A Fox mesmo com tantos problemas em seu universo cinematográfico dos mutantes havia anunciado que estava migrando para a TV com novas e diferentes produções, confesso que após os últimos filmes havia um certo medo, mas tudo se acaba após os minutos iniciais de “Legion” que se inicia nos apresentando todo o crescimento do protagonista de seu nascimento até o momento que a história começa ao som psicodélico de The Who com a música “Happy Jack” que nos prende desde o começo e nos arremessa para toda a loucura da vida de David Haller.
Estamos afinal diante de uma das séries mais promissoras do ano, e talvez o produto da Marvel mais incomum e original que já apareceu para nós.
Aqui acompanhamos David Haller (Dan Stevens), um jovem perturbado que desde sua adolescência foi diagnosticado com esquizofrenia e passou por vários hospitais psiquiátricos em sua vida. Mas tudo passa a mudar após um encontro com uma colega do hospital, e a partir daí ele se revela como um dos mutantes mais poderosos que já existiu começando a ser caçado pelo governo enquanto tenta compreender tudo ao seu redor, quase sempre ofuscado por suas alucinações.
Dito isso posso dizer que temos um dos roteiros mais inventivos de piloto desde Fargo (2014) e Breaking Bad (2008), a trama começa nesse episódio focando-se em nos mostrar através da percepção estranha do herói seu passado e presente entrelaçados, e o surgimento de seus poderes além de fazer um processo de autoconsciência dele em relação a essas habilidades, em paralelo temos os homens do governo tentando a todo custo arrancar informações dele. Além disso há uma pequena subtrama que nos apresenta uma amiga e namorada do herói que gerará incríveis reviravoltas no terceiro ato do episódio que irá ditar o tom do restante do capítulo. O único defeito é que se dão atenção demais a David Haller e outros personagens são um tanto desvalorizados, só ganhando um certo destaque no terceiro ato, o que indica que podem ser mais explorados nos próximos episódios.
Para falar de seu elenco temos que levar em conta que essa é uma apresentação tanto de personagens como de um particular universo, há ainda ali elementos que só entenderemos muito tempo depois, mas podemos fazer algumas considerações.
Dan Stevens, Aubrey Plaza, Rachel Keller e Hamish Linklater compõe aqui os nomes mais impactantes desse elenco. Dan Stevens protagoniza como o perturbado, tímido e carismático herói David Haller que nos causa medo e compaixão por sua conturbada vida. Aubrey Plaza como Lenny “Cornflakes” Busker rouba quase todas as cenas em que participa ao lado de Stevens, é engraçada, estranha e apresenta ter uma intimidade com Haller. Rachel Keller como Sydney “Syd” Barrett tem uma química linda com Stevens como um casal, seu relacionamento é bizarro e fofo ao mesmo tempo algo que fica bem elaborado entre os atores, ela é misteriosa e decidida. E ainda temos Hamish como “O Interrogador” antagonista do episódio, um agente do governo que interroga e traz uma certa estranheza e humor negro em sua personalidade de forma muito adequada ao seriado e em boa sintonia com o nosso herói.
Com uma direção de fotografia exemplar somos arremessados em cenas alucinantes que giram em câmera lenta, há momentos para travellings elaborados e uso de distintos tons de cores em diferentes momentos simbolizando a diferença entre sonho, mundo real e alucinações. A equipe já havia mostrado muita técnica em sua fotografia em Fargo, mas pela natureza mais fantástica dessa nova produção eles ultrapassam barreiras e provocam o público com sequências formidáveis que nos deixam perplexos.
A trilha também não fica atrás totalmente original misturando estilos e formas com rock psicodélico de The Who e Rolling Stones, e sons de sintetizadores ao estilo Stranger Things (2016) que nos transmitem uma tensão extrema e empolgação, ao casar esses dois tons diferentes o clima ganha personalidade bem próxima de seu protagonista.
A direção de arte e figurinos estão ótimos também, cenários muito elaborados do governo e do manicômio, onde vemos que funcionam nos mínimos detalhes e é claro seu adequado figurino que impressiona por imprimir o visual característico a cada personagem tornando-os único.
Mas nada disso funcionaria bem se não fosse a direção cheia de agilidade, maluquices, elementos criativos e empolgantes, os diretores conseguem dosar humor negro e Scifi com uma certa releitura de elementos super-heróicos de forma diferente de tudo que já vimos dentro do gênero na TV e no cinema.
Podemos concluir que “Legion” apesar de não ser para muitos agradará todos que buscam algo diferente do gênero na TV e poderá trazer um público que ainda não tinha sido fisgado pelas produções de editoras feitas até o momento, então não perca tempo e vá assistir a essa série assim que possível pois dificilmente você irá se arrepender.