Moonlight é um dos longas mais cotados para o Oscar de melhor filme de 2016. Dirigido e roteirizado por Barry Jenkins a trama traz um estudo social acerca de um garoto pobre e negro que toma consciência da sua homossexualidade e precisa se manter vivo em meio as hostilidades que o perseguem.
Dividido em três partes, cada uma delas aborda um momento da vida de Chiron sendo eles denominados de; Garoto, Chiron e Negro, representando respectivamente a infância, adolescência e vida adulta. Como os próprios títulos sugerem, esse é um filme de amadurecimento e busca de indenidade. Quando criança, Chiron questiona seus gostos e vontades que aparentemente não se encaixam nos padrões dos outros garotos, além disso ele tem que lidar com a mãe que está sendo gradativamente corrompida pelas drogas. Em meio a essa loucura ele é acolhido pela empatia de Juan (Mahershala Ali) e sua namorada Teresa (Janelle Monáe) que o auxiliam durante quase toda a sua vida. Na adolescência, ele tem contato com a sua sexualidade, mas a reprime durante quase toda a sua vida. Adulto ele consegue encontrar uma forma de esconder seus medos e assumir a clássica figura de “durão”, mas ainda assim, lida diariamente com o seus desejos e anseia pela coragem de se libertar.
Se há um clamor por representatividade LGBT no cinema, esse longa ousa e rompe uma berreira, trazendo um protagonista que não tem de lidar apenas com a sua sexualidade frequentemente coagida, mas também lidar com o fato de ser um garoto negro e pobre, constantemente perseguido pela figura estereotipada do homem “machão”, sendo um contraste ainda mais pesado quando abordado na cultura da periferia.
Com uma mensagem importante em mãos, necessita-se de um roteiro bem amarrado para não se perder na própria ousadia e felizmente Barry Jenkins faz isso muito bem. As três fases da vida são bem divididas e funcionam de forma coesa com a trajetória do protagonista. Enquanto em “Boyhood” 2014 essa mesma divisão transmite a perenidade da vida em detrimento do tempo, aqui o resultado é bem diferente e dialoga com a busca do autoconhecimento que o personagem enfrenta.
Jenkins não acerta apenas no roteiro, mas também na direção que consegue envolver o público durante todo o tempo, enfatizando a importância de cada cena, além de conseguir expremir o melhor de seu elenco.
As atuações aqui são um dos pontos que mais me surpreenderam, apesar de Mahershala Ali e Naomie Harris serem os mais reconhecidos nas premiações, o três atores que dão vida a Chiron são simplesmente incríveis e transmitem uma veracidade comovente, mais do que isso, é difícil não perceber o belíssimo trabalho que eles fizeram em conjunto, uma vez que embora haja uma visível mudança fenotípica entre os atores, as performances são verossímeis e graças aos trejeitos, olhares e reações conseguimos facilmente perceber que o homem do final é o mesmo garotinho do inicio.
A fotografia é outro trabalho de grande mérito aqui no qual acompanhamos uma variedade significativa de movimentos de câmera bem elaborados e alguns que chegam a desconstruir certos paradigmas de outros gêneros. Frequentemente assistimos a câmera seguindo as personagens pelas costas em um plano médio criando uma anseia de perigo que na maioria das cenas não é correspondida, em outros momentos somos contemplados por close-ups em uma personagem, enquanto a ação acontece no lado oposto. Além disso temos uma coloração que gosta de deixar sempre uma cor em maior evidência que outras, sendo em sua maioria o azul ou rosa. A soma dessas técnicas agrega um ritmo intrigante que jamais permite que a trama fique cansativa.
A direção de arte é espetacular e consegue construir um belo contrate nos cenários, principalmente quando representa a casa bagunçada e carregada de Chiron e a simples, mas harmoniosa e aconchegante residência na qual vive Teresa e Juan. Os figurinos, cabelos e maquiagem trazem uma bela representação da cultura negra, que nos EUA é algo evidente já que culturalmente os negros se uniram em bairros isolados para conseguirem ter sua voz em meio a uma sociedade racista.
No incio do texto falei de representatividade, e nesse filme não faltam personagens negros para compor a história, mas mais do que isso, o diretor consegue elaborar uma estética 99% composta por negros, há exceção de um policial e dois figurantes em uma cena isolada, todo o longa é dominado por negros. Sendo assim Moonlight inverte os paradigmas e coloca o telespectador no local de um negro quando assiste um filme quase todo repleto de personagens brancos, a ideia aqui não é fazer um ataque ou defender um monopólio, mas sim inverter os papéis e proporcionar um impacto que gere empatia.
Por fim podemos dizer que Moonlight passa perto de ser um dos melhores longas no ano anterior, no entanto seu produto final não chega a ser um material tão impactante como obra cinematográfica, diferente por exemplo de La La Land ou The Handmaiden, ainda assim a mensagem trazida pela obra é importantíssima e por conta disso não me surpreenderia se for escolhido como melhor filme pelo Oscar.