[FQVPV] Antes do Amanhecer, de Richard Linklater

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Este é o primeiro texto que escrevo para o blog, então peguem leve comigo. Escolhi falar de “Antes do Amanhecer” de 1995 porque quero estabelecer que não me proponho a escrever somente sobre lançamentos e filmes muito populares – não que esse seja desconhecido, mas eu particularmente gosto bastante de filmes mais antigos, não que esse seja tão antigo assim, mas acho que faz uma singela a intersecção entre o cinema pipoca e bom cinema dos anos 90 pra trás. Minhas reviews funcionarão basicamente como indicações ou não indicações e eu certamente indico esse filme para um determinado público que apontarei posteriormente.

A premissa fundamental de “Antes do Amanhecer”, primeira parte da trilogia que é seguida por “Antes do Pôr-do-Sol” e “Antes da Maia Noite”, consiste em um casal interpretado por Ethan Hawke e a atriz francesa Julie Delpy que se conhece numa viagem de trem e decidem passar o dia juntos até a manhã seguinte quando Jesse – personagem de Hawke – tem que pegar um avião, daí o nome do filme.

 Não vou me preocupar em descrever os personagens, pois acredito que conhecê-los na medida em que eles vão conhecendo um ao outro é um elemento importante para se deixar envolver pelo filme, a atmosfera simplista do enredo que conta apenas com esses personagens exige também a participação simbólica do espectador para terminar de compor o elenco, me encantei com a forma como fui abduzida pelos dois e me vi participando de seus diálogos sobre família, compromisso, sexo, relacionamento, sonhos e o futuro. A natureza desses diálogos segue o principio da realidade, o que contrasta com o Q de utopia trazida por todo o filme, e são eles – juntamente com o carisma dos personagens – os principais responsáveis pela qualidade do filme.

Visualmente é uma obra belíssima e traz bastante essa ideia de sonho, como se aquele dia fosse irreal: passar o dia inteiro perambulando pelas paisagens de Viena tendo diálogos substanciais acrescidos à excitação de conhecer alguém novo.

É sim um filme romântico, mas não se prende a isso, é um filme sobre a vida, sobre a juventude e sobre o conflito entre a realidade crua e dolorosa da separação e da realidade dos sonhos. Ethan e Celine sabem que seu tempo é limitado e o aproveitam da melhor forma possível. Se você gosta de filmes que priorizam o roteiro, simplicidade cinematográfica e de histórias que não terminam, esse é um bom filme pra você.

O final: Se você não viu o filme ainda, recomendo que pare de ler por aqui, vou dissertar um pouco sobre o desfecho do primeiro filme.

Depois de um dia inesquecível de muito crescimento emocional e intelectual para Celine, Jesse e, por que não, para o espectador, a hora da despedida se aproxima, os dois precisam voltar às suas vidas e acordar do sonho que viveram juntos, e fazem um acordo de não trocarem contatos e se encontrarem dentro de seis meses.

A decisão de não trocarem telefones veio de uma experiência pessoal – que inspirou o próprio filme – de Richard Linklater (diretor e roteirista) que viveu uma história como a de Celine e Jesse, ele passou um dia conversando com uma moça que havia conhecido, trocaram contatos, mas aquilo acabou se dissolvendo e desaparecendo, como Jesse e Celine achavam que aconteceriam com eles.

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Na ficção, Linklater não cometeu o mesmo erros e fez com que seus os dois protagonistas decidissem não deixar aquele dia morrer, e desaparecer em meio a telefonemas e correspondências, mas o desejo de reviverem era tão intenso que marcam de se encontrarem novamente.

Durante o filme inteiro me senti com eles, participando de tudo, e na hora em que tudo termina não foi diferente, me vi angustiada em apenas sentar e assistir aquela história ter seu futuro dissolvido em uma promessa, a química entre Ethan e Julie é cativante, a maneira como os dois se olham e sorriem um para o outro nos deixa claro do sentimento criado entre os dois, no filme não há declarações e juras de amor, isso não se faz necessário, é perceptível através da bela interpretação dos atores e no jogo de câmeras quase sempre exibindo seus rostos em planos próximos, para que o espectador veja o quanto aquilo existe, nem que seja só até o amanhecer.