Ao falar de Supermax precisamos ressaltar que estamos lidando com uma produção predominantemente do gênero terror, e isso por si só já é de saltar os olhos, mas além disso, trata-se também de uma série que abusa do gore e recursos visuais para gerar o horror e é produzida pela rede globo. Boa ou ruim, estamos diante de um grande passo para o audiovisual nacional, uma vez que essa estética comum no exterior está prestes a ganhar visibilidade no nosso pais, isso é, através de uma grande emissora.
A premissa de Supermax é confinar 12 criminosos em uma antiga prisão de segurança máxima em que eles teriam que lidar uns com os outros, superando as provas e buscando aceitação do público para que só assim cheguem em um grande vencedor a qual será concedido o prêmio de 2 milhões de reais. Essa proposta é delicada e gera diversas teorias e possibilidades ao desenrolar dos episódios, pois alguns acontecimentos são quase impulsiveis, uma vez que realitys possuem uma estrutura de segurança enorme, além de claro, o contato com o público no qual qualquer deslize poderia ser percebido. Outro ponto complicado dessa estética é a presença de Pedro Bial e as constantes referências diretas ao BBB, que mesmo sendo uma inspiração, acaba por trazer um clima cômico que vai totalmente contra o que os trailers propuseram, e isso infelizmente compromete a experiencia do primeiro episódio.
O elenco causa estranhamento pois aparentemente não possui nenhum tipo de diversidade ética, social e até mesmo estética trazendo um incomodo imediato ao telespectador que conhece minimamente a realidade dos detentos no Brasil, porém a série parece justificar o uso de participantes celetos, e ainda surpreende com uma personagem transexual que acaba dando uma reviravolta na trama. Representatividade a parte, outro problema imediato são as atuações e os respectivos diálogos, que soam como ensaiados e muito elaborados, sendo inverossímil com algumas circunstancias apresentadas, mas felizmente esse é outro ponto que melhora rapidamente e atinge um nível agradável, com destaque total a Cléo Pires que além de surpreender na interpretação segura, possui também uma das personagens mais humanas e intrigantes da série.
O Roteiro como já dito antes, acaba lidando com situações delicadas por ter optado em simular um reality show, porém além disso ele também possui alguns problemas em lidar com o sobrenatural e ficção cientifica que muitas vezes se cruzam e o resultado não é tão satisfatório. Por outro lado, a produção brinca com a narrativa que varia entre um episódio e outro, bem como o gênero, que em alguns momentos entrega uma sequência angustiante de horror e em outros se mantem no drama ou se sustenta pelo suspense, mas nunca abandona a tenção da audiência.
A história das personagens é um fator importantíssimo aqui, afinal é através delas que criamos nossos laços entre público e personagem. Infelizmente a série perde uma grande oportunidade em conciliar a história da personagem com o enredo do episódio, formato esse que é muito explorado em séries como; Orange is the new Black, American Horror Story, Dead of Summer etc . Aqui eles são todos apresentados rapidamente em episódios diferentes, mas sem um grande vinculo com a trama atual, mas ainda assim o resultado consegue ser satisfatório, tendo desde casos bizarros como uma mulher que estrangulou o marido ao descobrir sua infidelidade, até uma mãe que foi negligente com o filho e não conseguiu impedir sua morte.
A direção de arte é elegante e extremamente competente sabendo elaborar cenários incríveis e manter a estética do ambiente condizente com os avanços da narrativa, as roupas e acessórios das personagens são ajustados junto das mudanças no desenrolar da história e isso é extremamente importante para evitar os erros de continuidade. A paleta de cores varia entre cinza e azul, deixando o ambiente pesado e sombrio, principalmente quando conciliado a maquiagem que segue deixando as personagens com aspectos cada vez mais cansados na luta pela sobrevivência.
Infelizmente a experiência online possui algumas mudanças em relação a televisão que não foram feitas de forma sutil, e sim, eu estou falando da edição, mais precisamente das transições de cenas que na tv são feitas com a introdução de uma trilha sonora não diegética que afunda até o fechamento da cena, já aqui na mídia digital isso é trocado com um corte seco que em muitos momentos DESTRÓI a atmosfera da cena e compromete a produção.
Supermax se mostra ousada até em excesso e chega a tropeçar em suas múltiplas possibilidades, mas aparentemente está sendo bem conduzida para um final coeso e envolvente digno de sua atenção.
Os 11 primeiros episódios estão disponíveis no Globo Play, enquanto o último episódio será exibido somente na televisão e assim que feito, nós voltaremos aqui para comenta-la com mais detalhes.