Crítica: O Auto da Boa Mentira

Nascido na Paraíba, mas com Pernambuco em seu coração Ariano Suassuna continua vivendo entre nós, mesmo após sua morte, dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, professor e advogado ele contribuiu muito na arte e nas suas histórias que foi o que inspiraram essa obra O Auto da Boa Mentira que é o que vamos tratar agora, se derivou de suas entrevistas contando sobre essas mentiras e as decorrências que elas podem causa no cotidiano das pessoas.

O filme trata de quatro histórias inspiradas em contos bem humorados de Ariano Suassuna, cada uma delas criada a partir de frases do poeta, conhecemos Helder (Leandro Hassum), Fabiano (Renato Góes), Pierce (Chris Mason) e Lorena (Cacá Ottoni), vivendo diferentes situações onde, ironicamente, a mentira é sempre a protagonista.

A começar pela primeira história, quem nunca achou sua vida monótona demais a ponto de se imaginar vivendo a vida de outra pessoa? É justamente isso que acontece! Helder (Leandro Hassum) é um pacato funcionário na área de Recursos Humanos, ao fazer o check-in no hotel onde está hospedado ele é confundido com o famoso comediante Paulo Mendonça, porém o que ele não imaginava é a vida do artista não é tão boa quanto ele pensava que fosse. Aquela mania que temos de achar que sempre a grama do vizinho é mais verde que é nossa nem sempre procede, não é verdade?  A Caetana personagem de Nanda Costa vai cobrar umas pendências do passado e ele precisa provar a todo custo a sua inocência…

Já a segunda história traz Fabiano (Renato Góes) e sua mãe (Cássia Kis) num mistério circense em que Fabiano questiona a sua paternidade, ele é puro e sensível e sua mãe é sagaz, mas “quando o circo se fecha” ela precisa dizer a verdade, mas, a mentira protetiva pode? É permitido contar uma mentira para proteger alguém próximo?

Saímos do Nordeste para o Rio de Janeiro para embarcar na história de um malandro, o “gringo carioca” Pierce (Chris Mason) que atua como guia turístico no Vidigal. Mas, uma pequena mentira que ele conta, e que muitos devem se familiarizar com isto, pois quem nunca disse que ia checar se ia ao aniversário do amigo e acabou nem dando as caras por motivos banais? E ainda conta uma mentirinha para encobrir, o amigo da vez era o Zeca (Serjão Loroza), dono do bar, em que o Pierce costuma levar os gringos, por ter inventado de sido vítima de um assalto para não comparecer a festinha acaba se deparando com o chefe do tráfico de drogas, Chefia (Jesuíta Barbosa) que exige explicações e aquilo que parecia ser tão inocente acaba tomando uma proporção maior do que imaginado.

Por fim, vamos parar em um ambiente corporativo na área de publicidade em que Lorena (Cacá Ottoni) uma estagiária terceirizada se sente completamente invisível e sofre preconceito por nunca ter ido a Disney e não se sentir pertencida na empresa gerida por Norberto (Luís Miranda) que é um chefe egocêntrico e que não valoriza os seus colaboradores, na confraternização de Natal, Lorena decidi mentir domínio na língua francesa, mas a situação acaba fugindo de seu controle a partir disto, ela opta por falar todas as suas insatisfações diante de todos.

O roteiro de João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto, consegue trazer criatividade, aos “causos” de Suassuna. Talvez, a produção poderia ter cativado mais em um formato de série, já que as histórias não se interligam, bebem da fonte da comédia, mas são de diferentes tons e localidades, a decisão mais certeira poderia ter sido uma série antológica.

Apesar disto, o filme mantém a obra viva de Ariano o que é um ponto positivo, além de trazer a atuação inspirada de Jackson Antunes como Palhaço Romeu e destaque também para Renato Goés que é um orgulho de Pernambuco, minha terra, O Auto da Boa Mentira certamente vai causar identificação do público e fazer a gente se questionar se existe mentira boa ou ruim?