Resenha: O Repouso do Guerreiro – Christiane Rochefort

OREPOUSODOGUERRIRO

 

Título: O Repouso do Guerreiro

Autor: Christiane Rochefort

Ano: 1980

Número de Páginas: 248

Editora: Abril

 

Brigitte Bardot interpretando Geneviève.

 

Falar sobre O Repouso do Guerreiro é sempre uma viajem muito íntima aos meus sentimentos, aos sentimentos da autora também, que escreveu com grande maestria sobre o amor. Sobre até onde uma mulher pode ir por algo em que ela realmente acredite. Certa vez me perguntaram o motivo desse ser o meu livro favorito, a resposta é sempre muito simples: “Nunca encontrei alguém que retratasse tão bem o amor quanto C. Rochefort nesse livro.” Muitos não compartilham da minha opinião, acreditam que nada tão destrutivo pode ser classificado como verdadeiro, infelizmente nem todos conseguem captar o que realmente está escrito nas entrelinhas, de forma muito gritante eu diria.

O livro retrata a história de Geneviève, uma estudante de medicina com uma queda para serviços humanitários, que se depara com uma herança de uma tia desconhecida que mora em uma cidade do interior. De viagem marcada para ver suas novas propriedades, ela já sonha com o orfanato que poderá fazer em um casarão deixado por essa tia. Chegando nessa cidade, ela escolhe o hotel mais próximo da estação de trem, pelo fato de estar chovendo e os únicos dois disponíveis não serem tão atrativos, talvez se ela soubesse que essa escolha mudaria a sua vida, não teria se importado em atravessar a rua.

Tudo começa a ficar interessante quando por engano ela entra no quarto onde Renaud tenta cometer suicídio, entrada essa que foi possível pelo fato de todas as fechaduras serem iguais, logo sua chave abre também a porta do quarto vizinho. Ao se deparar com aquele homem jogado na cama, Geneviève entra em desespero e é nesse momento que ela se vê perdidamente apaixonada, nesse primeiro encontro temos um detalhamento muito interessante de como o corpo imenso e desproporcional de Renaud causa um efeito muito forte na nossa protagonista.

“Quase tenho medo dele: não pensará em me perder? Para onde me arrasto? Eis que meu cérebro começa a abrigar noções irracionais de pecado, de queda, de vício, de perdição.”

As próximas páginas são recheadas de sexo, alcoolismo, brigas e fugas sentimentais. Geneviève se vê presa em um amor doentio, onde todos os dias é uma trama diferente, todos os dias uma representação mais mortífera de como Renaud encara a vida. E no meio de todo esse turbilhão emocional vemos a decadência, vemos ela se afastando de todos os amigos, da faculdade, do antigo namorado e de todos os seus ideais. A partir do momento que ele entra em sua casa, melhor ainda, em sua vida, tudo se transforma. Como ela mesmo diz: “Saí de um casulo e finalmente me transformei em borboleta e aprendi a voar”. Aprende a aceitar todas as exigências e todos os shows de quem ama, até que não pode mais. Renaud fica perdido quando em uma de suas tramas Geneviève não pode acompanhar, todas as noitadas, bebidas e cigarros acabam acarretando em um problema de saúde muito grande, onde ela encara a morte e seu companheiro a loucura de se ver só, sem a mulher que ele finalmente descobre amar.

O final do livro é muito emocionante, não cabe a mim contar, mas como aperitivo posso dizer que vemos uma Geneviève forte e renascida e um Renaud que finalmente decide o caminho que quer para a vida dele. Um livro extremamente realista, onde vemos as emoções humanas como elas realmente são, sem maquiagem, sem adoçamentos impossíveis, vemos um amor que todos corremos o risco de viver, que todos devemos um dia viver na nossa vida. É a entrega total de dois seres humanos, uma queda num abismo sem volta. E venhamos e convenhamos, quem gostaria de voltar? Quem depois de conhecer o amor quer outro sentimento?

Recentemente descobri que existe uma adaptação desse livro pra filme. Nunca assisti, mas deixo aqui uma cena, com um dos diálogos mais bacanas do livro.