detalhes ficou marcado na história do cinema por sua grandiosidade. Elizabeth Taylor a grande estrela do longa fez 65 trocas de roupa ao longo do filme, marcando um recorde só superado com o filme “Evita”, onde Madonna trocou de figurino 85 vezes. O filme é lembrado também pela química do casal principal, Elizabeth Taylor e Richard Burton, se conheceram durante as filmagens, viveram um grande romance, e se casaram duas vezes, sendo amigos até o final da vida.
Década de 1970
O figurista John Mollo, surpreendeu a todos em 1977 com o figurino que desenvolveu para o filme Star Wars: Uma Nova Esperança, o enorme desafio de criar os looks dos habitantes de uma galáxia muito distante foi enfrentado brilhantemente por Mollo, o figurinista trabalhou a cartela de cores para demonstrar a dicotomia que permeia toda a saga, dando evidência a luta do bem, representado pelas cores claras, contra o mal, sempre representado pelas cores escuras como o cinza e o preto. O figurinista demonstrou ainda toda a sua criatividade ao criar uniformes e trajes totalmente inovadores. Uma curiosidade é que o capacete de Darth Vader, parte de uma mistura de uma máscara de gás da primeira Guerra Mundial com um capacete germânico da segunda. Todos os figurinos da saga partiram de referências de influência japonesa, a partir de pesquisas iniciadas por Mollo.
Década de 1980
Representando os figurinos de época, Ligações Perigosas (1988) contou com as criações exuberantes e luxuosas de James Acheson. Com peças rebuscadas que retratam de forma fiel o período Rococó, Achenson deixou seu nome gravado na história do cinema. O longa que conta a história dos perigoso jogos de sedução da Marquesa de Merteuil (Glenn Close) e do Visconde de Valmont (John Malkovich) se passa na França do século XVIII e teve o visual do período retratado com toda a sensualidade e elegância da época.
Década de 1990
A década de 1990 foi repleta de grandes figurinos de época, entre os filmes que levaram o Oscar de melhor figurino estão “Drácula de Bram Stoker (1992), “A Época da Inocência” (1993) e “Shakespeare Apaixonado” (1998), mas talvez o mais memorável seja mesmo Titanic (1997). A figurinista Deborah Lynn Scott pesquisou a fundo o vestuário usado em 1912 e seus diferentes usos, de acordo com cada ocasião, para criar o guarda-roupa do longa. A clássica história de Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet), casal improvável que se conhece na viagem inaugural do R.M.S. Titanic, possui um rico figurino repleto de detalhes que permite a clara distinção de classes de seus protagonistas.
Década de 2000
Em 2001, Catherine Martin e Angus Stratie fizeram um excelente trabalho com Moulin Rouge: Amor em Vermelho, com a criação de um figurino que retrata precisamente a vida burlesca parisiense do início do século XX. O filme que conta a história do amor do idealista poeta Christian (Ewan McGregor) por Satine (Nicole Kidman), a estrela do Moulin Rouge. No obscuro submundo da boate parisiense, eles vivenciam as dificuldades de um amor proibido. Com figurinos muito detalhados e sensuais, o filme tem como cores predominantes o vermelho e o preto.
Década de 2010
Dentro de nossa atual década, considero como destaque, até agora, o figurino de O Grande Gatsby, o filme baseado no livro de F. Scott Fitzgerald, se passa em 1922 e é narrado por Nick Carraway (Tobey Maguire), que testemunha o conturbado romance entre Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) e Daisy Buchanan (Carey Mulligan). O longa dirigido por Baz Luhrmann (Moulin Rouge) também conta o figurino de sua esposa Catherine Martin (Moulin Rouge), com referências à Era do Jazz o guarda-roupa do filme teve suas peças desenvolvidas com a colaboração de Miuccia Prada e acessórios em parceria com a Tiffany. Retratando um período de excessos e de luxo, as roupas do filme possuem muito brilho, franjas e acabamentos impecáveis.