Crítica: Morbius

A Sony Pictures apresenta mais um vilão do Homem-Aranha, e aí será que é bom?

É mais um filme introdutório de vilão, o Dr. Morbius, já tivemos o Venom que divide opiniões, acho que Venom abraça a sua galhofa, só não sei se pode ser visto como um vilão tão temeroso, já que é tão divertido. Morbius é mórbido, embora flerte ligeiramente com o terror, a produção conta a história do cientista Michael Morbius (Jared Leto) que na tentativa incessante de curar uma doença sanguínea acaba infectando a si mesmo com uma espécie de vampirismo.

Recentemente assistimos ao Homem-Aranha: Sem Volta para Casa que reviveu alguns vilões icônicos, e Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe), Electro (Jamie Foxx), Homem-Areia (Thomas Haden Church) e Lagarto (Rhys Ifans) que retornaram a franquia. Apesar de não ser muita adepta a comparação, mas você já imaginou como seria o Homem-Aranha enfrentando o Venom (Tom Hardy), Cletus Kasady (Woody Harrelson) e o Morbius (Leto)? Parece cômico se não fosse trágico…

Em tempos que vemos filmes ousados de vilões como o Coringa (2019) de Joaquin Phoenix, este roteiro de Burk Sharpless e Matt Sazama constrói uma trama enlatada com um anti-herói sem carisma. O texto é incoerente, pois não consegue nem se aprofundar nele como doutor e nem como vampiro, o seu melhor amigo Loxias Crown (Matt Smith) é um excelente ator, ele tenta dá uma carga emocional ao seu personagem, mas é possível fazer acontecer sem motivações? Como não há desenvolvimento ele tem apenas uma virada de chave de bom para mal e é tão rápido que não conseguimos digerir. A Dra. Martine Bancroft (Adria Arjona) é funcional aos desejos de Morbius e talvez seja desenvolvida e em um segundo filme enquanto isso, ela fica na sombra do vilão, os demais personagens são operacionais para prática da história.

Jared Leto recebeu um Oscar por sua atuação de Clube de Compras Dallas (2013), mas sua atuação em Esquadrão Suicida (2016) é tida como um dos piores coringas da história, uns dizem que ele foi prejudicado pela edição, outros criticam a sua atuação caricata do personagem, mas o ápice negativo em minha opinião, é sua interpretação como exacerbado Paolo Gucci.

O que prova que o fato de está perfeitamente caracterizando não significa que será entregue uma boa atuação, e na produção aqui é perceptível o esforço do ator, mas é uma construção retrocedente que me parece ter sido referenciada em filmes de super-herói dos anos 90.

Daniel Espinosa tem os pés no terror, certo? E Morbius é um vampiro, certo? Logo, pensamos que teremos algumas cenas de arrepiar, claro que nada nível James Wan, mas ao menos envolvendo alguns momentos de deixar a gente com os olhos vidrados na tela, o que também não acontece, o filme tem tanta falácia que até dá espaço para bocejar.

As cenas de ação são politicamente corretas para um filme de vilão e não ousam em nenhum aspecto, sem contar que o CGI é um pouco bagunçado, falta certa inventividade para mostrar suas habilidades que poderiam ser exploradas de tantas formas.

Porém, o filme opta por uma condução automática e desinteressante, faltando assim um certo domínio de cinema mais fantasioso ou apenas uma tentativa maior de brincar com o fato de estarmos diante de um vampiro de poderes biológicos desse mundo de heróis e vilões do Homem-Aranha.

Morbius era um personagem criado por Roy Thomas e Gil Kane baseado em uma ideia de Stan Lee, o conceito era ser um vilão do Homem-Aranha que fosse um vampiro de ficção científica que impulsionasse os limites das narrativas de quadrinhos, acabou não sendo um grande sucesso mas gerou um certo grupo de fãs, seja por sua natureza como um vilão de Homem-Aranha e até mesmo Blade, mas também porque possuía uma natureza trágica de um anti-herói que permitia artistas brincarem um pouco com o tom de um terror cheio de romantismo gótico nos quadrinhos.

A realidade é que Morbius precisa de muito para chegar ao patamar de um vilão memorável dentro da proposta fílmica e se dissociar de elementos tão genéricos, neste filme faltou uma melhor execução para entusiasmar os espectadores em ação. É cada vez mais óbvio que construir universo como forma de negócio de maneira automática sem entregar boas histórias pode levar o público à saturação, Morbius deixa a desejar e seu sucesso nas bilheterias e como franquia pode ser duvidoso, ao pensar na possibilidade de um segundo filme espero que seja um projeto para nos instigar e surpreender.

PS: Tem duas cenas pós-créditos.