Christopher Nolan é um dos diretores mais influentes da atualidade, com variados filmes como a trilogia do “Batman”, “A Origem” e “Interstelar”, seus trabalhos, entretanto costumam dividir opiniões entre o público com suas fixações com o realismo, efeitos práticos, tensão psicológica, tramas grandiosas e trilha impactante.
Agora ele lança “Dunkirk”, filme de guerra sobre o desespero de uma histórica batalha que reúne cada um de seus elementos, mas de forma rebuscada e amadurecida.
A trama desenvolve a sua história em terra, mar e no ar, uma vez que aviões de combate da RAF – Força Aérea Real Britânica – assumem o combate ao inimigo no céu sobre o Canal da Mancha, na tentativa de proteger os soldados indefesos na praia.
O roteiro da obra é extremamente elaborado e de certa forma, complexo, dividindo-se em diversos arcos que são desenvolvidos em paralelo e aos poucos se interligam costurando os vários lados da história, sempre envolvendo situações extremas onde é preciso sobreviver a todo custo na medida em que a tensão psicológica parece crescer cada vez mais.
O grande charme do script é que apesar de não desenvolver personagens isso se torna ínfimo em comparação ao que se quer mostrar aqui, pois o objetivo é fazer a construção do que foi o sofrimento dos homens que estavam ali na praia, no ar e no mar durante esse caos. Para alcançar esse estado o filme usa diversos pontos de vista onde sentimos um pouco da história de cada um, além do tom de clímax escolhido que percorre do início ao fim, com poucos, mas relevantes momentos para que se respire entre uma tensão e outra, entretanto em uma ou outra sequência o longa chega a dar um certo cansaço mas nada que atrapalhe a experiência.
O elenco tem nomes como: Tom Hardy, Cillian Murphy, Harry Styles, Kenneth Branagh, Mark Rylance, Fionn Whitehead, Adam Long, Barry Keoghan, Jack Lowden, James D’ Arcy, Bobby Lockwood entre outros.
Como já dito, esse não é um filme de desenvolvimento de personagens ou de prevalecer atuações, portanto cada ator funciona ao propósito de compor o panorama da batalha, sendo que cada um tem o seu momento de contribuir, mas os que mais se destacam são Kenneth Branagh, Mark Rylance, Cillian Murphy, Tom Hardy e Harry Styles cada qual oferece uma atuação intensa e dramática representando pontos de vista da guerra com a visão do aviador (Hardy), dos soldados perdidos em meio à batalha (Styles e Murphy), os civis que se envolveram para ajudar os soldados de seu país (Rylance) e do Comandante (Branagh).
Um elemento que garante boa parte do sucesso da obra de Nolan está na escolha dos diferentes ângulos e movimentos de câmera, fazendo da direção de fotografia um dos pontos mais fortes do filme, afinal usa-se aqui enquadramentos e movimentos subjetivos que exploram as sensações humanas e nos ambientam dentro do desespero e loucura vividos nessa batalha, seja pelo ar, pela praia ou pelo mar. Há também um bom uso de tons de cores apáticas e acinzentadas que combinam com o teor sombrio e soturno da guerra, proporcionando assim uma experiência sensorial de alto nível para o público.
Assim como a direção de fotografia, a direção de arte também ajuda em muito a trama do longa, com usos muito bem-feitos de figurinos fiéis historicamente e que colaboram com a narrativa crua e realista explorada durante todo o filme, fora conseguir nos diferenciar bem cada núcleo da batalha, há também um olhar minucioso não só em seus cenários reais que nos dão uma grande dose de realismo, mas como também nos efeitos especiais práticos trabalhados aqui, tudo é tão real que quase podemos sentir o arrepio dos personagens em nós mesmos.
E como falar de uma produção de Nolan sem comentar do som?
Com uma mixagem e edição de som de primeira, a sonoplastia da batalha ganha forma e auxilia muito na hora de nos provocar uma destruidora experiência sensorial onde é ouvido por nós cada tiro e voo de caça como se estivéssemos vivendo a insanidade e o drama de cada um dos envolvidos ali. Como se não fosse o bastante, Hans Zimmer ainda nos brinda com uma trilha sonora épica e deslumbrante que combina perfeitamente com os efeitos sonoros e o tom da direção.
E para finalizarmos, um dos pontos mais importantes para a produção, a direção de Christopher Nolan.
Com uma direção grandiosa, dramática e realista o diretor alcança a maturidade como profissional além de descobrir uma forma de trabalhar melhor seu apelo por grandiosidade em um longa, direcionando bem os diversos arcos e comandando com maestria cada uma das inúmeras sequências de tensão que o filme proporciona e, por mais que seus arcos tenham tons subjetivos diferentes, tudo alcança um equilíbrio perfeito nas mãos de Nolan, se mostrando aqui como um grande realizador do cinema.
“Dunkirk” se estabelece não só como um dos melhores filmes do ano e do diretor, como também marca o cinema graças às experiências sensoriais provocadas pela trama de sobrevivência, nos apresentando um diretor mais amadurecido e que sabe organizar melhor seus conceitos de grandiosidade, realismo e efeitos práticos, os unindo de uma ótima forma dentro da proposta de trazer à tona a realidade que todos esses civis e soldados viveram durante a batalha de Dunkirk.