Considerada uma das séries revelação desse ano, Westworld abocanhou o título de primeira temporada mais assistida entre as série da HBO. Mas a que isso se deve afinal? Lembro-me de ter assistido um teaser da série no começo do ano e pensado: “Que série ridícula. Misturar ficção científica e velho oeste é uma péssima idéia.” Também lembro que depois de dois episódios tinha percebido o quão infeliz eu havia sido em meu pré julgamento. A premissa de um parque temático onde ricaços vão para “soltar suas feras” serve como o plano de fundo perfeito para uma missão muito maior, com que cada um de nós pode se identificar. A descoberta da autoconsciência.
Os dois primeiros episódios da temporada nos apresentam uma série de personagens incomuns, os humanos, que vão desde funcionários da empresa Delos aos visitantes mais entusiastas e os robôs, comumente chamados de anfitriões. Os robôs inconscientemente seguem uma programação que define o papel de cada anfitrião no parque, há desde prostitutas até bartenders, xerifes, pistoleiros, desbravadores e índios canibais. Comandando o parque com mão de ferro está o Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins), atuando como administrador e diretor criativo. Outras divisões da empresa são a Divisão de Programação, responsável por desenvolver e atualizar os softwares dos anfitriões e liderada pelo engenheiro Bernard Lowe (Jeffrey Wright), e a Qualidade, responsável pela parte burocrática e por garantir a segurança dos visitantes, é liderada por Theresa Cullen (Sidse Babett Knudsen).
As duas divisões vivem em conflito, pois enquanto a Divisão de Programação deseja tornar os anfitriões cada vez mais parecidos com os humanos, a Qualidade defende que eles devem permanecer como estão e que as várias atualizações podem ser prejudiciais para o código central das máquinas. Alheia a tudo isso está Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood), uma bela anfitriã que leva uma vida simples de camponesa até que uma atualização acaba permitindo que ela acesse memórias que deveriam ter sido apagadas. Dolores pede que seu interesse romântico, o pistoleiro Teddy Flood (James Marsden), a acompanhe até os limites do parque, mas o Teddy recusa, fazendo com que Dolores junte-se a William (Jimmi Simpson). William é um visitante de primeira viagem que pretende usar o parque como uma experiência de autoconhecimento.
Dois personagens importantes na trama são a anfitriã Maeve Millay (Thandie Newton), uma cafetina que percebe que o mundo em que vive é uma farsa e que fará de tudo para escapar do parque, e o misterioso Homem de Preto (Ed Harris), um visitante obcecado pelo parque e pelo segredo do “labirinto”. Essa coleção de personagens servem para contar uma história familiar ao público, seja através das obras de Isaac Asimov ou de filmes como A.I.: Inteligência Artificial e Ex Machina: Instinto Artificial. Ainda assim a série consegue “distrair” o espectador com os cenários e figurinos bem elaborados e uma narrativa única, mas que não fogem ao propósito de falar sobre os relacionamentos interpessoais.
A série apresenta dois paralelos interessantes, o primeiro é a diferença entre a consciência artificial e a biológica, enquanto a inteligência artificial dos robôs os regem para agir racionalmente, a inteligência dos humanos os impele a seguirem seus instintos mais primitivos, culminando em consequências terríveis para ambos os lados. Esse primeiro paralelo nos faz acreditar que uma revolução das máquinas não está muito longe, na verdade ela até já bate à porta. O segundo paralelo são as jornadas de Dolores e Maeve, as duas são anfitriãs que aos poucos adquirem consciência sobre sua condição de robôs, mas que lidam com isso de maneira diferente. Enquanto Dolores parte em jornada até o centro do parque buscando a resposta do enigma do labirinto, Maeve procura entender como o mundo fora do parque funciona e planeja sua fuga de Westworld. Para mim, Dolores representa a emoção, religião, filosofia, os mitos e Maeve representa a racionalidade e a ciência.
Westworld é uma série inteligente, que te envolve com várias questões que precisarão de resposta. O roteiro é bem escrito e uma vez ou outra faz menção a obras da literatura, como Shakespeare, a direção de arte é responsável por belos cenários e figurinos. A atuação é questionável algumas vezes, alguns atores simplesmente somem na tela já outros conseguem desempenhar seu papel com excelência. Em suma, Westworld é uma boa pedida para quem curte séries como Orphan Black e Black Mirror. Seus neurônios serão testados por essa produção que já promete ter um futuro promissor e uma segunda temporada ainda mais empolgante quanto a primeira.