Por que “Black Mirror” pode mudar sua visão de mundo

“Black Mirror” é uma minissérie britânica transmitida pelo Channel 4 que por enquanto está com duas temporadas de três episódios cada e foi renovada para a terceira. A minissérie aborda questões da cultura contemporânea  expondo suas ideias através de episódios independentes que questionam a super influencia das tecnologias no nosso cotidiano, provocando reflexões acerca das relações humanas de forma tão clara e exagerada que fica impossível de não se identificar com ao menos um episódio.

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O Piloto da série traz o Primeiro Ministro da Inglaterra – o homem mais importante do país – sendo colocado em uma situação complicada por conta do sequestro de uma princesa. O sequestrador fez com que a princesa dissesse em vídeo o que o Primeiro Ministro tinha que fazer para salvá-la, e seu pedido é um tanto quanto não convencional. O político então se vê num impasse em rede nacional, o vídeo circula o youtube e em 6 minutos que foi ao ar já se multiplicou pela rede, ele deve decidir se irá acatar as exigências absurdas do sequestrador que afetarão sua vida política e pessoal.

Nesse piloto o tema central é a força da internet em termos de comunicação e influencia de outras mídias, e introduz algo que será abordado mais profundamente no episódio seguinte, que é a nossa sede por entretenimento, buscamos o tempo todo nos divertir através da internet sem nos darmos conta do que acontece por trás daquilo que nos arranca gargalhadas.

Uma das coisas que mais mexeu comigo nesse primeiro episódio foi a cena na qual o anuncio é feito. Estão todos na frente da TV assistindo ser dito que o Ministro fará o que o sequestrador pediu e todo mundo comemora feliz da vida, não porque ele irá salvar a vida de uma mulher, mas porque irão ter a chance de ver um político famoso sendo ridicularizado em transmissão via satélite, ninguém liga pra princesa, ou pra o ministro, eles só queriam alguma coisa pra rir e comentar na internet… E se isso não traduz a nossa realidade, realmente não sei o que poderia traduzir…

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Todos os episódios têm em comum essa reflexão acerca das tecnologias e as relações humanas dentro desse contexto, o segundo episódio vai mais afundo na questão do entretenimento e da nossa hipocrisia, o terceiro e último episódio da primeira temporada mostra um casal que vive em um tempo em que todas as pessoas tem instaladas em si uma espécie de câmera que grava todos os momentos vividos pelo sujeito, o conflito consiste no fato de o namorado desconfiar de uma possível traição da namorada e começa a investigar sua vida através desse artifício desencadeando uma serie de brigas, talvez de uma forma uma pouco mais moderna do que um tal de facebook, que vocês devem ter ouvido falar.

A segunda temporada começa contando a história de uma mulher que perde seu marido em um acidente de carro e adere a uma tecnologia que substitui sua presença, o programa de computador recolhe todas as informações disponíveis em rede como conversas, fotos, áudio e reconstrói sua personalidade a fim de fazê-la interagir como se fosse a própria pessoa, é sem dúvida um dos episódios mais melancólicos da série onde, nos refugiamos na tecnologia para nos esconder das dores da vida real. Soa familiar?

Não vou me aprofundar mais nos episódios seguintes, para o post não ficar muito longo (e também porque “White Bear” o segundo da segunda temporada é o meu favorito da série, e quanto menos vocês souberem sobre ele, melhor), mas gostaria de deixar a indicação dessa série que faz um trabalho incrível em distribuir socos no estômago de qualquer de espectador – os fãs de um bom cinema certamente irão apreciar a audácia do tema proposto e o substrato reflexivo que a série carrega. Esta é sem dúvida uma experiência que merece acontecer, ser expandida e discutida. A tecnologia é algo magnífico e poderoso, capaz de nos engrandecer e nos destruir.

 

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