Pensei em varias formas de começar esse texto, mas sem duvidas a melhor seria descrevendo uma situação que vivi recentemente. Estava caminhando com alguns amigos pela avenida Paulista rumo a um evento que estava prestes a começar. No caminho algo muito inusitado prendeu nossa atenção. Tratava-se de um boneco “ensanguentado”. Ficamos curiosos e instigados com aquilo, mas sem duvidas o mais cruel de tudo era a mensagem que estava colada no chão “vocês prestam atenção nesse boneco, mas não ao mendigo atrás dele” não preciso usar mais palavras para descrever a nossa cara diante daquela situação. Ao nosso redor muitas pessoas continuavam passando, todas seguindo suas rotinas sem olhar para o lado, outras até chegavam a olhar por curiosidade e acabavam compartilhando do mesmo sentimento e angustia que nós. Acontece que conforme envelhecemos e amadurecemos ganhamos mais deveres e responsabilidades e junto disso novos objetivos, o problema é quando esquecemos das pequenas coisas boas da vida, dos simples momentos, das boas risadas que damos dia a dia e concentramos toda nossa energia em uma rotina pacata buscando apenas nossas mirabolantes realizações pessoais.

O Pequeno Príncipe sobre tudo fala exatamente disso, de como crescer, envelhecer e além de tudo amadurecer sem cair na mesmice da miséria humana, em que o nosso orgulho prevalesse acima de outras coisas. Como ser responsável sem deixar de se divertir e curtir os pequenos prazeres da vida, como lutar por seus objetivos sem abdicar daquilo que você já possui. Como andar em uma rua movimentada e não precisar de um boneco “ensanguentado” para despertar sua atenção para algo realmente importante.

 

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A direção do longa fica nas mãos de Mark Osborne (Kung Fu Panda) que fez uma belíssima adaptação desse clássico, transmitindo a mensagem do livro com um teor moderno, muito bem representado por meio da protagonista e sua mãe. Esta que é um reflexo claro de algumas famílias em que os pais reproduzem seus objetivos não alcançados na vida dos filhos, ainda que seja contra a vontade deles.

A forma com que o filme aborda a arquitetura da cidade é um dos pontos que se destaca. A ideia de uma casa é sempre valorizada por boa parte da população, porem no filme as mesmas são todas uniformes com uma coloração simples e designer contemporâneo, transmitindo portanto uma ideia de algo indiferente. Algumas cenas gravadas com um angulo de visão superior, demonstram de forma escrachada a rotina diária das pessoas que vivem naquela região.

Podemos dizer que a essência do livro foi muito bem captada e adaptada, e a reflexão clássica “O essencial é invisível aos olhos” é notável durante o longa. Ainda tratando-se da narrativa chegamos ao único erro da produção que acontece do meio para o fim, quando escolhem focar mais no lado fantasioso da historia do que no seu teor social e atual. Entretanto, enquanto temos essa pequena quebra no ritmo da narrativa, temos também uma trilha sonora impecável e marcante que torna a mensagem da obra ainda mais sensível.

O pequeno príncipe demonstra valores que enterramos nessa transição da infância para vida adulta. Nossos desejos passam a assumir o controle de nossas vidas e com isso as frustrações tornam-se iminentes. Os pequenos prazeres passam a ser insignificantes aos olhos daqueles que vem apenas seus objetivos grandiosos. Faltou pouco para perfeição dessa obra, mas ainda assim é excelente.

O filme chega nos cinemas de todo o Brasil no dia 20 de agosto.

REVER GERAL
Nota
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.