Resenha: Deuses Americanos – Neil Gaiman

Aproveitando que logo teremos o Primeiras Impressões da série “American Gods”, o Cine Mundo preparou uma resenha sobre o material de origem da série que foi escrito pelo brilhante Neil Gaiman.

Neil Gaiman é um dos meus escritores favoritos, seja no roteiro de “Doctor Who”, ou em filmes como “Stardust”, seu nome é sinônimo de visão, criatividade e inteligência no gênero da escrita fantástica. Antes já havia lido outros livros que dele como “O Oceano no Fim do Caminho” e “Coisas Frágeis”, mas nenhum me deixou fascinado por horas, dias e meses após a leitura como foi com “Deuses Americanos”, esse é aquele livro precioso que podemos chamar de obra-prima. Aqui ele mergulha em uma história recheada de sua fantasia psicodélica, críticas sociais e homenagens à América percorrendo pelo caminho dos gêneros de humor negro, ação, aventura, policial e romance em um trama de estrada que nos faz conhecer mais sobre curiosos locais dos EUA, o passado da Europa e sobre a própria natureza humana da sociedade atual.

Na história um ex-condenado, Shadow, viaja pelas estradas dos EUA nos dias atuais repleta de deuses mitológicos da antiguidade, enquanto isso ele faz serviços para o pilantra Wednesday e se preparam para uma forte tempestade que surgirá com o confronto dos Deuses Antigos e dos Novos.

Gaiman tem o total controle das palavras e da dissertação, desde diálogos cínicos e verborrágicos como os de Sweeney e Wednesday como também sabe nos jogar para diferentes épocas históricas e lugares místicos de formas incomuns com total facilidade, nos dando a quantidade exata de detalhes, nem mais, nem menos, com Neil Gaiman está tudo equilibrado na medida perfeita, e isso se mostra também na elaboração da história de Shadow Moon e Wednesday.

Dentro da estrutura segue-se dois caminhos sempre, o primeiro deles trata-se de perseguições e das pilantragens de Wednesday e o segundo aborda esses momentos calmos em que Shadow fica a aguardar sua próxima missão, sempre intercalando essas duas situações, entretanto há sempre algo a acontecer em seus capítulos e parte da magia da escrita nos faz sentir como se vivêssemos dentro do livro. Ao longos de suas 579 páginas acompanhamos os nosso “heróis” por diversos ambientes desde pequenas cidades geladas até o mundo pós-morte, conhecemos variados personagens, cada qual trazendo uma bagagem emocional e histórica, de forma que presenciamos diversos cenários desde caçadas a garotas desaparecidas até conversar amigáveis com homens simpáticos e mulheres atraentes.

Pode-se dizer que essa é uma das maravilhas que essa obra proporciona ao leitor, nos fazendo sentir na pele de Shadow Moon a empatia que ele tem por essas pessoas, assim como sentimos sua adrenalina e seus medos na estranha jornada em que se encontra e com Shadow nós nos distraímos com tudo que ocorre ao nosso redor e ficamos sem palavras ao nos confrontarmos com as grandes revelações e reviravoltas que o livro nos traz na reta final, pois ás vezes nada é o que parece ser.

Essa obra ainda promove muitas reflexões interessantes para repensarmos após largarmos o livro, pois ficamos a pensar em como a sociedade atual é desapegada às culturas e religiões antigas e como cultuam as obsessões do novo século como fama, internet e a mídia quase como se suas vidas dependessem disso. Há também um atento olhar para o ponto de vista dos imigrantes na América, que partiram em busca de um lugar melhor e acabaram presos e esquecidos em uma terra que não é boa para eles e que quer a todo custo os expulsar.

Podemos concluir que “Deuses Americanos” é um dos melhores livros escritos e talvez seja o melhor trabalho de Neil Gaiman em uma trama tão real e surreal usando mais uma vez o que esse escritor estrutura de melhor que é essa mistura bem-feita entre histórias humanas profundas e universos de fantasia fantástico. Esse livro é também um alerta pra toda uma sociedade e suas falhas e continua tão atual hoje quanto no dia que publicaram essa obra pela primeira vez, esse é um forte motivo para acreditar no potencial da série que irá adaptá-lo.

REVER GERAL
Nota
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.