[Top 5] Filmes Perturbadores de se Assistir

O cinéfilo parece ter diminuído sua sensibilidade com o passar dos anos, filmes com altos graus de violência, sangue, mutilação e morte tem perdido o efeito de assustar essa nova audiência. Muito disso se deve a popularização do gênero slasher, que com seus serial killers conquistaram respeito e até carinho de fãs ao redor do mundo. Freddie Krueger, Jason Voorhees, Leatherface e outros, são considerados os rostos do terror contemporâneo, conquistando seu espaço na história do cinema. Por mais sangrentos que seus filmes possam ser, alguns espectadores já não se assustam com os efeitos especiais e com os baldes de glucose e corante vermelho. Não desmerecendo esse gênero e seus amantes, me incluindo nessa lista, algumas pessoas precisam de um “algo a mais” para sentir náuseas ao assistir um longa metragem. Se você é uma dessas pessoas, vai gostar da lista de hoje.

 
O que leva o ser humano ao limite? A resposta é simples: O próprio ser humano. Ter um vilão retalhando vítimas indefesas é uma coisa, mas e quando o responsável pelas cenas chocantes é o protagonista, o “mocinho” da trama? Mais do que assustar com a técnica do “jump scare”, um diretor deve proporcionar ao espectador uma atmosfera tensa, desagradável até, e nessa atmosfera desafiar os limites do que é socialmente aceitável. Os filmes da lista fazem isso, desenvolvem situações que te fazem, desde esboçar uma careta e questionar o gosto duvidoso do diretor, até embrulhar seu estômago de náusea. Confira a seguir o Top 5 de filmes perturbadores de se assistir:

 

5 – Anticristo

https://www.youtube.com/watch?v=eBdDcQONmkM

 

Esse filme de 2009, com roteiro e direção de Lars Von Trier, tem uma popularidade baixa e avaliações negativas na página do IMDB e Rotten Tomatoes. Essa resposta negativa da crítica deu-se graças as controvérsias da produção, que apesar de uma belíssima fotografia, abusa no uso da violência física e psicológica. O enredo conta a história de um casal, interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, que também atuou em outra produção de Lars, Ninfomaníaca Vol. 1 e 2. O casal sofre com a perda de um filho pequeno, que morreu ao cair de uma janela, enquanto eles praticavam relações sexuais no quarto ao lado. A mulher, extremamente traumatizada, acaba por receber de seu marido a ajuda no tratamento, pois ele é psiquiatra e mostra-se cético ao atendimento que ela vem recebendo no hospital. O homem tenta entender as fobias da mulher, e para isso decide ir com ela para uma cabana isolada em uma floresta, a qual eles chamam de “Eden”. A mulher parece cada vez mais violenta e perturbada, exigindo sexo para aliviar a dor e o estresse do tratamento. Coisas estranhas acontecem, como uma chuva de sementes que atrapalha o sono do casal toda noite e em uma cena em particular, quando uma raposa conversa com o homem. Tentar entender a mente insana da mulher tem graves consequências para o homem que gradativamente também perde sua sanidade.  

 
Violência, nudez, sexo, sangue, tortura, mutilação, esse filme tem tudo isso. O maior destaque fica para o terror psicológico, ao mergulharmos na cabeça da personagem podemos descobrir lados obscuros da mente humana. A violência explícita foi duramente criticada, mas acaba por contribuir na identidade do filme e separá-lo de um simples drama. E, na minha humilde opinião, esse filme tem uma das melhores e mais dolorosas cenas de mutilação do cinema. Anticristo é um filme muito bonito que retrata temas fortes de forma nada sutil, um exemplo de que nem todas as críticas podem traduzir a qualidade de uma produção. Se Lars Von Trier planejava criar um filme que desafiasse o senso comum de bom gosto e fosse alvo de muita controvérsia, a missão foi cumprida com sucesso.

 

4 – Eraserhead

 

Eu nunca assisti um filme como esse e não sei se isso é ruim ou bom. Eraserhead narra a vida de Henry Spencer (Jack Nance), um trabalhador de fábrica que mora em uma zona industrial de uma cidade decrépita. Durante suas férias Henry recebe a notícia de que engravidou Mary (Charlotte Stewart), uma moça com quem teve um caso no passado. Mary deu a luz a um bebê deformado, que não passa de uma cabeça e um punhado de ataduras segurando seus órgãos internos. Os pais de Mary obrigam Henry a se casar com a moça e a assumir a criança. O bebê chora o tempo todo, o que deixa a mãe furiosa e violenta, e leva Henry a beira da insanidade. O primeiro filme produzido por David Lynch, com roteiro e direção pelo mesmo, foi lançado em 1977. Lynch é conhecido por seu estilo surrealista, onde seus filmes seguem um enredo não-linear e são carregados de surrealismo. O diretor sempre se recusa a dar todas as respostas ao espectador, ao invés disso ele faz uso de alegorias que são traduzidas de formas diferentes por cada pessoa, dando origem a várias interpretações.

 
O ponto forte deste filme é a atmosfera de pesadelo que ele apresenta, a luz do cenário é muito bem utilizada, iluminando certos pontos de um cômodo enquanto deixa outros na escuridão total. Os personagens são bizarros, sobretudo a família de Mary. A mãe da moça tem comportamentos estranhos, querendo beijar Henry a força em uma cena e em outra tendo o que parece ser um ataque epilético na mesa do jantar, enquanto os outros personagens só assistem. O bebê é grotesco, olhar para ele sem que o estômago embrulhe é uma tarefa difícil, e ouvir o grito insuportável dele durante quase todo o filme não ajuda em nada. Entretanto o mais assustador fica a cargo das escolhas que o casal faz, como justificava às condições infelizes em que eles vivem. Uma coisa é certa, ao terminar esse filme você vai ficar encarando a tela, pensando: “O que foi isso que eu acabei de assistir?

 

3 – Holocausto Canibal

 

Holocausto Canibal nos mostra a viagem do antropólogo Harold Monroe (Robert Kerman) até o interior da selva amazônica, em busca de quatro documentaristas desaparecidos. Lá Harold encontra duas tribos, a Yacuno e a Yanomamo, os rolos de filme da equipe, sem falar de seus restos mortais. O antropólogo retorna à civilização com a notícia da morte da equipe, entretanto um estúdio de TV deseja levar as imagens do documentário ao ar. Harold mostra-se contra, pois a equipe forjou as cenas por aterrorizar os nativos, e decide exibir a gravação com os últimos momentos dos documentaristas para os executivos do estúdio, na esperança de que eles desistam da idéia. O filmes, dirigido pelo italiano Ruggero Deodato e com roteiro de Gianfranco Clerici, estreou em 1980 e se tornou um dos filmes mais controversos da história do cinema, sendo criticado por sua obscenidade e acusado de ser um filme snuff.

 
A idéia principal de Holocausto Canibal é chocar o espectador, com cenas fortes de violência. O filme consegue passar a idéia do isolamento das tribos que vivem na Floresta Amazônica, mostrando seus costumes e tradições, em paralelo, o espectador também conhece o caráter dos documentaristas, e muito da violência do filme parte desse (mau) caráter. A equipe invade o território dos índios, como se estivessem tomando para si, desrespeitando os costumes daquela sociedade. Amputações, estupros, nudez, sacrifício humano, decapitações, tudo isso faz parte desse filme controverso e que acabou pela proibição de exibição do mesmo em diversos países e na prisão do diretor Ruggero Deodato. O diretor teve que provar que não matou os atores durante a realização do filme para ser inocentado. O que mais me afetou nesse filme foram as cenas de crueldade contra animais. Seis animais são mortos durante o filme e o espectador assiste tudo de camarote, em cenas de embrulhar o estômago de qualquer pessoa mais sensível. Holocausto Canibal pode não ser a maior obra de arte de todos os tempos, entretanto ela faz uma crítica social válida: até que ponto pode chegar a crueldade humana, movida pela ganância.

 

2 – A Serbian Film: Terror Sem Limites

 

Esse filme é como uma viagem de montanha russa por tudo o que é considerado tabu em nossa sociedade. A Serbian Film, como o próprio título já diz, é um filme sérvio de 2010. Dirigido por Srđan Spasojević, que também desenvolveu o polêmico roteiro. O enredo nos apresenta Milos, um ator pornô aposentado que recebe uma proposta para trabalhar em um filme “artístico”. À ele é oferecido uma quantia milionária, entretanto Milos não poderá saber nada sobre o filme em que vai participar. O ator acha a proposta muito estranha, mas decide participar devido a problemas financeiros. Milos não sabe, mas acaba de assinar um contrato para atuar em um filme snuff, com temas como pedofilia e necrofilia. Ao descobrir o tipo de público a que o filme é destinado, Milos ameaça abandonar o projeto, mas não vai ser assim tão simples, pois sua família corre risco de morte, caso ele não cumpra sua parte no filme.  

 
Como descrever esse filme? Doentio? Perturbador? Perverso? Provavelmente nenhum desses adjetivos consegue traduzir a essência de A Serbian Film. Filmes snuff são produções que mostram tortura e morte de pessoas reais, sem auxílio de efeitos especiais. Por tratar desse tema é natural termos cenas fortes no filme, entretanto nenhuma expectativa é capaz de prever as cenas que são apresentadas no longa. Estupro, tortura, decapitação, pedofilia, necrofilia, consumo de drogas, nudez, sexo explícito, assassinato e suicídio são os temperos da grande controvérsia que é esse filme. Uma das cenas que merece destaque, ou menção desonrosa, se preferir, é o momento em que um homem realiza o parto de uma criança, e em seguida estupra o recém nascido. O filme é repleto de outras cenas chocantes e revoltantes,. O longa é rico em violência, para tentar compensar as pobres fotografia, direção e interpretação. Se você realmente quiser assistir A Serbian Film, esteja preparado para o que vai encontrar, pois não é à toa que ele está nessa lista. Você foi avisado.

 

1 – Nekromantik

 

Nekromantik é um filme alemão de 1987, dirigido por Jörg Buttgereist e com roteiro de Franz Rodenkirchen. O filme conta a história de Robert Schmadtke (Bernd Daktari Lorenz), o funcionário de uma empresa responsável por remover corpos de áreas públicas. Um dia encontram um corpo em estágio de decomposição em um rio, e a empresa onde Robert trabalha é chamada. Ao invés de levar o corpo para ser periciado, Robert o leva para sua casa e para sua namorada, Betty (Beatrice Manowski). O casal usa o corpo para fins sexuais, realizando o menáge à trois mais doentio do cinema. A vida de Robert toma uma reviravolta sombria após ele ser demitido de seu emprego e perceber que Betty está apaixonada pelo cadáver. Desesperado por sua atual situação Robert planeja tomar uma sombria atitude. A controvérsia sobre seu conteúdo sexual sobre o tabu da necrofilia acabaram por fazer o filme ser banido em diversos países, na época de seu lançamento.

 
Esse é um filme para ser assistido sem nada no estômago, caso o contrário o vômito será a consequência natural. Nekromantik divide opiniões, alguns críticos vêem a produção como uma obra de arte audaciosa, por tratar de um tema obscuro e pouco aproveitado, outros afirmam que é um exemplo de mau gosto, doentio e sem propósito. Assisti o filme e acredito que esse seja um dos piores filmes já feitos. O enredo parece ser promissor, mas o roteiro é a produção não ajudam. O forte de Nekromantik é seu flertar com a morte, que é apresentado de várias formas. Os elementos perturbadores acabam ficando a cargo do casal protagonista, que é totalmente perturbado. Eles se mostram totalmente livres de nojo e repulsa, fato percebido durante a cena de sexo entre o corpo e eles. Outro momento que reforça isso é quando eles estão almoçando normalmente enquanto o corpo está pendurado em uma parede enquanto jorra vertentes de sangue. Robert coleciona restos de pessoas em potes de conserva: olhos, corações, mãos, entre outros. O filme também tem cenas de estupro, crueldade contra animais, e suicídio. A única coisa boa foi a produção do cadáver que Robert “sequestra”, tão caprichada que põe muito zumbi de computação gráfica no chinelo. Apesar de Nekromantik não abordar outros temas pesados, ele garantiu o primeiro lugar na lista por não justificar nenhum dos absurdos que o espectador assiste. Outros filmes da lista usam do grotesco para ou passar uma mensagem ou fazer uma crítica social, mas esse filme não faz isso. Procurei uma análise psicológica do filme na internet que o explique e dê algum sentido,  mas acho difícil de um espectador não envolvido no meio psicanalítico capturar qualquer uma das mensagens no meio do caos que é o longa. Para mim, é apenas o grotesco pelo grotesco.