Título: It – A Coisa
Autor: Stephen King
Número de páginas: 1104
Editora: Suma de Letras
Gênero: Terror
Stephen Edwin King mais conhecido como Stephen King, é um escritor mundialmente conhecido por suas obras no gênero de terror e ficção, dentre elas podemos citar várias até que tiveram adaptações cinematográficas como: O Iluminado, Carrie – A Estranha, It – A Coisa (que no cinema teve seu nome adaptado para: It- Uma obra prima do medo), Cemitério Maldito, entre outros. O próprio autor já fez participações em seriados, podemos deixar como exemplo Under the Dome (baseado em um livro de sua autoria).
Agora irei focar mais no livro escolhido para a resenha de hoje, que foi o segundo que tive contato desse autor. Assumo que quando o meu exemplar chegou em casa fiquei assustada com o tamanho, imaginei que seria um desafio imenso concluir a leitura, mas depois de lidas as primeiras páginas percebi que o desafio na realidade seria largar o livro para fazer as tarefas cotidianas, a história é tão envolvente que mesmo tenho 1104 páginas você desejaria que tivesse mais, muitas mais.
Para separar bem a história o autor dividiu o livro em 5 partes, com 23 capítulos e 5 interlúdios, nos situando muito bem dentro do contexto, não deixando que em nenhum momento a história fique confusa ou até mesmo repetitiva. No começo somos levados para o ano de 1958 e os personagens principais são apresentados, Bill, Richie, Eddie, Stan, Ben, Mike e Beverly, os sete amigos que são reunidos por diversas dificuldades mas não sem um toque da magia existente em Derry (cidade onde eles nasceram e o livro é escrito).
Logo nas primeiras páginas já temos uma aparição da Coisa e assimilamos toda a sua maldade. Em uma tarde chuvosa o irmão de Bill está entediado em casa, como toda criança queria ir para a rua brincar, Bill então o ajuda a fazer um barquinho de papel para que ele possa se distrair nas poças de água pedindo para que ele tome cuidado e não esqueça sua capa de chuva. George então se despede de Bill e vai para a rua, depois de alguns minutos brincando, seu barquinho escapa e começa a sumir sendo empurrado pela água que estava na canaleta da rua, sem querer perder a brincadeira ele começa a perseguição, muito triste percebe que vai perder seu barquinho quando ele cai em um buraco que foi aberto graças a chuva. Ainda com esperança ele chega próximo ao buraco e é aí que já começamos a sentir medo, quando um palhaço misteriosamente aparece dentro do buraco e com todo o seu “charme” consegue convencer George de chegar mais próximo da beirada, em um bote ele puxa o menino para o que seria seu fim. Apenas uma parte do corpo foi encontrado, a família de Bill fica simplesmente destruída, a polícia em alerta achando que existe um maníaco na cidade ou algo similar. Assim o livro tem seu início, com um Bill abalado, sentindo o peso da culpa da morte do seu amado irmão, vendo sua mãe em um estado de choque profundo e persistente e um pai que começou a agir em modo automático, sem mais motivações para existir, acima de tudo temos o ódio no coração do garoto, que promete vingança, que sabe que um mau ronda o subterrâneo da cidade e que a morte de seu irmão não poderá ficar impune, como também as próximas que irão acontecer.
As férias finalmente chegam e é nesse pequeno período que teremos a maior movimentação das crianças no livro, vale ressaltar que a história se passa com os sete em dois períodos distintos de suas vidas, intercalando entre a infância de cada um deles e quando já são adultos e devem voltar para concluir o trabalho com a Coisa. Como toda a escola essa também tem seus valentões e um dos pontos da união dos sete amigos é um enorme medo em comum que eles tem em relação a esses meninos maiores. Vemos os laços de amizade cada vez mais fortes todas as vezes que juntos eles enfrentam esses valentões, um ponto forte do livro é a beleza dessa união, a força de vontade que emana de todos eles quando estão juntos nos demonstra como as amizades infantis são inocentes e acima de tudo verdadeiras.
Como já disse, essa amizade tem uma forcinha de algo maior, como se a união deles fosse a única maneira encontrada para destruir a Coisa. O que fica bem claro é que por serem crianças a força da imaginação deles é muito grande, o senso de perigo mesmo sendo alto não tem tanta importância, pois como sabemos criança não mede muito as consequências do que está fazendo, o que realmente é diferente é o modo como eles encaram a situação, sentem que são responsáveis pela segurança de todos mais, um sentimento de urgência somado a vingança prometida por Bill, que muitas vezes se julga culpado em colocar os amigos em risco por um interesse pessoal.
Para aprimorar ainda mais a complexidade do Pennywise (como o It é conhecido), Stephen King dota ele com poderes assustadores, ele pode ler a mente das crianças e descobrir o que cada uma tem mais medo se transformando nisso, esse é o outro ponto da união, a Coisa apareceu para todos em situações isoladas, fazendo que as crianças acreditem umas nas outras quando contam suas histórias. Como exemplo posso citar Ben, seu primeiro contato com Pennywise foi em uma noite quando voltava da biblioteca (seu lugar favorito) para casa, ao passar por uma ponte ele escuta alguém o chamando, ao chegar próximo da beirada vê uma múmia saindo em sua direção, aterrorizado ele paralisa até criar coragem e sair correndo, com a múmia em seu encalço, por pouco ele consegue fugir. Em outras situações podemos ver a Coisa como um lobisomem, um pássaro gigante, aparecendo em um álbum de retrato de George, falando com Beverly pelo encanamento do banheiro do apartamento onde morava com os pais e até mesmo possuindo o corpo do pai da menina para tentar tirar sua vida. Outro fato é que os adultos não conseguem ver a Coisa, muito menos os seus rastros, dificultando ainda mais o trabalho das crianças em deter seus assassinatos pela cidade.
Decididos a dar cabo de sua missão, os garotos vão até o local onde acreditam ser uma das passagens do Pennywise para a cidade, uma casa abandonada perto das linhas do trem, lá dentro eles enfrentam muitas dificuldades, estão no território do inimigo e lá ele é o rei. Já cientes de que a Coisa pode mudar sua forma, todos eles vão atrás do lobisomem, que já tinha sido encontrado nessa mesma casa por Bill em outra tentativa, quando ainda imaginavam que ali residia o leproso, uma das diversas faces do mau. Como em todos os filmes e livros eles sabiam que a prata machucaria o lobisomem, quando os sete chegam até o banheiro finalmente se deparam com o causador de todos os pesadelos, então Beverly que foi incumbida de atirar as bolinhas de prata previamente fabricada por eles na Coisa acerta seu alvo, o poder do pensamento das crianças e a fé na prata faz com que o oponente saia muito ferido, mas infelizmente ainda vivo, essa pequena vitória faz com que as crianças adquiram ainda mais confiança na sua missão.
Como o livro é intercalado entre passado e presente temos sempre uma variação interessante do que é exposto, quando o autor começa a focar mais no presente, vemos como a influência da Coisa ainda é forte na vida de cada um deles. Quando adultos os personagens se esquecem completamente da infância e do que aconteceu na cidade, todos eles já foram embora deixando apenas Mike para trás, que fica com a missão de sempre observar e se caso a Coisa voltar procurar os amigos para que eles terminem o que começaram. Quando Mike percebe que o ciclo da coisa finalmente vai voltar ele liga para seus amigos, o primeiro deles a receber a notícia é o Stan, quando sua memória volta ele fica desesperado e decide que cometer suicídio é a melhor saída já que não acredita ter forças para voltar ao esgoto de Derry. Um a um os amigos são avisados e retornam a sua cidade natal atrás de Mike e de uma promessa infantil, deixando suas vidas e carreiras bem sucedidas para trás com a certeza da morte certa.
Quando todos eles finalmente se reúnem em um restaurante qualquer percebem que o número mágico foi quebrado, sem Stan eles não são mais sete, percebem que a Coisa fará o possível e o impossível para matar todos eles no decorrer desse dia e ela faz questão de mandar “recadinhos” aterrorizantes para todos eles deixando ainda mais claro que quem ficar para a enfrentar irá morrer. Como sua influência é muito grande ela consegue mexer na mente de um dos antigos valentões para que ele vingue a morte dos seus amigos matando os meninos que já são adultos, com a fé abalada, pois como citei um dos pontos necessários para machucar a Coisa é ter fé naquilo que acreditam que a fere, é poder utilizar da criatividade contra o mau. No decorrer das páginas eles vão lembrando cada vez mais o passado esquecido, da amizade e da importância daquele verão na vida de cada um.
Bill retoma seu lugar de liderança e comanda os amigos novamente para o esgoto, Ben sente que sua morte é certa, mas como todos os demais segue o homem que na sua infância foi a criança que ele mais admirou. Bev redescobre o amor que tinha por Bill, isso é mais um motivo para ir até o inferno se for preciso. Dentro do esgoto a força de vontade, fé, união, confiança e amor de cada um deles é testado e eles sabem que o único modo de sobreviver é se permanecerem unidos até o final.
Não me cabe falar o final do livro e sim o quanto ele é surpreendente, pois vemos sempre a Coisa como o mau e nunca entendemos o que se passa em seus pensamentos, isso só descobrimos nas últimas 100 páginas do livro quando o King nos presenteia com alguns capítulos escritos pela Coisa, falando da sua origem, da sua influência em Derry e de quais são os seus planos. Claro que no decorrer do livro descobrimos algumas coisas mas tudo fica mais claro quando vemos sua verdadeira face e descobrimos como o nosso universo surgiu (sim, ele explica isso e é muito interessante!).
Considero esse um dos melhores livros de terror que já li, não tem aqueles clichês é algo simples e cruel, o personagem principal tem a cara do mau para qualquer pessoa. Passei madrugadas devorando o livro e como disse no começo, por mim poderiam existir mais umas mil páginas, principalmente com o lado da Coisa, com ela contando a própria história e seus medos. Muito envolvente e sem defeitos, é aquele tipo de livro que você indica para todos pois sabe que o mundo inteiro precisa conhecer essa preciosidade!
Sobre o filme não tenho como dizer nada já que não tive a oportunidade de assistir, vou deixar o link no final da resenha e se alguém quiser comentar se é bom fico muito agradecida, mas já digo: Se for metade do que o livro é, certeza que é pesadelo e noites sem dormir rs. Essa foi a resenha de hoje, bem superficial já que o livro é ricamente detalhado, minha intenção é aguçar a curiosidade de vocês para que adquiram o exemplar, ebook ou a forma de leitura preferencial de cada um de vocês. Tenho certeza que quem é fã do gênero não irá se arrepender, arrisco até em dizer que é uma leitura obrigatória. Para quem não é fã ou não tem muita intimidade com o gênero também indico já que a leitura é simples, sei que o livro é gigante mas não tem diálogos densos ou fatos de difícil assimilação, tornando-se assim uma leitura muito agradável.
“Ela sempre volta, sabe. A Coisa. Então, sim. Acho que vou ter que fazer aquelas ligações. Acho que era para sermos nós. De alguma forma, por algum motivo, somos os eleitos para acabar com isso para sempre. Destino cego? Sorte cega? Ou é aquela maldita Tartaruga de novo? Será que ela também dá ordens além de falar? Não sei. E duvido que importe. Todos esses anos atrás. Bill disse: A tartaruga não pode nos ajudar, e se era verdade na época, deve ser verdade agora.” (Pág. 153)
https://www.youtube.com/watch?v=OAQtjpSgj38