Crítica: Mulher-Hulk – Defensora de Heróis (Disney+)

A Marvel enfim conseguiu lançar uma série que se pareça com o formato de uma série através de Mulher-Hulk – Defensora de Heróis, a nova produção da Marvel Studios que terminou sua temporada no Disney Plus.

Apesar de um início um tanto atrapalhado, a série aos poucos mergulha em sua abordagem e tom de comédia de advogados que se situa em um mundo de super-heróis e faz questão de brincar constantemente com a ideia de ser parte de um mundo onde o fantástico se tornou mundano gerando uma mistura de histórias cotidianas com o mundo de quadrinhos.

É um uso muito bom de autoconsciência e de um humor de exageros e sátiras, algo que se deve ao roteiro certeiro de Jessica Gao que já é acostumada a satirizar e abraçar caricaturas criativas através de Rick and Morty que lhe rendeu um Emmy pelo episódio “Pickle Rick”.

A direção contudo oscila um pouco tanto com Kat Coiro como também com Anu Valia, pois às vezes falta um uso melhor da montagem como recurso cômico das mecânicas do humor da TV como vemos em séries como Community.

Apesar disso há certos episódios onde a direção acerta muito bem seja em Coaxando e Saltando ou O Retiro que alternam bem entre ambientes e planos ajudando o humor e o desenvolvimento da personagem, além de escolhas interessantes para cores e para coreografias de ação mesmo não sendo esse um foco da série.

A temporada no geral trabalha através desses contos pequenos e episódicos com duas tramas ocorrendo em paralelo, e através de pequenas situações vemos se desenvolver um arco primeiro de aceitação de quem ela é Jennifer Walters até chegar em uma busca por felicidade em um mundo machista que não recua em dificultar sua vida e em julgar suas ações tanto como mulher ou como heroína e personalidade midiática, destaque para como insere reações reacionárias do mundo real dentro da produção.

Ao mesmo tempo sempre vemos um bom trabalho de metalinguagem de quebra de quarta parede, uma quebra que a princípio poderá lhe lembrar de Deadpool, mas curiosamente esse aspecto da Mulher-Hulk existe bem antes nas HQs e aqui tem um papel de mostrar não só essa sátira da Marvel como também demonstrar a personagem assumindo as rédeas não só de sua vida, mas também de sua própria série.

Caso você se incomodou com as demais séries seguirem um formato de clichês cansativos nos episódios finais levando sempre à uma corrida sem freios para salvar a cidade (ou o mundo), acredito que se sairá bem satisfeito pelo caminho que Gao faz no decorrer da temporada e em seu finale repleto de metalinguagem, comentários ácidos para a Marvel Studios e com escolhas corajosas.

Nada disso porém funcionaria se não tivéssemos a talentosa Tatiana Maslany como protagonista que esbanja carisma e timing cômico juntamente de um apoio sensacional com nomes como Josh Segarra e Giger Gonzaga como seu time de colegas advogados, além de ótimos convidados do MCU como Charlie Cox como Demolidor, Benedict Wong como Wong, Mark Ruffalo como Bruce Banner e Tim Roth como Emil.

Maslany brilha ao incorpora as inseguranças, dificuldades e falhas da personagem tornando ela muito cativante e divertida, aqui é o MCU retomando o conceito de que esses personagens são gente como a gente e eles são identificáveis com nossas vidas.

Jennifer sai em encontros, lida com casos complicados, experimenta novas sensações de vida e segue errando e aprendendo a cada passo em seu cotidiano sem perder o estilo da comédia de situações corriqueiras.

Talvez em meio aos acertos o que vai incomodar muito é o CG que melhorou muito desde o primeiro trailer, mas ele oscila com parecendo melhor em alguns episódios do que em outros distanciando o público, um problema que diversos estúdios enfrentam atualmente que necessita de mais debates e mudanças urgentes na indústria.

E um segundo fator importante é que se trata de uma sitcom, essa não é uma série focada em um público nichado de gibis ou voltado para ação e sim em um público de comédias da TV, comédias se tratam muito de cada pessoa e nem todo humor que funciona com alguém funcionaria com outra pessoa.

Talvez a grande lição que a série passa junto de Loki é que a Marvel precisa se comprometer mais com suas propostas e não se preocuparem tanto em agradar todos os públicos possíveis, alcançando diferentes nichos com sinceridade e assim prevalecendo à saturação dos super-heróis na mídia.

Mulher-Hulk – Defensora de Heróis termina sendo uma ótima série ainda que abaixo de Loki, mas com consistência em sua proposta já que aqui a resolução dos eventos vão em direção a sitcom e não perde-se em um típico final heróico e megalomaníaco. Com um maior número de episódios abraçando ainda mais a estrutura episódica e uma melhoria na direção e efeitos digitais, essa é uma produção com potencial de ser uma das melhores sitcoms da TV e uma das melhores séries da Marvel até agora.