Título: Cova 312
Autora: Daniela Arbex
Editora: Geração Editorial
Ano: 2015
412 páginas
Em “Cova 312” Daniela Arbex desenterra o passado abrindo feridas esquecidas a fim de encontrar respostas e fomentar maior conhecimento a respeito de um dos períodos mais sombrios da história do Brasil. A jornalista já consagrada por seu primeiro livro “Holocausto Brasileiro” que eu vergonhosamente admito ainda não ter lido, se mostra obstinada a dar voz às pessoas caladas pela ditadura e produz uma obra que engrandece o conhecimento histórico que temos do nosso próprio país.
“Em nenhum momento o país conheceu tanta dor”
Daniela realizou investigações a respeito da morte do guerrilheiro Milton Soares que foi declarado morto por suicídio pelosa militantes, a missão da jornalista é descobrir o que aconteceu, oferecer uma resposta aos familiares de Milton e revelar a verdade sobre esse episódio. Apesar do tema denso e conflituoso, a narrativa, construída na estruturação de um romance, é fluída, não vi de forma alguma uma tentativa de dramatizar as histórias de forma a deixá-las mais apelativas ao público. A escrita não deixa de ser jornalística, bem objetiva e com respeito aos fatos.
A diagramação da obra contribui para sua fluidez, além de o livro se dispor de diversas fotos e documentos referentes as buscas de Daniela, o que lhe atribui credibilidade como também aproxima do leitor de sua empreitada pela verdade.
“Cova 312” mostra-se uma obra documental, mais um capítulo da história do Brasil que não conhecíamos, mas mais do que isso ela escancara o quão sabemos de nós mesmos e do nosso passado, a história é a respeito de Milton, mas também é a respeito e todos os outros nomes que não conhecemos, trata-se de uma dor que ainda caminha pelas ruas nos dias hoje.
Enquanto brasileiros, ainda estamos aprendendo a democracia. Nos últimos tempos ouvimos vozes que desejam a volta da falta, a falta de liberdade, a falta do eu, do individual, do subjetivo. Vozes que pedem para serem caladas, pois não bem o que dizem.
“Fazer silêncio diante de uma nação que foi esfacelada pela violência no passado e continua reproduzindo os métodos de tortura e exclusão do período do arbítrio é compactuar com crimes dos quais podemos nos tornar vítimas. Pior que isso: reeditar nas ruas do país marchas pela ordem clamando o retorno da ditadura é desconhecer os anos de sombra que envolveram o Brasil ou aceitar que a força supere o diálogo e o esforço histórico dos movimentos populares na busca por caminhos de paz”.