Crítica: Loki (1ª Temporada)

“Para quase todas as coisas vivas, escolhas trazem vergonha, incertezas e arrependimentos. Uma bifurcação em cada estrada e o caminho errado é sempre o escolhido.”

A terceira série da Marvel Studios com a Disney+ chegou ao seu final, mas dessa vez com um saldo muito mais positivo e se estabelecendo mais como série do que como um filme longo dividido em várias partes, além de explorar um claro equilíbrio de uma narrativa contida que também atende aos desejos mercadológicos do MCU.

Como disse antes no Primeiras Impressões, a trama segue o Loki é levado para a misteriosa organização AVT (Autoridade da Variação do Tempo) depois de roubar o Tesseract, durante os eventos de Vingadores: Ultimato (2019), e usá-lo para viajar no tempo alterando a história da humanidade, terminando preso em seu próprio thriller policial.

Ali nesse cenário após longas conversas com Moebius (Owen Wilson), Loki passa a colaborar com a AVT e perseguir uma variante do próprio Loki que se autodenomina Sylvie e está causando diversos problemas e perturbando a segurança da Linha do Tempo Sagrada, nesse ponto que a série mostra seu potencial ao levantar a grande pergunta:

“Loki pode mudar? As pessoas são totalmente boas ou totalmente más?”

E a partir daí temos uma série de questionamentos e desventuras de nosso vilão precisando expor seu lado mais frágil e tentando descobrir se ele pode ser muito mais do que ele era até então, um arco melhor desenvolvido de redenção do que Thor: Ragnarok e muito mais sólido e menos confuso do que o traçado nos quadrinhos recentemente.

A cada novo episódio, Loki entra em conflito entre o que é conveniente para ele e o que ele realmente deseja, além de nos lembrar que muitas vezes suas atitudes eram uma fuga pessoal e que ele pode ser ardiloso, mas jamais o vilão mais cruel que já passou pelo Universo Marvel.

Um detalhe curioso é também como a narrativa usa todo o cenário burocrático e ditador da AVT para falar sobre opressão e até um pouco sobre classes sociais, mas claro que tudo isso é através de uma ótica de metáforas e simbolismos que desenvolvem esses temas em subtexto de ficção cientifica sobre liberdade e linhas temporais.

É preciso elogiar em tudo isso a estrutura de roteiro de Michael Waldron, eles são bastante simples mas com uma execução ótima que realça o essencial para contar a trama episódica e não se perder no arco geral dos personagens e da temporada, cada reviravolta pode não ser tão imprevisível se você prestar atenção aos detalhes, porém é muito bem construído e coerente com o material da produção.

Isso permite que a história possa ter momentos de respiro mas também capítulos cheios de suspense e do absurdo, isso tudo torna a série com maior fluidez, divertida e envolvente para o público.

Entre seus personagens não é apenas Loki de Tom Hiddleston que rouba a cena a cada minuto com sua abordagem do protagonista cheio de humor, carisma e drama, pois, Owen Wilson é outro que ganha muita simpatia graças à uma química incrível com Hiddleston. Entre outros membros temos Wunmi Mosaku e Gugu Mbatha-Raw trazem coadjuvantes com muito peso em cena que impressionam e nos fazem querer ver muito mais deles na segunda temporada.

Porém há ainda grandes surpresas como Sylvie de Sophia Di Martino que trabalha muito bem em ter tanto traços próprios como também semelhanças com Loki, a sua relação bizarra e sensível com Tom Hiddleston é um dos pontos mais altos da temporada que a principio parece um clichê mas é muito manobrado pelos roteiros nos episódios finais.

E também temos algumas performances marcantes em episódios com Jonathan Majors e Richard E. Grant que se tornam o centro de seus episódios conseguindo emocionar e criar ambientes de muita tensão para os demais personagens na série.

Nada disso poderia funcionar se não fosse também a direção segura de Kate Herron, o tom que ela traz é perfeito para o ambiente e os arcos da série mantendo a dinâmica do soturno com elementos de comédias absurdas e ficção cientifica, há sempre um trabalho cuidadoso com cenas longas e conversam muito tanto com o roteiro de Waldron como também com o design de produção e a trilha fantástica de Natalie Holt.

O último episódio inclusive conseguiu escapar de alguns problemas ao reverter a pergunta de “Loki pode mudar?” para “Mesmo que ele mude, as pessoas irão confiar nele?”, o final ainda oferece um momento anticlimático com comentários espertos sobre ficção e “criador”, tudo isso enquanto faz explicações cósmicas com um gancho digno de Além da Imaginação.

Loki se consagram assim não só como a melhor dessas produções da Disney+, mas também como um dos projetos mais promissores da Marvel Studios que deixará o público ansioso para os próximos capítulos da jornada de Loki pelo Multiverso enquanto ele enfrenta cada vez mais problemas.

Loki veio para ficar no MCU e quem saiu ganhando foi o público, que poderá ver o potencial dele enquanto ele sobrevive dia após dia.