[Crítica] Desventuras em Série – 1ª Temporada

Atenção! Assim como os livros de Lemony Snicket são o seu mais fiel relato das desventuras vividas pelos irmãos Buadelaire, não recomendo a série àqueles que possuem um coração fraco, aos fãs de finais felizes e àqueles que buscam um alegre entretenimento para uma noite monótona. Dito isso, quem decidir continuar, a partir desse ponto está por sua conta e risco.

Quem já foi corajoso o suficiente de ler toda a série de livros escritos por Daniel Handler sob o pseudônimo Lemony Snicket talvez já tenha provado possuir a coragem necessária para encarar uma história tão cheia de reviravoltas, mas devo alertá-lo que a nova série da Netflix traz ainda algumas inesperadas surpresas.

A aguardada adaptação de Desventuras em Série começou modificando o visual preconcebido na mente de muito fãs, associado ao longa metragem sobre a série de livros lançado em 2004, o visual gótico atribuído ao filme foi substituído por uma concepção surrealista muito mais próxima, a meu ver, da atmosfera criada nos livros.

A trama conta a história de Violet, Klaus e Sunny, três irmãos que se veem diante de uma infeliz tragédia, depois de perderem seus pais em um terrível incêndio. Em busca de um recomeço, eles são obrigados a mudar para a casa do parente mais próximo, no caso o Conde Olaf, um ator fracassado que mal pode esperar para colocar as mãos na herança dos órfãos. Depois que as reais intenções do vilão vem a tona, Olaf acaba perdendo a guarda dos Baudelaire, que passam a pular de casa em casa, encontrando figuras inusitadas em seu caminho e com Olaf sempre em seu encalço, sob os mais ridículos disfarces. Com um total de 13 volumes, a primeira temporada engloba quatro livros de Desventuras em Série, sendo um a cada dois episódios.

Com uma história um tanto dramática em mãos a tática que Barry Sonnenfeld (A Família Addams) encontrou para suavizá-la foi permeá-la em um humor negro e um tanto infantil. O grande destaque da produção com certeza vai para a atuação de Neil Patrick Harris como o desagradável Conde Olaf, que em busca tornar o vilão ainda mais hostil e desprezível, do que o anteriormente interpretado por Jim Carrey. Harris foi capaz de transmitir a essência do Olaf que vemos nos livros, tão ruim que chega a um nível de divertido exagero, que é reforçado pela participação de seus capangas, ou melhor sua trupe de teatro, que reproduz fielmente e, arrisco dizer até mais profundamente, os personagens do livro, arrancando risadas pela confusão e pelo jeito atrapalhado com que lidam com suas pérfidas tarefas.

Não menos importantes são os irmãos Baudelaire, as atuações de Malina Weissman como Violet e Louis Hynes como Klaus, estão impecáveis, mas quem surpreende mais é a pequena Presley Smith como a adorável Sunny, a única que realmente pode falar o que pensa de tamanha desventura, reflexões traduzidas por meio de legendas divertidíssimas.

A Series Of Unfortunate Events

Com mais tempo para contar as histórias os personagens ganharam mais espaço. Fundamental para a trama Lemony Snicket, agora interpretado por Patrick Warburton (Rules of Engagement), é muito mais participativo e incrivelmente minucioso em suas narrações, com interrupções inteligentes e necessárias para o entendimento da história. Ainda tratando da construção dos personagens, K. Todd Freeman (Batman: O Cavaleiro das Trevas) apresenta um Sr. Poe que diverte por sua exagerada descrença nas crianças, dando sentido a frase seria trágico se não fosse cômico.

A série também esconde algumas surpresas, inserindo novos personagens, antecipando algumas participações e dando pistas que somente os mais fãs irão perceber. Com um incrível trabalho técnico, a produção une cenários muito próximos dos imaginados pelos leitores e figurinos que ajudam a definir a personalidade de cada personagem, aliás a conversa entre esses dois setores é perceptível, pois muitas vezes percebemos uma mudança na iluminação ou na cor das roupas que ajudam a reforçar diferentes momentos da história.

Desventuras em série
tem em sua essência o caráter de relato instaurado pelos livros e portanto possui licença poética, é um retrato delicado e profundo das desventuras experimentadas por três irmãos muito unidos. Com um roteiro ricamente elaborado a série da Netflix, traz os atores certos para os diferentes papéis e consegue achar o equilíbrio necessário entre a tristeza do realismo da história com pinceladas de um surrealismo divertido, se mantendo fiel aos livros.

REVER GERAL
Roteiro
Direção
Atuações
Direção de Fotografia
Direção de Arte
Sou do tipo que chora em filmes, séries e livros, por isso mesmo me considero uma apaixonada. Reparo em coisas que pouca gente presta atenção como figurinos, cenários e trilhas sonoras.