[Resenha] Abandonado | Vinícius Pinheiro

Abandonado

Título: Abandonado

Autor: Vinícius Pinheiro

Editora: Geração Editorial

Ano: 2015

184 páginas

Confesso que não está sendo fácil descrever em palavras o que achei da obra de Vinícius Pinheiro, aviso de antemão que a avaliação numérica colocada no fim do texto é meramente e ilustrativa e não tenho certeza de representará minha verdadeira opinião sobre a obra, pois eu mesma a desconheço, portanto peço desculpas por uma outra ou outra contradição que possa surgir nesse texto.

A estética de “Abandonado” e a pequena referência ao filme Dogville do dinamarquês Lars Von Trier me sugeriram uma obra densa, pesada e conflitante. A arte da capa é desconcertante e chamativa, visto que a combinação de cores e as silabas esparramadas pelo papel demandam do futuro leitor certa concentração e alguns segundos a mais para que haja compreensão do que acontece ali. Sensação esta  que rima com o fechar da última página.

Aqui conhecemos a história de Alberto Franco, um rapaz que trabalha como jornalista, porém deseja fazer parte da sétima arte e se tornar roteirista. Ele conhece Clara Bernardes, uma atriz/dubladora extremamente instável e impulsiva, faz o que deseja e não liga para as consequências. Os dois se envolvem sexualmente, e entre idas e vindas vamos conhecendo pouco a pouco como se dá, principalmente, essa relação compulsiva que Franco passa a ter em relação à Clara. O desenvolvimento dos personagens secundários é bastante raso, os colegas de trabalho de Franco e seus companheiros de apartamento, funcionam como um suporte que credibiliza um pouco mais o desfecho da história. A história principal desenha o encontro de Franco com Clara e todos os percalços que passa para estar ou não estar com ela, inclusive uma visita estranha à vidente Carmen que trabalha como uma ligação entre todas as histórias. “Tudo está escrito” ela diz repetidas vezes.


 

“- Franco, só me faça o favor de não se apaixonar. Pode não parecer, mas sou uma pessoa perigosa.

– Eu digo o mesmo garota – falei sem me dar conta que já nos imaginava juntos, com uma penca de filhos em uma casa com varanda, no clássico sonho de quem cresceu catequizado por enlatados americanos”.

Ter contato com esta obra foi uma espécie de montanha russa com curvas sutis. Como disse anteriormente, premeditava uma experiência densa e triste, porém logo nas primeiras páginas me deparei com um simples cotidiano que poderia ser o meu ou o seu, e este é basicamente o ritmo durante as páginas, a escrita de Vinícius é bastante ágil, pouco descritiva, ele busca se ater muito mais aos fatos do que a qualquer tipo de experiência visual para quem o lê. O livro, os capítulos curtos, o espaçamento duplo e letras grandes facilitam uma leitura ágil que não cansa o leitor. A narrativa é construída em primeira pessoa num texto direcionado a alguém, por várias vezes nos deparamos com algo como “Então você me disse…”, “Você fez…”, o que engrandece a obra com um caráter metalinguístico e um tanto quanto misterioso.

“Abandonado” foi um livro que me enganou, e as vezes não foram poucas, mas a maior das enganações foi a disposta no desfecho da obra que não pode ser detalhada por motivos óbvios e também porque eu nem seria capaz de tal feito, depois de passar pela monotonia da vida de Franco, que nem é alguém tão interessante assim, receber aquele final foi prazerosamente perturbador. A obra de Vinícius brinca com o leitor e suas expectativas, traça através do cotidiano de um rapaz aparentemente comum o que somos capaz de realizar para alcançar nossos desejos inquestionáveis e o que isso pode fazer conosco, Alberto Franco que seria só ser alguém.