Titulo: Nosferatu
Autor: Joe Hill
Número de páginas: 624
Ano: 2014
Editora: Arqueiro
Meu primeiro contato com Joe Hill foi com o livro A estrada da noite, lembro que na época meu pai estava reformando a casa e meu quarto ficava do lado de fora, bem no meio da construção, sem portas, sem janelas, luz só no meu quarto e o resto uma escuridão, sempre gostei de ler no período da noite, acho que foi o que tornou a experiência com esse livro ainda mais assustador, claro que o maravilhoso dom do autor foi essencial mas eu sempre tinha que virar a noite lendo pois o medo era tanto que eu não conseguia dormir, qualquer vento já era algum espírito atrás de mim. Mesmo essa experiência ocorrendo muitos anos atrás o autor acabou marcando a minha vida e quando eu tive notícia do lançamento do Nosferatu fiquei super ansioso , eu simplesmente não poderia deixar de ter mais uma obra prima do Joe Hill.
Essa resenha farei de uma maneira diferente das que venho escrevendo, colocarei aqui a sinopse do livro, quem já tiver lido e quiser saber a minha opinião pode pular direto para a resenha em si, mas para quem tem o primeiro contato com o livro acho que é algo interessante, aguça mais a curiosidade para aquilo que tenho a dizer.
“Victoria McQueen tem um misterioso dom: por meio de uma ponte no bosque perto de sua casa, ela consegue chegar de bicicleta a qualquer lugar no mundo e encontrar coisas perdidas. Vic mantém segredo sobre essa sua estranha capacidade, pois sabe que ninguém acreditaria. Ela própria não entende muito bem.
Charles Talent Manx também tem um dom especial. Seu Rolls-Royce lhe permite levar crianças para passear por vias ocultas que conduzem a um tenebroso parque de diversões: a Terra do Natal. A viagem pela autoestrada da perversa imaginação de Charlie transforma seus preciosos passageiros, deixando-os tão aterrorizantes quanto seu aparente benfeitor. E chega então, o dia em que Vic sai atrás de encrenca… e acaba encontrando Charlie.
Mas isso faz muito tempo e Vic, a única criança que já conseguiu escapar, agora é uma adulta que tenta desesperadamente esquecer o que passou. Porém, Charlie Manx só vai descansar quando tiver conseguido se vingar. E ele está atrás de algo muito especial para Vic.
Perturbador, fascinante e repleto de reviravoltas carregadas de emoção, a obra-prima fantasmagórica e cruelmente brincalhona de Hill é uma viagem alucinante ao mundo do terror.”
Victoria MCQueen é uma criança muito curiosa, como todas são, mas ela tem algo de diferente das demais, uma bicicleta que através de uma ponte em um bosque próxima da sua casa pode levar ela a qualquer lugar, basta apenas imaginar. Vic não é a única que contém esse tipo de dom, seu diferencial é que ela nunca o utilizou para coisas malignas como é o caso de Charles Manx, que através de seu Rolls-Royce captura crianças e as levam para um lugar maligno em sua mente, chamada terra do natal, utilizando a energia vital delas como combustível para seu carro e seu dom paranormal, podemos comparar Manx com um vampiro, mesmo não chupando sangue como os da Anne Rice, ele suga toda a energia e a bondade das crianças durante o caminho da terra do natal, isso faz dele imortal e sempre jovem.
Victoria sempre gostou de aventuras e no começo não acreditava no seu dom, utilizava ele para pequenas façanhas como reaver o colar de sua mãe que ela esqueceu em uma lanchonete durante uma viagem, descobrir aonde o gatinho da sua melhor amiga estava e pequenas coisas de utilidade, mas sempre que utilizava seu dom era como se a ponte também sugasse um pouco da sua energia, deixando ela sempre doente por alguns dias. O que ela não tinha percebido ainda é que a ponte a levaria aonde ela quisesse ou aonde ela imaginava querer, até que um dia ela saí em busca de confusão, nem preciso dizer quem ela encontra no caminho.
Seu desejo é realizado e ela vai parar em uma casa de Manx, mesmo com medo a curiosidade é maior e ela vai se aproximando da casa, até que ela encontra o carro e uma criança dentro do carro, dotava de um espírito heroico ela tenta ajudar a criança, mas quando esta quase para tira-la do carro temos uma surpresa desagradável que levara Vic para dentro da casa enquanto Manx a persegue, mesmo sendo ágil ela acaba encurralada na dispensa, com muita raiva da pequena intrusa que não quis compartilhar do seu dom, Manx vendo que não tem mais jeito e com receio de ser descoberto resolve colocar fogo na casa, Vic consegue escapar e pede ajuda para um motoqueiro que passa no caminho. Alguns fatos desenrolam durante essa ajuda e Max acaba preso, não contarei detalhadamente pois creio que não posso estragar certas surpresas do livro ou isso seria mais que uma resenha.
Muitos anos depois, Victoria já é uma mulher, mãe de um lindo menino que tem como pai o motoqueiro que a salvou das garras de Manx, ela tenta seguir a vida como se aquele desastre não tivesse acontecido, como se fosse tudo fruto de sua imaginação, ela tenta esquecer de sua bicicleta, da ponte e de todas as aventuras que teve durante a sua adolescência mas o destino não seria tão bom assim com ela e colocaria Manx mais uma vez em sua vida, dessa vez decidido a vingar sua tragédia pessoal.
Nessa parte da história entra um personagem que seria fundamental para os planos de Manx, Bing, um homem que é tão ou mais insano que o próprio vampiro. Bing ajuda Manx a reaver a suas forças e principalmente a vigiar os pais das crianças escolhidas, assim como também livrar-se de corpos indesejados e de situações onde o próprio Manx nada poderia fazer. Em troca ele ganha a esperança de ir para a terra do natal junto com o seu chefe, se me lembro bem ele precisaria ajudar a “livrar” 10 crianças para conseguir o seu prêmio, digo livrar pois Manx garantia a seu ajudante que todas as crianças sofriam maus tratos dos pais e que eles eram como anjos salvadores e que elas iriam para uma terra maravilhosa onde tudo sempre é natal e alegria. O que me deixou mais chocada durante a leitura é que o autor passa durante o tempo todo a impressão que não só o Bing acredita nisso, mas Manx também! Bing por si só é um personagem tão cruel e covarde que merecia um livro só para ele e suas façanhas!
O reencontro de Vic e Manx é algo doloroso, um com medo do passado e o outro com um ódio que só será amenizado com sua vingança. Vic não quer acreditar nos sinais, não quer acreditar que todas as suas lembranças do passado são reais e isso atrapalha ainda mais as suas chances de sair ilesa da situação, atrapalha ainda mais a proteção que só ela pode dar para seu filho, já que para a polícia Manx está morto e ela acaba se tornando uma suspeita do desaparecimento de seu menino. O que deixa tudo ainda mais complicado para ela é que seu filho seria a criança número 10, aquela que faria Bing depois de muito tempo finalmente ir para a terra do natal, o que faz com que esse psicopata não meça esforços para realizar sua empreitada e ganhar o apreço de Manx.
O final do livro é recheado de muitas emoções, vemos uma Victoria muito mais forte que possamos imaginar, uma mulher que é capaz de simplesmente tudo para reencontrar o seu filho amado. Vemos o reatar de muitos laços que foram quebrados pela sua rebeldia. Conseguimos enxergar um Manx irado e que não vai poupar suor para terminar a sua vingança, utilizando da potência máxima de seu carro e de seu dom que foi inutilizado por tanto tempo.
Agora a minha opinião pessoal é que o livro em si é uma obra prima do terror, pra quem gosta desse tipo de assunto é leitura essencial, mas o final ficou com gostinho de quero mais, como se não tivesse fechado todas as lacunas, senti como se o Joe Hill estivesse com um prazo muito apertado e precisasse mandar o livro de qualquer jeito. Não que o final seja ruim, ele é bem triste até, uma tristeza global mesmo, para os três personagens principais. Eu fiquei com certa dó do Manx quando ele voltou para a terra do natal depois de tantos anos e viu como estava decadente seu local precioso e principalmente seus moradores, fiquei com dó do Bing mesmo ele sendo muito cruel pois sofria de transtornos mentais e tudo que ele fazia era realmente de coração, ele era um adulto mas com alma de criança, exceto pela partes mais pesadas que não vou contar aqui ou a resenha vai se tornar +18 haha. O final da Vic pra mim foi o mais triste, eu realmente fiquei chocada com o que aconteceu. Esse foi o primeiro livro de terror que eu li que no final você fica com o coração apertado com os acontecimentos de ambas as partes. Eu particularmente peguei muita admiração pelo Manx, mas tenho uma caidinha por vilões.
Mesmo com o final meio desamarrado e muito rápido considero essa uma das melhores leituras que fiz, e indiquei para todos para vários amigos. Acabou que Nosferatu virou meu livro xodó de cabeceira e creio eu que nunca sairá de lá. É uma leitura gostosa e muito fácil, sem contar que a parte estética do livro é maravilhosa. Creio que nenhum leitor irá se arrepender desse livro ou de qualquer outro do Joe Hill. Como eu sempre digo, tal pai, tal filho!