Título: O Despertar do Príncipe
Autor: Collen Houck
Editora: Arqueiro
Ano: 2015
375 páginas
Colleen Houck ficou conhecida a partir de “A maldição do tigre” obra a qual não tive contato, portanto me deparei com “O despertar do príncipe” Livro 1 da série “Deuses do Egito” com quase nada de expectativas a serem atendidas. A editora Arqueiro me enviou um kit maravilhoso com o livro, marcadores, bottons, etc que alimentaram minha vontade de desvendar o Egito através dos olhos de Houck, porém todo esse investimento estético e publicitário na obra acabaram funcionando como uma compensação para o fiasco que foi a minha experiência com essa leitura.
Sinopse: Quando a jovem de dezessete anos, Lilliana Young, entra no Museu Metropolitano de Arte certa manhã, durante as férias de primavera, a última coisa que esperava encontrar é um príncipe egípcio ao vivo com poderes divinos, que teria despertado após mil anos de mumificação. E ela realmente não poderia imaginar ser escolhida para ajudá-lo em uma jornada épica que irá levá-los por todo globo para encontrar seus irmãos e completar uma grande cerimônia que salvará a humanidade. Mas o destino tem tomado conta de Lily, e ela, juntamente com seu príncipe sol, Amon, deverá viajar para o Vale dos Reis, despertar seus irmãos e impedir um mal em forma de um deus chamado Seth, de dominar o mundo.
O prólogo da obra me deixou bastante interessada, não conheço nada a respeito da mitologia egípcia e acreditei que meu contato com o livro iria aguçar minha curiosidade, porém esse entusiasmo durou poucas páginas. Uma das grandes falhas dessa obra é a falta de preocupação (ou preguiça) da autora em desenvolver seus personagens de forma mais aprofundada, essa é uma das razões pelas quais busco me manter afastada de séries, sagas e trilogias, tudo é muito raso, simplificado, elementos de uma história inacabada que devem se engradecer no livro seguinte. Acredito que mesmo em trilogias ou sagas, cada livro deve bastar, deve ter seu valor por si e não ser o pedaço de alguma coisa. Liliana é apresentada como uma garota irreverente, rica, esperta que passa por um momento de conflito com os pais e seu futuro. Amon é um príncipe egípcio que precisa cumprir uma missão e salvar o mundo, pouco se desenvolve a partir daí.
Aliás, Amon é apresentado de forma muito equivocada, o personagem parece ser capaz de tudo, enfeitiçar tudo, resolver todos os problemas, o que dificulta a descrença que o leitor precisa desenvolver para mergulhar em qualquer narrativa fantástica. Amon mostra-se quase invencível, super poderoso, isso impede que o leitor se identifique ou se preocupe com ele e seus problemas. É criada uma situação de quase morte para os dois protagonistas a qual é impossível torcer ou sentir por eles, pois o poder de Amon foi demonstrado de forma tão forte que fica claro que no último segundo ele fará algo que salvará todos. Houck peca bastante pelo excesso de Deus Ex-machina o que dessensibiliza o leitor para eventos futuros.
Essa situação de quase-morte (nada convincente) é utilizada como justificativa para uma transformação na personalidade de Lily, o que é mais um recurso narrativo bastante preguiçoso, ao invés de construir minha personagem e fazê-la se modificar aos poucos de acordo com cada evento, eu fabrico um acontecimento que supostamente deveria criar tensão (o que não é efetivo, pois é muito claro que ela será salva) e para fomentar uma transformação psicológica. Além disso, essa mudança é de uma garota aparentemente segura para uma menina apaixonada e boba que se pergunta se não é bonita o suficiente para conquistar seu amado príncipe egípcio que acabou de conhecer.
Em determinado momento de perigo acompanhamos a descrição dos sentimentos de Lily, de forma bem destacada, em itálico, o que denuncia que o que estamos lendo é seu pensamento. Porém a autora decide que é necessário escrever: “Esses eram meus pensamentos enquanto meu corpo afundava”. Qual a necessidade de enunciar o já descrito com uma informação já temos? Que funcionalidade narrativa há aí? Nenhuma. Isso se repete de diversas formas, ao passo que Houck deixa de lado a estrutura de seus personagens descuidada, ela se dedica a explicar incasavelmente informações que o leitor já tem
Outra coisa que me incomodou bastante foi o fato de ser Lily a única personagem feminina em todo o livro o que não seria um problema se ela pudesse existir por si mesma, a personagem acaba se transformando numa extensão de Amon, sua única função é servi-lo, dar energia a ele, sem isso ela não tem razão nenhuma de ser. É apenas uma mortal, um nada, cuja função é servir um homem, o deus sol, em sua nobre missão de salvar o planeta.
Com essa linguagem que passeia pelo machismo comum e estrutura preguiçosa, Collen Houck desperdiça uma boa oportunidade de abordar a cultura egípcia de forma inteligente. A autora apela para todos os clichês conhecidos de fantasias destinadas aos jovens adultos, tem a mocinha bondosa, tem o príncipe salvador e herói, tem a ameaça super vilanesca, tem iniciação de triângulo amoroso em que um dos rapazes é altruísta e tímido e o outro é charmoso e extrovertido, etc.
Como mencionei no início do texto, esteticamente o livro é impecável, a arte da capa chama atenção e é bastante convidativa, a diagramação está de acordo com o favoritismo de qualquer leitor, páginas amarelas e espaçamento adequado, porém a embalagem é vazia.
Se você nunca leu (ou ainda não cansou desses elementos conhecidos, talvez possa dar uma chance, embora existam livros bem melhores para tal). Sei bem que não sou o público alvo da autora, mas também reconheço que a experiência negativa que tive com esse livro não deve ser atribuída somente à minha faixa etária ou nicho literário ao qual eu pertenço. É de fato uma narrativa que joga na zona de conforto e que o que tem de novo a oferecer acaba se afogando em meio a tantos clichês.