Dando continuidade aos especiais do homenageado desse mês, falaremos sobre “Blade Runner – O Caçador de Androides”, clássico de 1982 que entrou para a história com um rico universo repleto de debates sobre humanidade e um curioso quebra-cabeça que atormenta a cabeça dos fãs até hoje.
Em 2019, após anos de escravidão os replicantes se rebelaram contra os humanos. Agora o ex-policial Deckard (Harrison Ford) é chamado para caçar e prender um grupo de replicantes fugitivos capazes de se misturar entre os humanos.
No roteiro divide-se o tempo entre a jornada dos replicantes para descobrir alguma maneira de impedirem sua morte, e a busca de Deckard por esses “androides”. Aos poucos um subtexto é introduzido levantando dúvidas sobre quem é ou não é uma máquina.
Como percebe-se, a estrutura se assemelha muito aos filmes noir onde temos um detetive particular assumindo uma missão contra a sua vontade. O filme sabe trabalhar bem essa ideia e consegue introduzir-nos ao mundo cyberpunk da trama, dando tanto destaque para o “herói” como para o “vilão”. Além disso, ele ainda consegue encaixar quebra-cabeças e desenvolver dilemas morais e debates filosóficos sobre a natureza da humanidade e do que nos faz humanos.
Visualmente esplêndido, “Blade Runner” chama atenção logo no início pelo elaborado design de produção e devido a sua direção de arte. Sabemos que filmes do gênero dependem muito dos elementos que compõem o universo, assim como “Odisseia no Espaço” e “Star Wars”, mas aqui o cenário tem uma proporção colossal desde a arquitetura até a construção de carros, conhecemos em detalhes um mundo sujo, caótico e sombrio que exala cultura americana e orienta. O mesmo se diz sobre os figurinos que misturam o futuro com estilo noir dos anos 30 e suas tão comentadas histórias de detetive.
A paleta de cores usada e os seus rebuscados ângulos só tem a oferecer ainda mais para a narrativa, complementando totalmente a arte do longa. Com fortes contrastes das luzes de neon com sombras das ruas somos levados para o ano de 2019 onde os eventos do filme ocorrem. O defeito se encontra em certas escolhas pretensiosas e artísticas demais que quebram a fluidez, como o uso de slowmotion exagerados em cenas de ação, além de sequências extensas demais e extremamente paradas.
Outro dos poucos, mas influentes problemas desse longa é sua edição, pois falta ritmo entre os enquadramentos, não sabendo evoluir bem os arcos dos personagens, sendo um mal sinal pois interfere no interesse do público no filme.
É preciso falar de seu elenco que é ótimo, com Harrison Ford em seu auge assumindo o papel do antipático e mal-humorado caçador de androides, enquanto Sean Young tem uma performance dramática como Rachel carregando muitos dos assuntos do longa, afinal ela é uma replicante que acredita totalmente que é um ser humano. No entanto, dentre todos eles, o show é de Rutger Hauer como Roy Batty, líder do grupo fugitivo de replicantes, enigmático, manipulador, humano e espirituoso, a atuação de Hauer ficou marcada como alguns dos momentos mais grandiosos desse clássico, principalmente em seu monólogo final.
Blade Runner pode ser considerado o longa mais pessoal e complexo de toda a carreira de Ridley Scott, pois tudo aqui foi bem pensado, desde a trilha sonora até os temas abordados, causando uma experiência imersiva para esse universo futurista e sombrio. Há ainda alguns problemas onde opta-se por um uso artístico exagerado que compromete o ritmo do longa e não casaram bem com a produção.
No geral, “Blade Runner – O Caçador de Androides” não é perfeito como muitos consideram, afinal existem problemas de ritmo e por diversos momentos tomou-se escolhas duvidosas e pretensiosas. No entanto, ele é um dos filmes mais bem elaborados já feitos até hoje, seja pela composição exterior quanto pelo conteúdo interior, tendo criado um universo rico que rendeu um quebra-cabeça que povoou a mente de muitos cinéfilos por anos e anos.