Resenha: O Vencedor Está Só – Paulo Coelho

Título: O Vencedor Está Só

Autor: Paulo Coelho

Editora: Agir

Número de páginas: 400

Gênero: Literatura Brasileira – Ficção Policial

 

Antes de começar a falar do livro, acho que o mais justo seria dar uma introdução a obra falando sobre o autor. Paulo Coelho é o escritor brasileiro que teve mais exemplares vendidos em todo o mundo, de acordo com pesquisa feita em 2014 ele já havia ultrapassado os 150 milhões de exemplares. O que poucos sabem é que antes de se dedicar apenas a literatura, Paulo Coelho foi diretor, autor de teatro, jornalista e compositor.

Sempre ouvi de amigos leitores que Paulo Coelho é o tipo de autor que você ama ou odeia, não existe um meio termo. Não que eu concorde inteiramente com isso, mas o autor é polêmico, aborda temas diferentes e o desconhecido sempre causa medo, ou nesse caso algum tipo de repulsa. Mesmo existindo um grande preconceito com suas obras por parte dos brasileiros, internacionalmente ele é muito reconhecido. Notamos isso com o número de exemplares vendidos que citei mais acima. Meu primeiro contato com o escritor foi com a obra Brida e logo de cara me apaixonei pela sua escrita e profundidade, quando li O diário de um mago tive certeza que iria para o lado de quem aprecia suas obras e sua maneira maravilhosa de tocar a alma de cada leitor. Já li diversas obras dele então quando tive oportunidade de adquirir mais um exemplar, não pensei duas vezes. Como boa leitora ruim de grana que sou, sempre estou caçando promoções e andando nas livrarias da vida encontrei esse tesouro por apenas R$10,00. Não pensei duas vezes e comprei, escondido da minha mãe que sempre pegava no meu pé, dizendo que meu dinheiro era único e exclusivamente pra livros (tenho que concordar com ela).

Sobre a diagramação do livro não tem o que reclamar, capa dura, folhas amarelas, letra em um tamanho excelente para uma leitura agradável, esse é o primeiro livro da editora Agir que tenho contato, se todos os demais forem assim estão de parabéns. Não tem como negar que a estética do livro é o que nos chama atenção em um primeiro momento, em meio a diversos outros exemplares você sempre analisa primeiro aquele que mais te encheu os olhos. Por todos esses atributos já citados e por ser de um autor que eu gosto muito acabei indo direto nele, achei a sinopse interessante e resolvi que seria minha próxima leitura. Acabei demorando mais que o previsto para ler e o que posso já garantir é que tive um mix de emoções com a leitura, um pouco de decepção, com surpresa, com uma vontade enorme de concluir e ao mesmo tempo abandonar a leitura. Então vamos as minhas impressões sobre essa obra.

O Vencedor Está Só é um livro de tamanho considerável, hoje em dia poucas pessoas conseguem ler 400 páginas sem uma obrigação estipulada, aqui já encontramos algo bem interessante, o livro se passa em um período muito curto, apenas 24h! Você ficara impressionado com quantas coisas podem acontecer em um espaço de tempo tão curto. O cenário é o festival de Cannes e temos uma mistura muito interessante de personagens.

A história tem seu início muito antes do festival de Cannes com o então casal Igor e Ewa, ele um ex-militar que após a guerra conseguiu vencer na vida com muito esforço e dedicação ao seu trabalho, investindo na criação de uma empresa de telefonia em uma Rússia abalada, onde ninguém mais acreditava em seu potencial de vencer. Ewa no começo é apenas a esposa dele, uma figura secundária que vai ganhando cada vez mais destaque quando conhecemos melhor Igor, vamos notando que toda a sua base e sua estrutura advém do amor incondicional que ele sente por sua mulher. O sonho dos dois é construir uma casa bem afastada dos centros urbanos e viverem apenas dos lucros e do amor, mas esse sonho fica cada vez mais distante a medida que Igor fica mais viciado em seu trabalho. Esse é um dos motivos para que Ewa fique deprimida, enquanto seu marido está em reuniões de negócio, em viagens pela empresa, ela permanece só em casa, sem um propósito de vida, sem um motivo para prosseguir. Sentindo a aflição de sua esposa Igor tenta de todas as maneiras melhorar seu animo, em uma conversa ela revela que seu sonho era trabalhar com moda e seu marido para alegrar seus dias abre uma gigantesca loja para ela. Talvez se Igor soubesse que esse seria seu maior erro não teria feito isso. Sua esposa então torna-se uma viciada no trabalho igual ele e em uma das viagens para desfiles de moda acaba conhecendo Hammid H., costureiro da elite que acaba se apaixonando por ela. Por motivos sombrios que serão esclarecidos com a leitura do livro, Ewa decide deixar Igor e ir morar com Hammid, a pior decisão de sua vida. Temos formada a história que antecede o fatídico reencontro dos três no festival de Cannes.

Com a traição de sua esposa Igor se vê perdido, sem chão, não te mais motivo para prosseguir a sua vida então se vicia ainda mais no trabalho, é a única coisa que restou de sólido no meio do turbilhão. Quando Ewa vai embora leva consigo uma promessa de Igor, ele diz que vai destruir universos para ter ela novamente. Sabendo do que seu ex-marido é capaz de fazer ela permanece sempre alerta, mas o tempo vai passando e nada de ruim acontece, fazendo com que ela acredite que Igor a esqueceu, infelizmente para si estava enganada e após 2 anos de sua traição Igor começa a executar seu plano friamente calculado.

Com a passagem de ida e volta já garantida e apenas um objetivo em mente Igor vai atrás de Ewa decidido a destruir universos para ter sua amada novamente. Algo que achei muito lindo e é marca do Paulo Coelho é a definição de universo que Igor utiliza no livro, foi um dos poucos pontos que me reconfortaram com a leitura.

Sua primeira vítima é uma garota que vende artesanatos e esse personagem vai ganhar extrema importância na trama, o que achei super válido. A menina conta sua história quando percebe que vai morrer, tenta de alguma maneira tocar o coração de Igor que não será abalado. Utilizando uma técnica marcial ele a mata de maneira limpa e deixa seu corpo em um banco próximo esperando que alguém a encontre. Após cometer o crime manda uma mensagem para sua ex dizendo que destruiu o primeiro universo por ela. Ela será o primeiro de vários outros delitos que Igor irá cometer até chegar no seu objetivo.

Pode parecer que nosso personagem principal é um maníaco, que não tem nenhum sentimento de humanidade, mas fica claro que ele age por amor. De uma forma doentia mas é por amor. Ewa quando percebe o que esta acontecendo fica apavorada, sabe que seu ex é capaz de tudo e tenta alertar Hammid, que não lhe dá ouvidos nenhum, não sabe do que Igor é capaz.

Com o decorrer das páginas vemos um Igor beirando a insanidade até que um fato o demonstra que Ewa não merece todo o sacrifício que ele esta fazendo, sua missão deve ser concluída mas não da maneira como foi planejada anteriormente. Os planos mudam, os alvos não. O desfecho da história acabou me surpreendendo, valeu a pena deixar de lado a vontade de abandonar o livro.

Minha opinião pessoal é: Não foi o melhor livro do Paulo Coelho. Ficou muito comercial, parece um livro escrito as pressas, como se ele tivesse um prazo para entregar algo. Tem pontos positivos, tem citações e pensamentos maravilhosos como é de se esperar do autor, mas não chega a ser tão profundo como Veronika Decide Morrer ou até mesmo O Diário de um Mago. Aconselho a leitura, ela não é densa, só chega a ser entediante as vezes por conter tantos detalhes. Eu fiquei encantada com o Igor, achei ele simplesmente perfeito, um personagem excelente, se fosse real eu gostaria muito de ter a oportunidade de conversar com ele. Os demais personagens não tem tanta profundidade, a história do Hammid é bem interessante mas não vou me aprofundar ou a resenha vai ficar extremamente longa. Indico a leitura e espero os comentários com as opiniões de vocês.

“A gaivota voava por cima de uma praia no Golfo, quando viu um rato. Desceu dos céus, e perguntou ao roedor:
— Onde estão suas asas?
Cada bicho fala um idioma, o rato não entendeu o que ela dizia;mas notou que o animal à sua frente tinha duas coisas estranhas e grandes saindo de seu corpo.
“Deve sofrer alguma doença”, pensou o rato.
A gaivota percebeu que o rato olhava fixamente suas asas:
— Pobrezinho. Foi atacado por monstros, que lhe deixaram surdo e roubaram as asas.
Compadecida, pegou-o em seu bico, e levou-o para passear nas alturas. “Pelo menos ele mata a saudade”, pensava, enquanto voavam. Depois, com todo cuidado, deixou-o no chão.

O rato, durante alguns meses, tornou-se uma criatura profundamente infeliz: tinha conhecido as alturas, viu um mundo vasto e belo.Mas, com o passar do tempo, terminou de novo acostumando-se a ser rato, e achou que o milagre que tinha acontecido em sua vida não passava de um sonho.”

Retirado do livro O Vencedor Está Só.