Crítica: Harmonia Silenciosa

Harmonia Silenciosa é o novo lançamento exclusivo do Cinema Virtual, longa australiano que conquistou o Prêmio Queer no Mardi Gras Film Festival e venceu a categoria Melhor Filme Australiano no Melbourne Queer Film Festival.

Na trama, o guitarrista Noah (Reece Noi) se decepciona com sua carreira de músico em uma banda pop e decide voltar para a casa de sua mãe, com quem tem constantes brigas por causa de velhas feridas.

Até que Noah se encanta por Finn (Yiana Pandelis), um jovem trans e surdo, que luta para manter aberta sua boate para pessoas com deficiência auditiva, contudo à medida em que se aproximam, eles tentam se comunicar de maneira verdadeira, ainda que em linguagens diferentes.

Essa é uma história sensível e que lida com aspectos bastante delicados tanto da sociedade como também de dramas psicológicos internos de ambos os personagens que vem de mundos bem distintos e lidam com problemas bem diferentes no seu cotidiano, algo que acaba contribuindo para a criação de uma relação emocional bem forte do casal.

Entretanto o roteiro encontra um problema por haver muito potencial de ambientes sociais a serem explorados dentro desse romance, mas em muitos pontos ele falha ou deixa a desejar quando se trata do conceito de se aprofundar em um homem gay estar se conectando com um homem trans, há certo ponto que o filme comenta sobre isso e das complexidades desse romance, porém não há um grande desenvolvimento nisso, além de um pequeno deslize na conclusão onde os grandes conflitos que percorreram a trama toda se resolvem de forma muito rápida.

Entretanto, o texto de Ally Burnham consegue acertar quando se trata de construir esses dois personagens extremamente opostos vindos de criações e perspectivas bem únicas, pois há uma clara diferença de como se dão os dramas familiares de ambos e de como suas vidas com suas famílias influenciam na forma de enfrentarem seus dilemas, o pai de Finn, Lewis (Todd McKenney) dá total confiança a ele em sua jornada de ajudar pessoas ao redor não dá pra dizer o mesmo da mãe de Noah, Angela (Paula Duncan) guarda muitas mágoas e desacredita Noah por vários momentos.

São nessas situações cotidianas e relações pessoais confusas que o filme ganha muita força e isso é um crédito da direção de Ian Watson que conduz muito os atores em cenas que variam do intenso para o singelo, além do fato que o elenco está imerso em seus papéis fazendo com que o público mesmo com poucas informações consiga sentir as emoções internas tanto de Noah como de Finn, assim como torna o romance realista e interessante conforme obstáculos surgem em suas vidas.

O filme também explora muito sobre a ótica de Finn e de sua condição como surdo, jamais tratando como uma deficiência ou exercendo um olhar de “pena”, mas procura mostrar as nuances dessa forma de ver e sentir o mundo ao redor se tratando muito mais de uma peculiaridade do que de fato um problema para o personagem, o que traz uma representação bem-vinda e muito necessária sobre a comunicação e vivência de surdos.

Harmonia Silenciosa é uma produção que consegue explorar dois personagens complexos e cheios de camadas de maneira tocante, enquanto nos apresenta duas formas de viver e de enfrentar problemas emocionais e familiares e mesmo que falhe em certos aspectos de relações LGBTIQAP+ e tenha um final apressado, a produção merece respeito pela maneira como lida com a surdez e evita estereótipos típicos de Hollywood.

Para assistir aos filmes, o público pode acessar a plataforma pelo NOW ou escolher a sala de exibição preferida em www.cinemavirtual.com.br e realizar a compra do ingresso. O filme fica disponível durante 72 horas para até três dispositivos.