O terror é um dos gêneros favoritos da literatura e geralmente encabeça as listas de vários leitores ao redor do mundo. O susto artificial é um fascínio até hoje. Poder desfrutar situações de pavor ou até mesmo terror absoluto na segurança e conforto de casa é sem dúvidas um dos trunfos desse gênero. Em um mundo onde grandes escritores como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft e Arthur Conan Doyle deixaram seu legado fica até difícil carregar a responsabilidade de trilhar o caminho dos mestres e continuar seu trabalho.
Décio Gomes é um escritor pernambucano que aceitou a tarefa de “abrir a caixa de Pandora” e libertar todos os males e terrores para uma nova geração de leitores, bebendo da fonte que é o trabalho deixado pelos grandes mestres ele nos entrega belas obras. O livro em destaque dessa vez é “Minueto da madrugada”, segundo livro da trilogia “As crônicas Ridell” e a sequência de “Albertine”. O curioso é que apesar de Minueto da Madrugada ser uma sequência o livro narra os eventos que antecederam o primeiro livro, sendo assim uma prequela.
Publicado pela primeira vez em 2014 pela Editora Schoba e com uma segunda edição, dessa vez pela Editora Tribo das Letras, Minueto da Madrugada conta a história de Rosa Vogelsang e de Dianne Ridell. Rosa, que foi coadjuvante no primeiro livro da trilogia agora divide o papel de protagonista com uma nova e enigmática personagem. As duas mulheres representam extremos opostos, vindas de classes sociais diferentes, bagagens educacionais e crenças distintas, mas que ainda assim criam um forte laço de amizade que virá a ser provado pelas forças do submundo.
O enredo desenvolve-se em uma pequena cidade da Europa no século passado. A jovem Rosa Vogelsang é contratada para ser a governanta da Mansão Ridell, uma construção localizada no meio de uma floresta afastada da civilização. Seus patrões, Joseph Ridell e Dianne são um jovem casal no início da vida conjugal. Dianne acaba se aproximando de Rosa, uma vez que seu marido está sempre em viagens a trabalho. Estranhos eventos começam a assolar a mansão após Dianne encontrar um livro antigo na biblioteca, o Necronomicon.
O livro é um compêndio de demônios, onde estão explicados os seus poderes e como fazer contratos com eles. Dianne passa a utilizar o poder dos demônios em seu próprio favor realizando contratos cada vez mais frequentes com as forças de Satã. A governanta se depara com o lado obscuro de sua nova amiga e se vê em uma encruzilhada, deveria ela tomar uma atitude para impedir as práticas da patroa ou fingir que nada acontece sob o teto da mansão e continuar com seu emprego e com a amizade de Dianne. A situação se torna insustentável quando as forças das trevas decidem cobrar o preço dos contratos de Dianne, um preço tão alto que pode custar não só a vida dela como as do restante da família Ridell e dos empregados também.
Décio nos entrega um livro bem escrito e de linguagem leve, mais dinâmico que o primeiro, os eventos ocorrem de uma forma rápida o que não deixa o enredo monótono. Fica bem claro que Décio fez uma boa pesquisa antes de começar a escrever, pois ele traz elementos de uma outra época de uma forma coerente, ele descreve as refeições, vestimentas, comportamentos e fala de personagens em detalhes. Um ponto negativo é quando em algumas vezes o autor extrapola suas descrições e acaba colocando no texto informações desnecessárias ao leitor, o que acaba atrapalhando o ritmo da leitura, sobretudo nos momentos de maior suspense.
Minueto da Madrugada consegue ser uma sequencia ainda melhor do que o livro original, mostrando um refinamento no estilo da escrita e na construção dos personagens, que agora estão mais profundos e simpatizáveis. Décio teve a responsabilidade de escrever uma prequela com um final totalmente imprevisível para quem leu Albertine e foi isso que ele fez nesse livro. Outro fato que vale a pena mencionar é que é possível ler Minueto da Madrugada sem ter lido Albertine, ou seja, começar a trilogia pelo segundo livro ao invés do primeiro.
Minueto da Madrugada é uma ótima pedida para o leitor que procura um terror inteligente, onde o autor manipula emoções da maneira mais sutil possível. Sem dúvidas Décio Gomes enriquece a literatura nacional mostrando que o leitor não precisa buscar fora do país um produto de qualidade, pois esse produto já existe aqui. Em dezembro será publicado Elegia, o livro que encerra a trilogia As Crônicas dos Ridell e continua a história no momento em que Albertine termina. Confira o trabalho do autor em: www.deciogomes.net