Crítica: Falcão e o Soldado Invernal

“Esses rótulos, ‘terroristas’, ‘refugiados’, ‘bandidos’, são usados para evitar a pergunta, por quê?”

 

A Marvel Studios iniciou uma nova era para seus super-heróis migrando para o streaming na fase 4 do MCU abrindo caminho para novos personagens e tempos mais obscuros, mas ainda mantendo aspectos clássicos de aventura, humor e fantasia do Universo Marvel que vimos nos últimos 10 anos.

O primeiro passo foi WandaVision que trouxe uma divisão entre as opiniões, mas ofereceu o desenvolvimento de Wanda e novos conceitos que deixaram muita gente empolgada no decorrer da história.

Agora havia chegado o momento de dar continuidade à cena final de Steve Rogers (Chris Evans) com Sam Wilson (Anthony Mackie) em Falcão e o Soldado Invernal e apresentar o caminho do novo Capitão América para se estabelecer em um mundo inédito após os eventos dos dois últimos Vingadores.

A trama parte do ponto de partida de Sam Wilson devolvendo o escudo do Capitão América ao governo por não se considerar digno o suficiente para carregar esse símbolo, ao mesmo tempo temos Bucky Barnes (Sebastian Stan) lidando com solidão e os remorsos de sua época como Soldado Invernal e a estreia de John F Walker (Wyatt Russell) como um Capitão América mais conservador e impulsivo, porém eles precisarão agora se unir quando um grupo revolucionário e anarquista chamado Apátridas surge causando caos no mundo.

A história feita pelo showrunner Malcom Spellman tira inspirações de diversas HQs como Truth: Red, White, And Black, All-New Captain America e muitas histórias envolvendo Sam Wilson e o Agente Americano para narrar uma trama que aos poucos começa a tocar em feridas do EUA como o apagamento de negros nos livros de história, além de um olhar sensível para os transtornos de Bucky e para desenvolvimento de questões sociais sobre pessoas desamparadas no mundo.

O roteiro só encontra alguns problemas em seu centro e alguns arcos apressados, pontos onde o enredo passa incorporar muitas ligações do MCU e acaba desviando em certo momento do foco de Apátridas, Sam e Bucky, ainda que traga momentos que evoluem os personagens ao mostrar o caminho cinzento de John Walker em seu desespero para se tornar o Capitão, enquanto temos diálogos interessantes de Karli Morgenthau (Erin Kellyman) com Sam Wilson sobre os problemas vividos por pessoas sem privilégios no planeta.

É nesse lugar que entra o trabalho de certos nomes do elenco, Daniel Bruhl rouba a cena como Zemo, Emily VanCamp é interessante com sua nova versão de Sharon Carter, além de Erin Kellyman ser claramente uma estrela em ascensão.

 Mas quem brilha na série é tanto Anthony Mackie como Sebastian Stan que possuem tempo para explorar camadas e suas visões de mundo, sem esquecer das intensidades de Carl Lumbly como Isaiah Bradley e Wyatt Russell como John F Walker que se tornam parte de algumas das melhores e mais poderosas cenas da série.

A direção de Kari Skogland tem pontos altos e baixos, ela se sai melhor no drama dos personagens e na construção da relação entre Bucky e Sam que vai do atrito até chegar a uma bela e tocante amizade, porém quando se trata da ação ela não faz grandes erros, mas está sempre em um formato próximo do que os Irmãos Russo fizeram na franquia do Capitão América.

Porém, mesmo com seus deslizes é preciso realçar quão importante é essa produção e como ela é uma das poucas histórias desse Universo Marvel que se baseia no coração de seus personagens, há um cuidado em debater temas sociais e em criar uma evolução comovente para essas duas pessoas perdidas na vida se encontrando em paz ao praticar atos empáticos e inspiradores como heróis.

Falcão e o Soldado Invernal no final aponta para um futuro cheio de esperança com uma união cativante de dois parceiros improváveis no melhor espírito possível de um Máquina Mortífera ao estilo Marvel, além de provar que personagens que você se identifique podem nos impactar bem mais que qualquer cena de ação alucinante.