Título: Destemida
Autora: Jessica Watson
Ano: 2015
Editora: BelasLetras
335 páginas
Pense em uma garota de 16 anos. Pensou? Agora imagine se essa garota te dissesse que ela irá dar a volta ao mundo dentro de um barco. Qual seria sua reação? Você iria rir dela? Sentir medo por ela? Iria apoiar? Bem, uma garota de 16 anos decidiu viver essa aventura e se deparou com essas e muitas outras reações diferentes, porém a sua determinação de conseguir algo e sua vontade de encorajar outras pessoas a seguirem seus sonhos funcionaram como combustível na vivência dessa aventura.
Uma menina. Um barco rosa. Um sonho e o oceano.
No livro de Watson ela conta como foi sua experiência de viajar sem paradas dando a volta no mundo, desde sua preparação física, psicológica, com a família e com barco até sua chegada. A obra é principalmente composta por posts feitos no blog de Jessica enquanto ela ainda navegava, com alguns complementos. Reconheço que não sou o público ideal para obras desse gênero, achei a leitura desinteressante diversas vezes por não me identificar ou me interessar pela rotina de Jessica em alto mar, o que ela trazia está muito longe da minha realidade, os nomes que ela usava como referência não significam nada pra mim. Acredito que se mais curto, eliminando algumas passagens do blog a obra seria menos cansativa e poderia entreter e inspirar o leitor um pouco mais. A não ser que você seja um apaixonado por barcos, mar e aventuras. Se sim, você vai gostar das páginas desse livro.
Embora o livro seja majoritariamente em forma de diário rotineiro, consegui extrair algumas reflexões do que Jessica colocou em suas palavras. A começar pelo seu barco rosa representando sua feminilidade, em momento algum ela deixa de ser uma garota ou pensar como garota, e expressa, diversas vezes seu descontentamento com as pessoas que a julgam não capaz de seguir em frente com algo desse tamanho por ser uma mulher. Seu barco cor de rosa chamado de “Ella’s Pink Lady” é uma bandeira. “Sim, eu sou mulher. E sim, eu posso fazer isso. Tanto quanto você”. O título nacional estampa a coragem de Jessica, destemida, em seu barco cor-de-rosa, pequeno no meio de um oceano dominado por homens, todo azul.
“Uma das minhas frases favoritas de Mike é: ‘Você é tão grande quanto os sonhos que ousa viver’. Amo essa frase, e talvez precise pegá-la emprestada na próxima vez que alguém me disser que sou jovem ou magricela demais pra fazer o que quero fazer”.
Uma curiosidade minha a respeito de passar tanto tempo longe das pessoas era o tédio e a solidão, Jessica declara que não sentia tédio, pois sempre tinha coisas no barco para arrumar, escrever no blog, dormir. Acredito que aí está a importância de se dedicar a algo que ama, para ela, estar preocupada consertando o motor do barco era algo maravilhoso…
Um pedaço de plástico no meio do oceano faz Jessica divagar sobre a diferença em estar sozinho ou estar solitária, segundo ela, tem a ver com escolhas. Ninguém escolhe estar/se sentir solitário, porém ela escolheu estar ali, no meio do mar, sozinha, e estava muito feliz com isso. É engraçado ver como ela sempre se dirige ao leitor no plural, “nós estamos”, “nós vamos”… Nos momentos difíceis, ela se refere ao barco como se fosse outra pessoa, segunda ela, a ajudava a continuar firme e forte no que tinha que fazer.
“Meu plano de ação é bem simples: manter-me calma e confiante. Se eu fracassar, o Plano B é fingir!”
Fingir pra quem? Ninguém está vendo. Não tem ninguém ali, mas a gente aprende isso, a fingir, e mesmo quando estamos sozinhos, nós fingimos que está tudo bem, por que de alguma forma isso nos ajuda a lidar com o que não sabemos lidar sozinhos. Fingir nos dá a ilusão de que tem mais alguém ali, e isso conforta. Mesmos sozinhos, fabricamos uma companhia.
“Destemida” tem uma edição bem simples, as capas compostas por fotos de Jessica e Ella’s Pink Lady complementadas pelo padrão de cores rosa e azul que rima com o que mencionei anteriormente. A edição ainda traz fotos de Jessica, sua família e pessoas que lhe ajudaram. Seu conteúdo, como mencionei anteriormente poderia ser reduzido quase pela metade, a escrita de Jessica é, como esperado, inexperiente, todavia a moça não deixa de ter algo maravilhoso pra contar, não só pela grandeza de seu ato, mas pela maturidade e a capacidade de aumentar as coisas pequenas. Em sua grande viagem, Jessica testemunhou um arco-íris lunar, fenômeno extremamente raro. No dia-a-dia em alto mar ela aprendeu a apreciar ainda mais o brilho comum das estrelas que vemos todas as noites, mas não damos atenção, e ganhou de presente um arco-íris lunar, só pra ela. E esse foi uma das grandes lições que tirei dessa obra, não importa como você, como as pessoas dizem que você, o que importa é você saber quem é e o que ama, lutar por isso, e não se dar por satisfeita nunca, nem depois de ganhar um arco-íris lunar de presente.