[Crítica] Nightcrawler | O Abutre

“O Abutre”, dirigido e roteirizado por Dan Gilroy, conta a história de Louis Bloom, um cara que perde o emprego e precisa encontrar uma nova forma de se manter financeiramente, ele testemunha uma tragédia e observa repórteres gravando o acontecimento para venderem as imagens para a televisão e encontra nesse trabalho uma oportunidade de ganhar dinheiro, porém aos poucos isso deixa de ser um trabalho comum e passa a consumir a vida de Louis.

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O personagem de Jake Gyllenhaal, inicialmente é mostrado como jovem aparentemente desajeitado, porém com excelentes habilidades sociais, poder de persuasão muito forte, é determinado e se dedica muito até conseguir o que quer. Ele consegue fazer uma filmagem e a leva para uma emissora de TV a fim de vendê-la, consegue uma parceira e tudo começa.

Uma das coisas que mais me impressionou nesse filme foi a construção do personagem de Jake, o desenvolvimento do personagem conseguiu ser gradativo sem ser necessariamente lento, é fácil acreditar que o personagem que termina o filme é o mesmo que estava lá no início. Mérito de Jake que entrega uma performance que talvez seja a melhor de sua carreira até aqui, e deve levar uma indicação ao Oscar – esse trabalho não pode passar despercebido. Além da perda de peso que já confere ao personagem um aspecto disforme, o ator consegue estabelecer uma veracidade muito forte naquelas relações; é absolutamente hipnotizante ver Louis trabalhar gravando seus vídeos e principalmente vê-lo conseguir o que deseja se utilizando apenas de suas habilidades verbais.

“What if my problem wasn’t that I don’t understand people but that I don’t like them?”

A direção de Dan Gilroy é extramente sutil, a maior parte do filme se passa no período da noite, portanto há um clima de obscuridade quase o tempo inteiro. Não sabemos muito bem onde aquilo tudo irá terminar, só temos a certeza de algo ruim irá acontecer, esse foi o primeiro longa-metragem dirigido por Gildroy, o que me impressionou muito devido à maturidade e segurança transparecidas através do filme. A trilha sonora acompanha a cinematografia sendo minimalista e dark somando ainda mais tensão à narrativa.

Porém o filme não se resume a uma boa direção e Jake Gyllenhaal, ele também funciona muito bem como uma crítica à mídia sensacionalista que ganha seu dinheiro em cima do sofrimento e medo das pessoas que o assistem. As pessoas assistem aos noticiários para se manterem informadas e o que testemunham são barbaridades criminosas sendo televisionadas como se fossem desenho de criança. Há uma cena que me impressionou muito em que a bancada do jornal está transmitindo as imagens de Louis e recebendo direcionamento da produção de como deixar aquilo mais impactante do que as próprias imagens – sozinhas – já conseguem ser. Mesmo em se tratando de um filme norte americano, é muito fácil identificar esse tipo de jornalismo aqui no Brasil e perceber o quanto todos nós somos presas dessa rede sensacionalista que supostamente está propagando informação.

“O Abrute” era um filme o qual eu cultivava grandes expectativas, e que não decepcionou, é bem construído, bem ritmado, com personagens excêntricos e complexos, apesar a brilhante performance de Jake Gyllenhaal, o filme não necessariamente se volta somente a ele, todo o elenco de apoio está fantástico na construção dessa narrativa que além se ser um excelente entretenimento é também algo interessante a ser estudado e socialmente relevante. É um filme que tem algo a dizer e merece ser ouvido.