Mais uma temporada de Doctor Who chegou ao fim, e o Doutor mergulha ainda mais nas raízes da série clássica com inúmeras referências, arcos inteligentes, personagens bem construídos, críticas ao comportamento humano em sociedade, além da grande mistura entre terror, sci-fi e aventura.

Essa talvez seja a temporada mais complicada de ser dissecada, mas vamos lá.

Com um roteiro que explora não só a personalidade simples e simpática de Bill (Pearl Mackie) e os pesos e remorsos de Doutor (Peter Capaldi), como também a sua conturbada relação com Missy (Michelle Gomez) e dessa vez com um humor mais contido e sendo mais usado dentro do personagem de Nardole (Matt Lucas), temos um ano que pode ter trazido alguns dos maiores episódios da série até hoje.

O elo entre Doutor e Missy é complexo e profundo com uma mistura de amor, ódio e um certo respeito entre os dois, mas nessa temporada ela alcança um novo patamar ao vermos os esforços do herói em acreditar nas palavras de sua grande inimiga e aos poucos, assim como o Doutor, vamos entendendo os atos dela que parecem dotados de um grande sentimento de culpa.

Há também o segundo elo e não menos importante do Doutor e de sua companion atual, Bill, uma garota simples, negra e homossexual, algo que contribuiu para comentários sociais modernos que Doctor Who sempre exaltou trabalhar e nos contextualizar com acontecimentos do mundo atual, entretanto, o que mais chama a atenção é o olhar da personagem, esperta, sentimental e um tanto nerd, Bill funciona como se fosse os olhos do público dentro da série, afinal ela diz, pensa e sente como cada um de nós e isso é especial de uma forma tão incrível que não há palavras para definir como é Doutor ter tido alguém como ela o acompanhando em sua última temporada.

Pois bem, falamos do script e agora devemos comentar sobre o elenco. Peter Capaldi retomou seu papel do herói e Senhor do Tempo ao lado de Michelle Gomez como a divertida e cínica Missy, além disso, tivemos um melhor aproveitamento de Matt Lucas como Nardole, um alívio cômico ambulante que está na linha tênue entre a covardia e a coragem e é um dos melhores personagens da série, ao lado deles ainda contamos com a adição de Pearl Mackie que em meio a tantos arcos e acontecimentos, ela brilha na estonteante, carismática e divertida participação da nova companion, Bill.

Os pontos mais altos como sempre estão entre Michelle Gomez e Peter Capaldi com suas interpretações intensas e dramáticas dando quase um ar de deuses para Missy e Doutor, ambos com uma química sempre ótima em cena. Outra relação que funciona muito bem é a do trio Capaldi, Mackie e Lucas que misturam diversos tons e estilos diferentes a partir de suas interações que vão do drama ao humor. Como se não bastasse tudo isso ainda tivemos John Simm retornando triunfalmente com sua versão de “O Mestre”, com estilo, carisma, humor e arrogância característicos dele.

A fotografia da série se mantém a mesma dos anos interiores, com o uso de ambientes sombrios e cheios de contrastes com sombras fortes que criam um visual característico da personalidade do Doutor. Quanto aos movimentos de câmera não há nada fora do comum, sabendo se movimentar rapidamente e girar pelo local para dar o tom frenético da aventura e em outros momentos opta pelo uso de movimentos suaves e calmos, desenvolvendo aos poucos o suspense de seus episódios e, claro, sempre há um bom uso de closes fechados, tudo para captar o melhor de seus personagens.

A direção de arte continua impecável, com figurinos interessantes em histórias como “Thin Ice” que se ambienta na Londres Vitoriana, como também em episódios científicos no espaço como “Oxygen”, ou em uma trama pós-apocalítica em “The Lie of The Land”, os cenários estão sempre ótimos, mas o que mais se destacou foi o do season finale de duas partes “World Enough and Time” e “Doctor Falls” ao explorar o interior de uma gigantesca nave com diversos ambientes extensos. Como não poderia faltar, sempre há um bom empenho dos artistas na construção dos monstros, seja com os “Guerreiros de Gelo” ou com os perturbadores “Monges”.

A direção da série também é ótima e não há um só momento em que possa ser constatado qualquer deslize, mostrando que houve um controle excelente do diretor, coordenando no último ano de Capaldi, uma das melhores temporadas da série, com uma mistura de terror, aventura e sci-fi que não se via há tempos.

Podemos concluir que a 10º temporada de Doctor Who se manteve fiel e bem coesa com a linha traçada desde a regeneração de Matt Smith em Peter Capaldi, além de concluir seu arco com Missy e consigo mesmo, entretanto ainda há algumas pontas soltas a serem desenvolvidas no épico final que será no especial de natal desse ano, onde veremos um encontro de Doutores com Capaldi e o 1º Doutor, David Bradley.

Agora tudo que podemos fazer é esperar pela regeneração e pela entrada da Doutora interpretada por Jodie Whittaker que chegará junto de um novo produtor e diretor com Chris Chibnall substituindo Moffat no próximo ano, prometendo um futuro misterioso para Doctor Who.

REVER GERAL
Roteiro
10
Direção
10
Atuações
10
Direção de Fotografia
9
Direção de Arte
9
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.