[Crítica] O Homem nas Trevas

Sou um grande defensor da ideia de que um bom longa de terror deve, acima de tudo se comprometer a entregar um bom drama, afinal só assim criamos empatia pelas personagens, sendo que qualquer coisa diferente disso tomba para uma mera exibição de efeitos visuais. O homem nas trevas entende muito bem isso e constrói uma narrativa consistente, envolvente e claustrofobia de forma excepcional.

A proposta do filme não parece muito inovadora. Um grupo de jovens problemáticos passaram os últimos dias furtando casas levando apenas objetos, sem envolver violência ou roubo de dinheiro. Acontece que agora ambos decidem que querem conseguir um valor suficiente para fugirem de suas realidades e começarem a vida do zero, e para isso resolvem assaltar a casa de um ex veterano do exército que hoje é cego e segundo os jornais o mesmo recebeu uma indenização altíssima devido ao acidente que causou a morte de sua filha no passado. Sendo assim esse seria o primeiro e último saqueamento envolvendo dinheiro e essa seria a vitima perfeita. A surpresa é que esse homem, mesmo que cego não é tão indefeso quanto imaginaram.

Logo pela sinopse já percebemos algo implícito que é muito interessante e de fato é desenvolvido no longa. Aqui não temos um vilão e um “mocinho”, tanto os protagonistas quanto o antagonista são colocados na mesma balança da ética, uma vez que nenhum deles possui uma conduta socialmente aceita, caberia assim ao público julgar quem de fato merece vencer essa caçada, porém o mais legal é que o filme evita ao máximo permitir que esse julgamento seja fácil.

Inicialmente o longa já se mostra consistente apresentando as personagens e suas histórias em menos de 15 minutos de exibição, sendo que todo o tempo posterior já é dedicado a invasão e perseguição que todos esperavam ver. Ou seja, mais pontos para o roteiro.

A fotografia do filme é funcional e elegante. Sabe usar muito bem os close up’s e alguns pequenos planos sequências com sutileza e no momento certo, que são essenciais para construir e compartilhar a tensão e desespero das personagens. Outra técnica muito utilizada é com relação aos ângulos de contra plongée, tanto para criar uma superioridade no senhor cego como também para sugerir dúvidas em relação ao que os personagens estão olhando.

 

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A direção de arte também faz um bom trabalho em toda a composição do cenário deixando a casa na qual a maior parte da produção é filmada com aspecto antigo e até mesmo sujo, sendo condizente com o enredo de quem ali abita. Há também uma forte predominância de uma paleta de cores alaranjada e acinzentada, mas sempre que há possibilidade de usar outras cores como o azul e o vermelho eles a tornam protagonista da cena casando-se perfeitamente com a fotografia e deixando o longa ainda mais requintado.

Por fim precisamos dar os devidos méritos a direção que nos entregou um filme que foge do convencional e não se prende na dicotomia de bem e mal, pensa além da caixa e envolve o público surpreendendo a cada minuto. Seu outro mérito é com relação ao trabalho com o elenco, que mesmo composto por nomes desconhecido, ainda entregaram ótimas performances transmitindo com maestria toda a atmosfera claustrofóbica da história.

‘Don’t Breath’ (titulo original) ou ‘O Homem nas Trevas’ é um filme despretensioso, que tinha tudo para ser só mais um em meio aos inúmeros longas de suspense e terror lançados esse ano, mas diferente disso ele se destaca e traz para nós uma experiencia maravilhosa que entrega o melhor do gênero e ainda nos permite refletir sobre nossos julgamentos perante ao próximo.

 

REVER GERAL
Roteiro
10
Direção
10
Atuações
9
Direção de Fotografia
10
Direção de Arte
10
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.