[Crítica] Boyhood – Da Infância à juventude

Em “Boyhood” Richard Linklater se mostra um visionário objetivo ao transformar um projeto audacioso em algo tão simples e agradável de ser acompanhado. O filme conta a história de Mason, mas poderia ser a sua; sem grandes acontecimentos, plot twists e personagens marcantes como “Boyhood” se transformou em algo tão especial?

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A obra demorou 12 anos para ser finalizada e este é sem dúvida seu grande diferencial. Linklater se juntava com sua equipe uma vez por ano e foi construindo a história de Mason, ao todo foram passados 39 dias filmando e 63 horas foram gravadas, criando uma série de curtas metragens.

O roteiro é tão bom que nem parece um roteiro, as conversas são tão naturais que temos a impressão que a câmera foi ligada e os atores começaram a conversar sobre coisas triviais, Linklater repete aqui o que acertou na trilogia “Before”, os diálogos conseguem ser simples e grandiosos concomitantemente, o filme é humanizado de tal forma que se torna impossível não se identificar com certas situações e se importar com aquelas pessoas que vemos amadurecerem bem diante de nossos olhos, além de criar uma atmosfera convidativa que arrasta o espectador àquele universo, fazendo-nos parte da história.

Ethan Hawke, já trabalhou com Linklater anteriormente nos filmes da trilogia “Before” e está fantástico nesse filme, de início o vemos como um pai jovial responsável pelos finais de semana divertidos, porém o passar dos anos trás o ex-músico a uma realidade mais pragmática e essa passagem acontece de forma muito natural, assim como com a personagem de Patricia Arquette que dá vida à mãe de Mason, uma mulher determinada tentando conciliar a faculdade com a criação dos filhos, é moldada por casamentos problemáticos, traz a tona questionamentos relativos à meia idade: o que fazer depois de já ter feito tudo?

Ellar Coltrane carrega a grande responsabilidade de ser o centro de um filme como esse, inicialmente ele é apenas uma criança interpretando uma criança, aos poucos vemos tanto Mason evoluir como pessoa quanto Ellar evoluir como ator e testemunhamos o jeito Linklater de dirigir na sutileza em que o ator chama atenção para si.

“You know how everyone’s always saying seize the moment? I don’t know, I’m kind of thinking it’s the other way around, you know, like the moment seizes us”

“Boyhood” é um filme de 2014 que já vem carregado de valor nostálgico, cheio de referencias às quais vários de nós nos identificamos como assistir Dagron Ball Z nas manhãs, acompanhar a saga Harry Potter, High School Musical e outros aspectos da cultura pop que nos modelam durante a vida. Esse filme é um tributo aos pequenos momentos, ao valor que uma história sem história possui, ninguém sabe apontar um único aspecto que fez Mason se tornar o que se tornou, gostar de fotografia, deixar o cabelo crescer ou cortá-lo. “Boyhood” é a prova que que qualquer um pode ser especial na sua mundaneidade, qualquer um pode ser Mason, por que Mason é só mais um garoto, como qualquer outro.

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