Sem sombras de dúvidas Feud é uma das séries mais aguardadas do primeiro semestre desse ano. A trama no formato de minissérie aborda em seu primeiro ano o conflito entre as icônicas atrizes Bette DavisJoan Crawford durante as filmagens do longa “What Ever Happened to Baby Jane?” (1962), filme esse que rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Bette, além de também ter sido indicado na categoria principal de melhor filme.

Criada e extremamente bem dirigida por Ryan Murphy (American Crime Story, Glee), a história se inicia pouco antes da proposta de “What Ever Happened to Baby Jane?” existir. Aqui conhecemos a intimidade de Joan Crawford  (Jessica Lange) extremamente preocupada com o futuro de sua carreira já que não tem conseguido trabalhar em nenhum filme recentemente. Desesperada e acreditando que a exclusão seja por conta de sua idade avantajada ela resolve unir forças com Bette Davis (Susan Sarandon) e promover o filme com todo o marketing que esses dois nomes poderiam causar.

No inicio dos anos 60, os bastidores de filmagem desse longa foram repletos de boatos e até entrevistas que comentam sobre o conflito entre essas duas grandes artistas. Na série fica claro que o foco não é alimentar as especulações e sim representar esse conflito de forma humana, mostrando todos os fatores externos que afetavam o estado emocional das duas e como isso acabou colidindo e gerando uma disputa entre elas. Essa abordagem fica clara e muito bem estabelecida com o belíssimo roteiro desse episódio piloto, que ainda traz ótimos diálogos que promovem reflexões sobre a linha tênue que separa nossos gatilhos emocionais dos racionais.

O elenco está extremamente bem preparado e consegue reviver esses dois grandes nomes do cinema com estrema veracidade. Jessica Lange que ganhou uma grande repercussão entre o público jovem por suas personagens marcantes nas quatro primeiras temporadas de American Horror Story, retorna agora totalmente renovada com uma personagem desafiadora e complexa, mas que é muito bem representada. Já Susan Sarandon, que vinha sumida do mercado, retorna de forma igualmente triunfante, apresentando uma Bette que tenta esconder seus medos com sua postura confiante.

A fotografia, ao menos nesse piloto, brinca com as possibilidades variadas fornecidas pelos cenários. Na mansão em que mora Joan, o uso de planos de maior abertura é notável e funciona dentro da proposta, expondo um sentimento de solidão e vazio interior. Já nas cenas em que há interação de Joan com Bette, são quase todas rodadas em ambientes pequenos como nos camarins, e os planos escolhidos vão de médio à close up, alimentando ainda mais o clima claustrofóbico e de rivalidade.

A direção de arte exerce um papel fundamental aqui, parte dele já foi mencionado no paragrafo anterior e apenas se fortalece pelos ricos cenários de arquitetura clássica contrastando com os figurinos que refletem o momento decadente em que as protagonistas se encontram.

Feud começou agora e já apresentou um material de primeira, que provavelmente renderá grandes indicações ao Emmy para Susan Sarandon e Jessica Lange, essas que por sinal já possuem estatuetas do Oscar. Vale lembrar que a categoria de melhor atriz em minissérie ainda será disputada por Nicole Kidman e Reese Witherspoon que vem desempenhando um trabalho admirável em Big Little Lies da HBO.