Crítica: No Fundo do Poço

No Fundo do Poço foi indicado ao prêmio de melhor filme canadense no Festival de Toronto (2019) e selecionado para SXSW 2020 (South by Southwest Film Festival). No elenco, (Alex Wolff) indicado ao prêmio de melhor ator no Canadian Screen Awards por sua atuação no filme.

Na trama, após a morte prematura de sua mãe, Rebecca (Neve Campbell), um adolescente torna-se amigo de sua vizinha carismática (Imogen Poots), mas problemática, e se envolve em um mundo de vício e violência quando uma epidemia de opioides toma conta do seu pequeno círculo de convivência.

É um choque a imagem de Rebecca (Campell) no filme, a musa de Scream (1996), nesta produção ela está doente e dependente de seu filho, mas no decorrer do filme fica perceptível que Henry (Wolff) também era dependente dela, abandonou a escola e tinha poucos momentos com a sua namorada Rachel (Star Slade), mas quando ela morre, quem é Henry? O garoto que tem o coração bom é tomado pela solidão a apesar de fazer parte de uma congregação judaica, ele acaba se distanciando, e o filme é um recorte do luto de sua mãe, e a falta que ela faz para dar sentido a sua vida.

No período de vulnerabilidade, o ser humano fica suscetível, e é justamente o que acontece com o nosso protagonista ele retoma o sistema de dependência com a sua vizinha a Ana (Imogen Potts) que representa o seu oposto e que passa a viver uma relação de troca negativa com o garoto, para ele ela é sua muleta e embarca numa relação destrutiva, fazendo-o cada vez mais conhecer o seu ciclo que é composto por drogas e relações tóxicas, por trás de seu sorriso, ela consegue manipular e coagir para que ele chegue em situação extrema.

O roteiro busca nos mostrar duas relações danosas, a primeira de Henry e sua mãe, é óbvio que ele deve ajudar durante o processo de enfermidade de sua mãe, mas ele não tinha espaço para poder viver a sua própria vida, e no caso de Ana é alguém sem limites que claramente precisa de ajuda e não pode ser suporte para ninguém, e por um momento a vida dele é fazer favores para ela colocando em risco a sua própria vida, é muito triste saber como alguém bom pode ser coagido dessa forma, a chegar ao ponto de não se importar mais consigo mesmo.

O filme é denso, escuro e chega a ser um pouco claustrofóbico, ficamos dentro do apartamento de Henry, visitando apenas a Ana, e saindo esporadicamente de carro, as escolhas fortalecem ainda mais a sua proposta de expor Henry focado em viver a vida do outro, essa história faz com que o espectador reflita: Até que ponto posso ir pelo outro?

A questão do amor próprio, é de suma importância para conduzir as nossas relações, para que não sejamos levados para “o lado escuro da força”, a escolha de quem nos relacionamos é importante para manter a nossa saúde mental, e para cuidar do outro, tem que se possível cuidar de si mesmo, a partir do momento que você se anula, é preciso rever, mesmo que o vínculo seja mãe e filho ou vizinho e vizinha.

Claramente, No Fundo do Poço é um filme denso, mas com conteúdo que embora tenha um fio condutor interessante, a sua condução se torna um pouco enfadonha, mesmo dentro de limitações dos diálogos expositivos, as atuações do elenco satisfatórias acabam resultando numa experiência aliciante.