Crítica: Morte no Nilo

Durante suas férias no Egito, Hercule Poirot (Kenneth Branagh) precisa investigar o assassinato de uma jovem Linnet Ridgeway (Gal Gadot) herdeira, um crime que aconteceu a bordo de uma embarcação no Nilo. Um crime, muitos suspeitos. Um visual deslumbrante, luxuoso e com muito mistério que desperta a curiosidade. Você nunca viu um crime assim. Será? É o que me pergunto após assistir Uma morte no Nilo eu acho que já vi sim, até porque Assassinato no Expresso Oriente (2017), também dirigido por Branagh se trata de uma sequência e filmes neste nicho têm muitos, né?

Mas, o que vem ao caso é falar sobre o filme e vamos começar pelas atuações podemos dizer que Kenneth Branagh atua, roteiriza e dirige e tem o seu mérito e conhecimento na literatura inglesa, um ponto para o filme. Ademais, o elenco tem papeis funcionais Linnet (Gadot) e Simon (Armie Hammer) formam um casal na história e levam seus convidados a um barco para comemorar o seu casamento, o primo Andrew (Ali Fazal), a melhor amiga (Letitia Wright) e sua mãe Salome (Sophie Okonedo), a madrinha Marie Van Schuyler (Jennifer Saunders) e sua acompanhante Mrs. Bowers (Dawn French). Além dos personagens envolvidos diretamente com a Linnet havia outros como o Bouc (Tom Bateman), sua mãe Euphemia (Annette Bening) Doutor Ludwing (Russell Brand), a ex- namorada de Simon a Jacqueline (Emma Mackey) e a criada o casal Louise Bourget (Rose Leslei).

A história baseada no famoso livro de Agatha Christie apresenta como fio condutor um assassinato em que todos têm razões para ter cometido um crime, o cenário difere do anterior Assassinato no Expresso Oriente em que era ambientado no trem e agora está em um navio nas águas do Rio Nilo, além de alguns pontos turísticos da cidade do Egito ser mostrados antes do assassinato, independente de ser um cenário aberto ou fechado um fator importante é a história.

O problema é a substância da história em que Poirot parece subestimar um pouco a nossa inteligência, as soluções rasas e fácies, por mais que o conto seja um tanto exagerado, o filme não oferece a construção, poderia ter sido mais ousado em trazer elementos para que o espectador pudesse criar suas teorias, acontece que recebíamos todas as respostas de bandeja e isto tornou a experiência monótona.

Filmes que misturam ficção policial, mistério e romance eles têm que ter charme e conversar com o público, este é o motivo de Entre Facas e Segredos (2019) ser um sucesso. Aqui o charme fica por conta do figurino que foi idealizado por Paco Delgado, ganhador de Oscar por Os Miseráveis (2013) e A Garota Dinamarquesa (2016). Lembra que eu falei a vocês dos pontos turísticos? É importante dizer que tudo foi construído desde Templo de Abu Simbel e o Rio Nilo não é o Rio Nilo, a gravação aconteceu nos lagos de Cleveland, nos Estados Unidos. Tanto o figurino quanto a ambientação é um ponto a se destacar no filme.

Entre os aspectos técnicos temos a bela fotografia que embora caia no velho orientalismo de sempre, há o uso de cores quentes para criar esse Egito exótico que combina com todo o imaginário da época e que está presente na obra original, assim temos imagens muito nítidas em tela, sempre trazendo cores vibrantes em um cenário bastante limpo e que também remetem muito a um grande palco.

Além das cores outro elemento forte da fotografia se situa no uso da câmera na produção, sabemos que muitos diretores cismam em utilizar determinada câmera para gravar seus filmes, Kenneth Branagh não foi diferente: o diretor de Morte no Nilo decidiu gravar todo o filme com uma câmera 65mm, ideal para filmagens largas, isso trouxe resultados impactantes na linguagem audiovisual e faz com que os planos abertos acabem sendo um dos pontos que mais chamam a atenção na produção.

Morte no Nilo é performático e teatral e com bons elementos técnicos, mas uma história com condução óbvia que poderia funcionar bem no palco, já nas telas precisava ter lapidado um pouco mais.